quinta-feira, 1 de julho de 2010

Tempo, tempo, tempo, mano velho...

Bastou passar os olhos nas capas de revistas que estão nas bancas pra eu ver dois assuntos que estão sempre em pauta. Um deles é traição.
Nos últimos dias conversei com algumas amigas e várias delas falaram sobre a dor de ser traída e suas complicações. Impossível não me lembrar de quando isso aconteceu comigo e ver como o tempo, de fato, cura tudo.
Impossível também não pensar em como tudo o que acontece com a gente acontece na medida exata para nossa felicidade. Como diz minha Dinda, tudo é obra divina.
Claro que eu preferia que aquilo não tivesse acontecido, mas aconteceu e não havia o que fazer. Então eu passei a pedir a Deus para tirar aquela tristeza de mim. E eu sabia que era questão de tempo, embora seja afobada e deteste frases do tipo "dê tempo ao tempo". Se você tivesse passado por alguma coisa parecida, também ia querer que o tempo passasse logo.
O legal é que passou. Tudo sempre passa. E acho que é exatamente aí que está o segredo de viver bem: lembrar que tudo acaba. E que de tudo, só fica o amor.
Há 12 anos quando um incêndio destruiu a mercearia dos meus pais, passei a dar menos importância ainda às coisas materiais. Em vez de sofrer, eu só pensava em como Deus havia sido muito bom por não ter permitido que ninguém tivesse se machucado. Enfrentaria mil incêndios sem me abalar mas não aguentaria perder um dos meus pais.
Perder uma "sobrinha" e uma prima em menos de 3 meses foi um golpe muito mais duro que tudo o que imaginei na vida. Mas eu pensava em como Deus foi generoso por ter permitido que eu convivesse com a Vanessa por 10 anos e com a Lili por quase 20 anos. Passei a dar ainda mais valor aos meus amigos.
Por ter sobrevivido a esses 3 episódios tão doloridos em minha vida, sabia que era questão de tempo superar a tristeza de ver um relacionamento ir pelo ralo. Muitas vezes, quando eu estava bem triste, mas triste mesmo, eu falava "Olha, Deus, já tá na hora de acabar com isso, hein? Já tá ficando monótono." . Mas em nenhum momento quis dar uma de durona e dizer que não tava sofrendo ou então fingir que poderia aguentar aquilo sozinha. Ao contrário do que sempre faço, pedi ajuda a todos: meus pais, meus amigos...
Hoje o saldo disso é que os laços com essas pessoas ficaram mais fortes e eu me livrei de uma pessoa que jamais me faria feliz, pois éramos diferentes em tudo: nosso humor era diferente, nossos gostos eram diferentes e, principalmente, nossos valores eram diferentes.
Todas essas diferenças construíram um muro entre a gente e, quando percebi, não nos víamos mais.
Doeu ver vários sonhos se acabarem antes de nascerem, foi difícil me ver fora do álbum de fotos dele, mas durou pouco tempo. Ou melhor, durou o tempo suficiente para me fazer ver que tudo o que acontece com a gente acontece na medida exata para nossa felicidade.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O AUTORRETRATO

No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!

Mario Quintana (Apontamentos de História Sobrenatural)

Uma talzinha na sua cama

Sou capaz de apostar que você fez uma faxina daquelas para apagar qualquer rastro meu e não irritar a nova mocinha que vai dividir sua cama a partir de agora. Guardou minhas fotos lá no fundo da gaveta pra ela não ficar com ciúme de como eu saio bem em fotografias, especialmente quando o fotógrafo é você. É certo que ela perguntaria, com uma curiosidade quase esnobe, quem é aquela branquela, sem peito e de cabelo curto que insiste em ser linda quando está nas fotos que você faz. Será que você falaria que é sua ex-namorada? Ou mandaria aquela frase que tanto me irritava: é uma amiga, você não conhece. No início você se referia a mim como amiga, lembra? Eu fazia uma cara de brava e você fingia que nem percebia. E dava um beijo bem molhado, quase como um pedido de desculpa. Eu desculpava porque uma coisa que não aprendi foi ficar brava com você por muito tempo. Agora é outra que serve de modelo pra você. E minha curiosidade também esnobe me faz ter vontade de saber se ela tem tatuagem, se tem bundão ou simplesmente se é mais bonita do que eu. E quando eu penso muito nisso, fico pau da vida. Porque eu acho que qualquer outra mulher é sempre mais bonita do que eu, mesmo que eu garanta que sou autoconfiante e diga que minha inteligência me faz ser mais interessante do que qualquer biscate que te dê mole. E nem adianta dizer que ela não é biscate. Você sabe: qualquer mulher ao seu lado que não seja eu vira logo biscate, piriguete, ou vaca mesmo.

Será que a faxineira limpou bem a sala e não deixou nem um fio vermelho do meu cabelo no tapete? Torço para que tenha, pelo menos, uma coisinha minha que esfregue na cara da nova mocinha que um dia eu estive por aí. Que era eu quem dormia enrolada no edredom quando, em pleno julho, você ligava o ar condicionado. Por mais que pareça, isso que eu sinto agora não é despeito. E nem saudade, é só vontade de fazê-la saber que um dia tudo isso que você faz com ela, fez comigo também. Porque eu odeio pensar que agora é outra que dorme com a TV ligada e acorda com beijo no pescoço. Será que a mocinha gosta do seu abraço? Será que ela dá o devido valor aos seus braços imensos, que sabiam me abraçar do jeito exato que eu preciso pra ser feliz? Vai ver essa vaca aí nem percebe como um abraço desses é precioso. Ela talvez nem precise dele pra ser feliz.

Eu adoraria ser daquelas pessoas civilizadas que desejam ao ex-namorado toda a felicidade do mundo e que diz que fica feliz por ver o outro bem. Mas eu não sou civilizada e nem faço questão de bancar a educadinha. Por isso eu acho que a vaca que está com você agora não merece ser abraçada por seus braços enormes e muito menos ganhar seus beijos e suas marcas.

Se educada eu fosse, diria que torço pra que ela seja bem mais simples do que eu e saiba dizer a coisa certa e nunca te deixar embaraçado quando, cheio de planos pra nós dois, eu dizia que não dava mesmo pra viajar naquele final de semana porque tinha de trabalhar. Mas eu quero mesmo é que você não tenha vontade de viajar com ela, que deve ser meio burrinha e não sabe conversar sobre literatura. Se eu fosse menos presa ao passado, teria esquecido um pouco a dor que aquele outro imortalizou em mim e teria te curtido mais. Teria me entregado mais a você, que, de vez em quando, ficava assustado com minha frieza. Uma frieza que jamais existiu, que era só um jeito de eu fingir que não morreria no dia que tudo entre nós acabasse. Disfarce, puro disfarce. Não dá nem pra reclamar com você: sou boa atriz e você não tinha como adivinhar que eu era só sua, que muito antes de perceber, eu já estava mesmo entregue a você. Coloquei minha vida nas suas mãos, só não deixei você perceber. Disfarçada de super mulher, disse que era melhor assim: você seguir sua vida e eu a minha. O problema é que minha vida ficou aí com você, que agora deve estar dividindo com ela o lençol que compramos juntos. Se a vida fosse do jeito certo, a gente se esbarraria num sábado à noite qualquer, num barzinho do nosso bairro, cada um com um bando de amigos que parecem só falar besteira, e a gente ia se cumprimentar, aos poucos se afastar dos amigos fúteis e, já que houve caipirinhas e chopps, eu ia te falar que, apesar de ter conhecido um cara ótimo, que adora ler e me recomenda livros cult, eu queria mesmo era estar com você. Aí você ia mandar eu ficar quietinha e ia me beijar aquele beijo com gosto de chopp e tudo seria do jeito que deveria ter sido, não fosse meu jeito esquisito de sempre fugir do amor quando ele dá o ar da graça. E, em vez da mocinha, era eu quem estaria aí na sua cama, nessa madrugada gelada.

domingo, 13 de junho de 2010

FAZ UM TEMPÃO

Resolvi reler aquele livro que ganhei de amigo-oculto no Natal de 2003. Tomei o maior susto: seu cartão de Natal. Nosso último Natal. Você abriu seu presente, sorriu ao ler o cartão, mas não fez questão de guardá-lo, como fazia com tudo que ganhava de mim. Era um sinal, mas eu não reparei. Na verdade reparei, sim, mas era mais fácil fingir que tava tudo bem. Peguei o cartão e coloquei-o dentro do livro. Dias depois, achei a coincidência irônica: aquela também era uma estória de separação por desencontros. Hoje, tanto tempo depois, vou reler o livro pois já não me lembro muito da estória. De repente, senti sua falta. Fazia muito tempo que não lembrava de você. Não te amo mais há muito tempo, mas senti sua falta. Falta das coisas da gente. Tanto tempo depois, ainda lembro bem de nossa história. E essa lembrança de tanta coisa bonita é triste, porque não acabou por falta de amor: cada um pegou um avião diferente, desembarcou em terminais diferentes. E se a gente tivesse comprado bilhete junto? Como seria o hoje? Lembro de coisas sem ordem cronológica, como quem vê um álbum aleatoriamente. A primeira viagem de férias. O meu aniversário na casa nova. A tentativa de reatar viajando para o lugar de sempre. A última briga, sei lá porquê, vem mais vezes à minha cabeça: fui dormir na sala pra poder chorar em paz, pra você não desistir de ir só por pena de tudo que ia deixar pra trás. Doeu abandonarmos tantos sonhos. Sinto falta do filho que não tivemos, da tatuagem incompleta e da TV eternamente ligada no futebol. Também da sua mania de não dormir no escuro e de implicar com meu banho muito quente. Tenho saudade da gente e do tempo que nada era por educação ou obrigação. Lembra? Houve um tempo que a gente era espontâneo e carinhoso pra caramba. Saudade da salada da Chaika, do carinho "pé com pé", do beijo que a gente não podia negar depois da briga. Trato é trato: tem que beijar mesmo se estiver com raiva. Raiva? Que raiva, já passou... São dessas coisas que eu sinto saudade. Mas hoje é só saudade/ lembrança. E uma curiosidade imensa: por que você passou por mim e nem me cumprimentou?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

FRASES DE CHICO XAVIER

Frases do médium Chico Xavier que inspiram, consolam e trazem paz

A Revista Cláudia, na edição de Abril, trouxe uma matéria muito interessante sobre a vida do Mestre Chico Xavier. Uma parte que gostei muito foi a seleção de frases do médium, comentadas pelas seguintes pessoas: Marcel Souto Maior, biógrafo de Chico; Mario Sergio Cortella, filósofo; Dulce Critelli, filósofa; Coen Sensei, monja da Comunidade Zen Budista; Lidia Weber, psicóloga; Lidia Aratangy, psicoterapeuta; e Guiomar Alvanese, diretora do Centro Espírita Perseverança, em São Paulo.

Isto mostra o quanto a sabedoria de Chico Xavier ultrapassou religiões e culturas. Abaixo estão as frases comentadas. Vale a pena refletir.


"A virtude mais difícil de ser posta em prática é o perdão. Perdoar exige um esforço de autossuperação muito grande"
Dulce Critelli diz: “Chico convida as pessoas a se corrigirem em seus desatinos”. Para ela, perdoar requer humildade. A pessoa ofendida precisa reconhecer que teve alguma participação no mal que sofreu. Também deve renunciar à prepotência de imaginar que só o outro erra. “Temos de reconhecer que não somos intocáveis como deuses e abrir mão da supremacia em que o erro do outro nos coloca.”

"Casamento, para ser sólido, há de ser uma união de almas afins, mas, sem espírito de tolerância, casamento algum vai adiante"
Marcel afirma que tolerância é uma das palavras-chave da cartilha de Chico. “Ele ensinou a respeitar as diferenças, a administrar os desencontros da rotina conjugal.” Na união de almas, Lidia Aratangy lê uma ressalva: “Se ultrapassar os limites, a tolerância vira conformismo e submissão – e isso não pode existir entre almas que se casam de verdade”.

"Sem amor, não saberemos o que fazer com tanta conquista"
O homem já encurtou as distâncias, dividiu o átomo, interpretou o segredo da Lua e das estrelas”, diz Guiomar. Essas conquistas tanto podem tornar a Terra um mundo de delícias materiais como um inferno de dores morais. Sem amor, elas se esvaziam, não trazem segurança e paz.”

"Quando olho para uma pessoa, não estou olhando a sua condição sexual, estou olhando para alguém que me cabe respeitar, seja qual for a sua opção em matéria de sexo"
Para Guiomar, Chico atinha-se à alma, conhecia o ser humano e suas opções. “Ele repetia as palavras de Emmanuel, seu mentor: ‘A união sexual traduz a permuta sublime de energias perispirituais, simboliza alimento divino para a inteligência e o coração’. E sempre lembrava que essa permuta não se restringe à relação entre heterossexuais.”

"Agradeço todas as dificuldades que enfrentei. Não fosse por elas, não teria saído do lugar... As facilidades nos impedem de caminhar"
Marcel recorda que Chico era grato às dores e aos obstáculos da vida, considerava-os instrumentos de crescimento. Encarava os adversários como amigos estimulantes e definia suas doenças (catarata e angina) como enfermeiras. Em vez de se abater, ele se sentia instigado por tudo isso.”

"O homem que sabe envelhecer é uma luz para a comunidade"
Cortella interpreta o ensinamento do médium mineiro assim: “Iluminar caminhos em uma sociedade marcada pela pressa das ações e superficialidade das relações é tarefa dos mais idosos que tenham sido capazes de não perder a vitalidade mental nem a persistência moral. Os que sabem envelhecer adquirem uma sabedoria que tem como fonte não a extensão do tempo, medida em anos, e sim a intensidade da vivência, medida em sentimentos”.

"Ninguém tem o direito de se omitir. Cultivar uma flor, não poluir, estampar um sorriso, proferir palavras de esperança – isso pode parecer insignificante, mas não é"
Segundo Cortella, é um alerta para os riscos do biocídio, representado pelo desequilíbrio ambiental e humano e pelas pequenas mortes cotidianas da esperança e paz espiritual. “O ditado antigo ainda vale: ‘Os ausentes não têm razão!’ O que parece distração da vida prática e produtiva é o que nos dá sentido para não apodrecermos o futuro.”

"Os espíritos ainda não encontraram uma palavra para definir a dor de um coração de mãe quando perde um filho"
Para a ciência, a perda de um filho causa o maior desconforto emocional que podemos suportar. Para Lidia Weber, é dilacerante presenciar a morte daquele que deveria sucedê-la; uma dor que não termina”. Daí, é fácil entender por que os espíritos não explicam essa dor e por que Chico dizia que a oração da mãe arrebenta as portas do céu.

"Tudo passa, mas o remorso faz com que o tempo pare dentro da gente... O relógio não espera ninguém, já a consciência se recusa a avançar..."
Dulce explica que o remorso nos paralisa. “Ficamos cara a cara com os nossos erros. O ideal seria que ele nos fizesse agir para retificar o malfeito. Mas, por vergonha, o encobrimos a ponto de esquecer o que fizemos.” Ela diz que devemos nos absolver: “Sem nos perdoar, o remorso só nos fará queimar no arrependimento, sem chance de recomeçar”.

"Emmanuel sempre me disse: “Chico, quando você não tiver uma palavra que auxilie, procure não abrir a boca"
Quando criança, em vez de reclamar ou maldizer, Chico punha água na boca e afirmava ser a água da paz. Só a en­golia, conta Marcel, na hora em que passava a vontade de vociferar. O médium viveu o tempo todo com essa água na boca: “Trabalhou duro para fazer bom uso da palavra em livros e conversas com os visitantes do centro espírita”.

"Choro é para de quando em quando. Esse negócio de chorar todo dia não dá!"
Dulce explica: “Chico nos alerta contra a vitimização e impotência em que nos instalamos ao termos pena de nós”. É claro, diz ela, que ao chorar revelamos quanto somos afetados pelo problema e que aquilo que nos faz sofrer é importante. Mas pode ser só um meio de chamar a atenção.

"Façamos uma campanha contra a violência, a começar por nós. Tenhamos mais paciência em casa, no trânsito...
A monja Coen vê semelhanças entre essa lição e as do líder indiano Mahatma Gandhi, que dizia que devemos ser a paz que queremos no mundo. “Só atingimos isso com alicerces seguros”, afirma. Para chegar lá, ela sugere que sejamos corretos em ações, palavras, meio de vida, pensamentos, memória, concentração, esforço e meditação. Coen lembra ainda que “paz não é passividade, é atitude”.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

POSSO FALAR?

Minhas duas últimas semanas foram do tipo "tudo ao mesmo tempo? Será que eu aguento?": pela primeira vez na vida fiquei desempregada (além da preocupação com grana, ficar em casa sem nada para fazer é quase um castigo para quem é ligada na tomada, como eu) e meu afilhado passou 12 dias na UTI por causa da Dengue (momento Marketing Social: a Dengue mata, identifique e acabe com os focos do mosquito Aedes Egypt).
Mas não, não quero esquecer estes dias de tensão, aflição e insegurança. Ao contrário, quero lembrar-me deles para sempre, pois acredito que tenho a obrigação de aprender com os momentos delicados pelos quais eu passo. Quero ser uma pessoa melhor depois de cada dor. E toda vez que passo por algum episódio de perda, doença ou coisas do gênero, me vem à cabeça uma poesia chamada "Certas tardes", do Affonso Romano de Sant´anna, que fala assim : "
(...) Deus botou essas tardes na minha frente/ Para me ferir,/ Me extasiar./ Às vezes me distraio. Deus insiste: põe/ As tardes de novo em minha frente / Para que eu aprenda a morrer."

Abusadinha que sou, já senti vontade de falar com o poeta e sugerir que ele fizesse uma pequena alteração. Minha versão seria assim:
" (...) Deus insiste: põe/ As tardes de novo em minha frente / Para que eu aprenda a VIVER."

É que eu realmente acho que, tal como essas tardes do poema, os momentos difíceis por quais eu passo são "avisos" para eu aprender a viver de verdade. E isso quer dizer me preocupar com o que é importante, vital, indispensável. Minhas desavenças com a balança ou outras implicâncias com minha aparência são distrações que me fazem desviar do caminho da felicidade. Essas preocupações não me acrescentam nada, apenas me fazem sofrer e esquecer de tudo o que já tenho, já conquistei.

Se eu fosse enumerar quantas vezes me distraí pensando "quando emagrecer vou ser mais feliz" ou "se eu ganhasse mais minha vida seria melhor"... Quanta energia desperdiçada, quantas lágrimas inúteis.


Por que estou falando sobre isso? Por dois motivos. O primeiro foi porque ontem almocei com duas amigas e uma hora o assunto descambou, claro, para o quesito "aparência". Uma falou sobre a culpa que estava sentindo por ter enchido o prato de carboidratos. A outra disse que o namorado vive implicando com o imenso culote que ela "cultiva". Quando tentei argumentar que não é pecado sair da dieta, principalmente num sábado. Culpa engorda mais do que pizza com amigas ou que homem que não gosta do corpo da namorada não gosta mesmo é da namorada, quase fui linchada e acusada de traidora do movimento que todas nós mulheres participamos, o da eterna insatisfação com o corpo. Tentei argumentar que até bem pouco tempo eu também levantava a bandeira do "Só vou ser feliz de verdade quando ficar bem magrinha" e que meu lema era "não me elogie: eu sou gorda". E que passei a me amar quando entendi que há coisas na vida que valem bem mais do que um corpo esbelto. Só que elas não me ouviram e continuaram falando sobre como é triste não conseguir perder 2 kg, como é horrível ter 30 e tantos anos e não estar rica e independente financeiramente ("Pagar aluguel pra mim é a maior prova da minha derrota profissional"). Minhas amigas me assustaram por se mostrarem tão insatisfeitas com suas vidas. Perguntei se elas já pensaram em fazer terapia para tentar entender o motivo de tanta culpa, tanta cobrança. Uma disse que terapia é cara e para pagar ela teria de parar de malhar com personal trainner. Eu, que também já preferi ficar magra a ter uma cabeça legal, falei que tem hora que é realmente preciso escolher o que vai ser mais útil.

Todo esse papo me fez lembrar de como eu gastei tempo e dinheiro tentando entrar na "Maravilhosa terra dos magros e lindos". E de como foi gratificante descobrir que o passaporte para um mundo mais feliz é a tão falada autoestima: desde que cultivei a minha não me para nenhuma terra de sonhos, mas vivo de um jeito mais tranquilo, e que é bem mais fácil viver bem com o que tenho do que sofrer pelo que gostaria de ter.

Insatisfação, baixa autoestima, culpa... esses são temas recorrentes nos comentários das leitoras do outro blog para onde escrevo, o Mulherão, e este foi o segundo motivo de eu estar escrevendo tudo isso.
Tem menina que acha que se virar modelo GG vai ser mais feliz e a vida será um mar de rosas, um paraíso. Pizzas e chocolates serão itens obrigatórios na sobremesa. Exercícios físicos e dietas serão banidos do vocabulário. Também não será necessário olhar para dentro de si e tentar descobrir se existe algum motivo emocional para ter começado a engordar. Ela será aceita por todo mundo e, quem sabe, até por ela mesma.

Tem menina que jura de pé junto que é feliz com o peso que tem porque, afinal de contas, tem um namorado/ marido apaixonado. Como se isso fosse uma espécie de selo de garantia: sorria, você já tem seu namorado/ marido e não precisa se cuidar. Mas é tão perigoso colocar a felicidade nas mãos do outro..

À noite uma de minhas amiga me ligou. Ficara pensativa o restante da tarde e estava curiosa, queria saber se era verdade que passei a gostar dos meus pneuzinhos. Respondi que não, que meus pneuzinhos ainda me incomodam. Só que tenho tantas outras coisas para ocupar minha cabeça...

domingo, 23 de maio de 2010

QUEM PRECISA SER A MULHER MARAVILHA? OU POR QUE A GENTE SE COBRA TANTO?



Esta semana, como fazemos ao menos 1 vez por mês, duas queridas amigas e eu saímos pra bater papo. E tomar nosso chopinho sagrado, claro. Colocamos em dia nossas fofoquinhas, lamentamos nossas mazelas, e falamos muito, muito sobre a maneira como nós nos deixamos em segundo plano várias vezes.
Eu, que sou a "psicóloga fajuta" da turma, fui encumbida de "desenvolver o assunto". E então lancei a pergunta "Como você se relaciona com você mesma?" Vixe! Foi um festival de críticas às celulites, aos cabelos que teimam em não serem lindos, ao jeans que não fecha mais.
Em questão de minutos, deixamos de ser 3 alegres garotas descoladas, que moram sozinhas, falam outras línguas, têm cultura, para sermos as rainhas da baixa autoestima. Quem ouvisse a gente pensava "Três dragões que não devem saber o que é um homem há muito tempo". O detalhe: somos bonitinhas, cada uma tem um charme especial e uma agenda com vários rapazes interessantes. Encalhada é sua avó, tá?
Mas e daí? Simplesmente esquecemos de tudo que já conquistamos, das oportunidades que sempre pintam e nos levam adiante na vida profissional. Esquecemos, sobretudo, os elogios que recebemos dos tais rapazes interessantes. Tudo porque o jeans não fecha, porque a celulite não nos abandona ou porque justamente o carinha mais interessante não sabe de nossa existência.
Enquanto o papo fluia, eu tentava chegar à alguma conclusão. Não que isso fosse acabar com nossas neuras, e sim porque ali estava um excelente assunto para um post. Mas alguém consegue imaginar uma criatura que pensa que sabe tudo sobre psicologia, que já bebeu "alguns" chopps e ainda cisma em analisar o papo? Dá pra levar a séria alguma conclusão desta pessoa? Mas aqui estão algumas. E muitas fazem sentido. Se não fizer pra você, experimente ler depois de um vinhozinho. De preferência com outras amigas por perto.
Primeira conclusão : Mulher é tudo Igual. Tremendo clichê, eu sei, mas quero ver alguém desmentir isso. Todas nós temos os mesmos dilemas, as mesmas inseguranças ("eu sou bonita?","o que você vê em mim?","você me ama mesmo eu sendo gorda?").
Segunda conclusão: que nessidade absurda temos de um olhar aprovador do outro?
Por que a gente é assim? Por que eu preciso tanto da aprovação do outro pra me gostar? De onde vem essa necessidade latente de ser aceita (principalmente esteticamente) por alguém para, só então, eu me gostar? Que carência é essa que se faz maior do que eu mesma?
Racionalmente, eu e minhas amigas, e as amigas delas (e você, e sua amiga) temos mil argumentos para gostarmos de nós mesmas antes de qualquer outra pessoa, mas por que é tão difícil colocar isso em prática?
Alguma coisa está muito errada quando precisamos ouvir de alguém que somos bonitas. E por que essa ânsia em ter de ser bonita?
Quem, mais do que nós mesmas, sabemos o quanto já vencemos obstáculos, de quantos buracos já saímos? Cada uma de nós sabe quantos leões precisamos matar para estarmos aqui, vivas e cheias de garra. Por que precisamos que alguém faça um elogio para só então nos sentirmos felizes?
Por que é mais fácil acreditar no carinha babaca de ontem à noite - que jurou que ia ligar - do que no reflexo do espelho?
As respostas à minha pergunta foram mais ou menos essas:
*Quantas armadilhas eu teria evitado se prestasse mais atenção em mim;
*Quantas gargalhadas sonoras eu teria dado se não me importasse tanto com o que pensam de mim;
*Quantos amores eu teria vivido se não tivesse me precipitado e dito pra mim mesma "cai fora, ele é muito bonito pra você"...
Resumo: a gente perde tempo pra cacete por pura insegurança.
Claro que ninguém saiu daquele barzinho resolvida, ninguém virou a Mulher Maravilha, mas certamente passamos a nos policiar um pouco em relação às críticas que fazemos diariamente a nós mesmas.
Sei lá, mas desconfio de que nossos encontros devem deixar de ser mensais para serem semanais. Quem sabe não é o primeiro passo para sairmos dessa armadilha que é tentar ser perfeitinha e passar a curtir a vida como mulheres lindas que somos?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

EU NÃO SOU UM ET. OU SOU?

Sábado passado um amigo me perguntou como era possível eu, que sou "gente boa, bonita e super interessante" (palavras dele, hein? palavras dele) estar "encalhada". "Encalhada é o cacete!", foi o que, sutilmente, respondi.
Alguns minutos de risada depois, começamos a falar sobre isso. Ele insistia na frase "como uma mulher bonita assim tá aqui sozinha, de bobeira, sábado à noite?" Sozinha? De bobeira? Mas eu não estava com um amigo, batendo um papo cabeça, sob o céu de Copacabana, vendo a obra de um artista plástico? Pelas minhas definições, isso é uma coisa legal. Mas ele queria, mesmo, era saber sobre minha vida amorosa. Falei que não sou nenhuma Sheila Carvalho, mas tenho lá meu fã clube. Mas que isso não quer dizer absolutamente nada. Bem, deixando a hipocrisia bem longe desse blog aqui, claro que ser bonitinha, gostosinha e ter um bom papo conta ponto, mas não é a questão central.
-E qual é a questão central?
-É que o cara tem de me interessar também, oras! Acho que o básico para um relacionamento é o interesse mútuo e se o cara não me interessar, dificilmente rola um 2o encontro.
Aí, ele veio com aquele papo de que sou muito exigente, que deveria dar uma segunda chance caso conheça alguém e não me interesse de cara e tal. E então falei "Pô! Mas eu não tô desesperada por um namorado!
Foi complicado explicar que pra eu estar com alguém, tenho de gostar dele. Pra mim não serve qualquer um.
Ele ficou me olhando e disse : acho que qualquer hora um disco voador vem te buscar. Você é um ET!
Diante da minha cara de espanto, explicou: Toda mulher que eu conheço, inclua aí minha irmã e minha ex-namorada, quer a todo custo ter um namorado firme. Minhas amigas da faculdade, do trabalho, as amigas da minha irmã, todas, sem exceção, reclamam que tá difícil arrumar namorado. E pelas figuras que elas arrumam, serve, sim, qualquer um.

Bem, se sou um ET, não sei. E se for, que bom que não me levaram de volta pro meu planeta de origem (é que por aqui tem uns terráqueos que fazem meu tipo, sabe?). Mas vou continuar achando que namorar alguém só por namorar é, no mínimo, uma grande sacanagem. É mexer com os sentimentos da outra pessoa. Sem contar que relacionamentos são muito legais, mas também é preciso abrir mão de algumas coisas. E abrir mão do que a gente gosta por alguém que a gente gosta já é um tanto sacrificante. Imagine sendo por alguém de quem a gente não goste tanto assim?

-Então quer dizer que você não se liga a qualquer carinha?
- Não.
- Mas e quando você me liga dizendo que tá mal, que tava apaixonada e o cara sumiu?
- É diferente. 
- Doida. 

Tive de explicar que, em geral, meu sofrimento dura 15 minutos, às vezes mais e, na maioria das vezes, menos. E o que eu gosto mesmo é falar pra um amigo que estou péssima e então ouvi-lo dizer que sou linda, inteligente e que o fulaninho é que é um besta. Adoro quando meus amigos me consolam assim. É uma puta de uma loucura, reconheço. Mas louca mesmo é a mulher que conhece o cara e um mês depois deixa de falar "eu" para falar "nós".

Já reparou como tem mulher que se muda pra vida do cara e se esquece de quem ela era antes? Pra mim isso é que é coisa de outro mundo.

domingo, 16 de maio de 2010

O cara que conheceu outro cara.

Luluzinha que é Luluzinha não espera se encontrar para contar os "causos" e aqui está um belo exemplo. Minha amiga mandou um e-mail contando uma história (hilária) e que segue aqui na íntegra:

"Meninas,
lembram-se daquele cara que conheci pela internet? Aquele famoso que conheceu outro cara no metrô, deu pra ele e depois ainda disse que a culpa era minha?
Só pra recaptular: ele me ligou de madrugada, querendo ir lá pra casa e eu nem me dei o trabalho de responder: desliguei o celular. No dia seguinte ele me contou o que aconteceu: foi a uma festa com o tal cara que havia conhecido, o cara deu a maior cantada nele e tal. Ele, para "fugir" me ligou querendo dormir lá em casa (Freud explica). Aí depois se achou no direito de falar um monte e que se eu o tivesse deixado dormir comigo ele não teria feito sexo com outro homem.
Não sou de ouvir esporro de ninguém, mas tava tão engraçado que o deixei falar. Gente, só de lembrar da cara de otário dele falando isso eu começo a rir.
Como o mundo é uma quitinete, ontem entrei no elevador daqui do prédio e dei de cara com o cidadão. Acompanhado. De um homem, claro.
Sabe quando você fica aqueles 3 segundos pensando "conheço essa pessoa. De onde mesmo?" e até esboça um sorriso? Bem, foi isso que rolou. Eu dei uma olhada pra figura e quase falei "Oi". Estávamos assim: eu , o acompanhante e ele. O acompanhante com a maior pinta de tricha, sabe? Tava ao meu lado e falando que ficou revoltado com fulano e blablablá... um sotaquezinho gay que só vendo. Ou melhor, ouvindo.
E eu olhando pro chão, rindo pra dentro... morrendo de vontade de dar uma gargalhada. O cara tava num tom meio azulado de tanta vergonha, me olhava meio de lado assim, sabe? Comédia total. A sorte dele é que ele parou no 20o. andar, e eu continuei pro 25o. Vocês imaginam subir 20 andares nessa situação? Riso preso é uma merda, dá uma parada horrível, nunca mais prendo riso.
Ufa! Acabei de dar uma gargalhada que durou 43 minutos e agora que contei pra vocês me sinto bem melhor.
Beijos"

O único comentário possível foi feito por uma outra Luluzinha:
"Amiga, agradece ao bofe do metrô. E que bom que você não deu pra ele.
Ah! Tá vendo? Não foi só uma "fase", como ele disse na época: já passou tempo suficiente pra esse cara deixar a boiolagem de lado, se não deixou é porque gostou do esporte"

Ministério da Saúde adverte: prender riso faz mal à saúde... Rir com as amigas é o que há de melhor.

domingo, 9 de maio de 2010

Eu trago um mundo na minha bagagem de mão



No primeiro dia da Faculdade de Letras, tive uma aula de Linguística que me marcou. Além de a Professora (Leila Longo) ser ótima, o assunto era gostoso e eu sempre tive mania de "viajar" nas aulas. O assunto da aula era sobre como duas palavras podem ter a mesma função sintática mas transmitir uma mensagem diferente quando utilizadas. É mais ou menos assim: falamos "casa" e nos lembramos de um lugar onde se mora; falamos "lar", lembramos de um lugar aconchegante, gostoso.

Isso não tem a ver com a palavra em si, mas com nossas lembranças, nossa bagagem emocional. Sim, o fato de eu ter adorado aquela aula foi ter sacado que somos, cada um de nós, a soma das experiências que vivemos. Muito do que vivemos está presente na forma com que falamos, com que nos relacionamos com o outro. Naquele dia (e durante alguns muitos outros depois) não parei de pensar em como uma coisinha que pode parecer à toa, sem importância, é parte do "cimento" que constrói a gente vida a fora.

Uma vez um amigo me mostrou um blog que ele tem praticamente em segredo. Havia umas poesias lindas, umas fotos belíssimas, tudo tão gostoso de ver, apaixonante mesmo. Claro, ele escreveu aquelas poesias, trabalhou aquelas fotos num período em que estava apaixonado (durante namoro e durante a dor de cotovelo inevitável que se segue a cada fim de um amor, quando é mesmo amor). A paixão foi-se e ele teve a maldita ideia de apagar tudo do blog! Quando eu soube levei um susto e ele falou "é que agora estou numa nova fase da minha vida". Fiquei calada, embora mil argumentos me tenham assombrado a cabeça. O blog anda lá, mega desatualizado e ele ainda não olha para o fim do romance com muita simpatia. Embora diga que não, acho que ainda sonha com ela. E se um dia ela voltar, ele não vai poder mostrar o quanto sonhou com este dia, simplesmente porque ele pensou que iniciar uma nova fase de vida fosse apagar as lembranças da mulher que amou.

Que atire o 1º vaso quem, num acesso de "vou te esquecer, desgraçado!" nunca rasgou um monte de fotos ou não empacotou todos os ursinhos de pelúcia e lembrancinhas do "falecido" e mandou devolver. Eu já fiz isso algumas vezes. Dá um baita alívio na hora, mas não muda a história que vivi. Ela é minha e vai comigo aonde eu for. Mesmo que eu tenha jogado pela janela da casa da minha mãe o 1º presente que ganhei de um namorado de muitos anos (uma boneca da Mônica que tinha escrito "eu te amo"), eu não esqueci nem do dia e nem do motivo que ganhei. Não dá pra tirar as lembranças de mim, por mais que eu arranque as fotos do meu álbum. O espaço vazio de uma foto é o retrato do fim daquele amor.

Dei exemplos de romance, mas a experiência-memória serve para qualquer outra área da nossa vida. Minha "memória afetiva" me faz não provar caipirinha de limão há 18 anos. Só de falar no assunto tenho náuseas. É que tomei um porre "daqueles" e, sabe como é... Músicas também costumam me fazer voltar no tempo e mesmo que não seja a música mais alegre do mundo, se eu a ouvi uma vez num momento feliz, fico feliz quando ela toca. Quando assisti ao espetáculo "Renato Russo" chorei do início ao fim: passei minha juventude ao som da Legião Urbana. Qualquer música deles me lembra dos meus amigos lindos, das noites em Paraty, com o Rebeca tocand violão pra gente até de manhã... Vou ter 100 anos e virar adolescente ao ouvir Legião. Viva Legião! Viva Renato Russo! Viva Cazuza!

É estranho e instigante como meu passado vive em mim. Por mais que queira ou tente, levo sempre o que vivi aqui na minha bolsa. O bom da história é que cada um faz o que quer com essa bagagem toda. E essa é a parte da vida da qual mais gosto, a que eu mais acho interessante: nossa postura diante da vida. Tem gente que se lamenta, tem gente que escreve e transforma histórias doloridas ou desagradáveis em piada. Tem gente que é coadjuvante e nunca vai lá, nunca tenta e está sempre com o pé atrás, quase pedindo desculpas por existir. Enquanto outras fazem questão de serem protagonistas, de tomarem pra si as rédeas da vida e falam "destino, quem faz você sou eu, entendeu?". Eu sou o somatório do que vivi e das escolhas que fiz.

O texto ficou longo e ainda nem falei sobre o motivo de escrever sobre este assunto. Ok, eu, que sou a falta de lógica em pessoa, não preciso de motivos. Mas este texto aqui tem um: o filme "Slumdog Millionaire" (Quem quer ser um milionário?). O mote do filme, baseado numa história real de um garoto favelado que participa de um programa de perguntas e respostas e pode ganhar uma fortuna, é "como um favelado, que trabalha servindo chá, pode ter saber tanto?" . Eu respondo (sem contar o filme, é claro!): é só não se esquecer do passado e acreditar que o futuro é feito de escolhas e com nossa própria ajuda.



A PERSISTÊNCI DA MEMÓRIA / SALVADOR DALI

sexta-feira, 7 de maio de 2010

SOBRE AMORES, DESCOBERTAS E FELICIDADES. OU "PARA A LIV, COM TODO MEU AMOR"

Há exatos 4 anos eu estava em Brasília, a trabalho. Num pequeno intervalo que tive, em vez de ir fazer um lanche, preferi ligar para minha irmã. Ela estava com 9 meses de gestação e esperávamos para qualquer momento a chegada de mais uma bonequinha.
Fiz mil perguntas ("Você está bem?", "Já arrumou a mala para levar pra maternidade?", "Escolheram, afinal, o nome?") e ela só respondeu "Minha irmã, ainda temos uns 10 dias pela frente. Para não ser (muito) chata, recomendei que deixasse tudo pronto, caso o bebê resolvesse se adiantar...
A sabedoria popular diz que intuição de mãe não falha. Mas já reparou que nunca mencionam as tias? Somos uma classe totalmente desprovidas de glamour, somos da Segunda Divisão. Mas isso é assunto para outro post.
Naquele momento em que falava com minha irmã, tinha certeza que minha nova sobrinha estava a caminho e não iria esperar os tais 10 dias. Como eu sabia? Intuição de tia. De tia apaixonada, é claro.
Não deu outra, umas 4 horas depois, quando eu estava no aeroporto fazendo o check in, minha Dinda ligou "A bolsa da Gi estourou". Comemorei como se fosse uma surpresa, mas a verdade é que eu já sabia. Intuição de tia não falha.
Entrei no avião rezando, pedindo a Deus para a hora passar rápido: eu precisava chegar ao Rio e tomar um ônibus para Paraty, onde mora grande parte da minha família. Pedi à Nossa Senhora Aparecida, de quem sou devota, para não sair do lado da minha irmã e deixar a equipe médica bem atenta. Já que eu não podia estar lá para falar (tentar) tranquilizar minha irmã, queria que Nossa Senhora o fizesse por mim.
Quando cheguei ao Rio, o bebê já tinha nascido, mas não tinha mais ônibus àquela hora. Bobagem dizer que não dormi naquela noite, tamanha a ansiedade. No dia seguinte fui trabalhar. Ao fim do expediente, em vez de ir pra casa, fui é pra rodoviária, claro!
Liguei para meu chefe e disse que eu acabara de instituir a Lei da "Licença de tia", e que ele não me esperasse aparecer no escritório nos próximos dois dias. De tão inusitado que foi meu telefonema, ele nem teve argumentos.
As quatro horas de viagem foram uma eternidade, daquelas bem eternas. Cheguei tarde à casa dos meus pais e no dia seguinte cedinho já estava pronta para buscar meu bebê cor de rosa. Tão linda, delicada, cabelos pretos ralinhos, olhinhos puxados.
Foi um momento mágico o instante em que entrei no quarto. Beijei minha irmã, peguei a Liv no colo (o nome foi escolhido depois que os pais viram o rostinho dela. Liv. Liv. Liv. Um nome curtinho, fácil, delicado, igualzinho àquele bebê que já era amado quando a barriga ainda nem aparecia).
O mundo parou e fiquei admirando suas feições, suas mãozinhas, cada uma das dobrinhas de seus braços. Decorei cada um dos detalhes daquele serzinho que transformou a palavra AMOR em substantivo concreto: 3.200kg, 47 cm e rostinho desenhado.
Sou completamente apaixonada pela minha mãe, pelo meu paizinho, pela minha irmã. É tanto amor que meu coração parecia já ter sua capacidade lotada. Mas alguns anos antes, quando nasceu a Lara, a primeira sobrinha, percebi que ainda cabia mais gente. E vou te contar uma coisa: ter o coração preenchido por amores tão viscerais é a melhor coisa do mundo.
No entanto, tinha dúvidas se eu seria capaz de amar com aquela intensidade uma outra pessoa. Várias vezes me perguntei "Será que vou amar o novo bebê? Será que sou capaz de amar tanto assim?".
Àquela época eu não sabia ainda, mas amor não é bem que se esgote... E meu coração recebeu a Liv com tanta naturalidade, como se já esperasse por ela. Desde sempre.
Fiquei um tempão fascinada com aquele presente que a vida me deu. Meu cunhado falou "Hei, dá pra deixar o pai segurar um pouquinho também? Você não é a única aqui". E só então percebi que havia outras pessoas no quarto. Passei, delicadamente, meu "pacotinho" ao pai, que sorria com a alma.
Segurei as mãos da minha irmã e falei apenas "Obrigada". Ela entendeu.
Durante o trajeto para casa, eu, que sou falante toda vida, me mantive calada por um bom tempo. Até que consegui organizar minhas emoções e elas se transformaram na frase "E eu que pensava que já era totalmente feliz...".
Hoje minha florzinha faz 4 anos e eu nem me lembro como era minha vida sem ela.
Um dia talvez ela leia este texto e se lembre da nossa frase predileta: TE AMO PRA SEMPRE E MAIS UM DIA.

PS: Sem querer me gabar, todos dizem que somos parecidas e sou a pessoa mais feliz do mundo quando ela diz que temos os olhos iguais, "olhos cor de mel".

sexta-feira, 30 de abril de 2010

SOBRE DESPEDIDAS E O QUE LEVAMOS NO CORAÇÃO

Hoje termino um ciclo em minha vida profissional e certamente outro, tão bem sucedido, terá início em breve.
Há exatos 4 anos tomei uma decisão séria: pedi demissão de uma empresa onde trabalhei por 10 anos. À época, muitos colegas de trabalho me chamaram de "louca", "inconsequente" e coisas do gênero. Os argumentos eram que eu estava me desligando de uma empresa que praticamente nunca demitiu ninguém, que eu já estava habituada às funções, que gozava de excelente reputação junto aos meus superiores e muito mais.
O problema é que eu estava insatisfeita: 10 anos fazendo as mesmas coisas e, embora viajasse constantemente por todo o país, sentia-me presa, limitada. É claro que foram 10 anos de muito aprendizado e saí de lá com a sensação de missão cumprida. Mas precisava de algo mais, ampliar conhecimentos e todos aqueles clichês tão verdadeiros relacionados à vida profissional da gente.
Tenho algum tipo de "estrela" que sempre me levou a ter chefes com os quais me dei muito bem. Nos últimos 3 anos e meio trabalhei com um executivo conceituado, extremamente inteligente, de grande visão e muito respeitado no mercado. Sabe aquele profissional que tem tudo para ser o "chefe mandão", indiferente aos subordinados? Pois é, essas características passaram longe, muito longe dele. Nem dá pra falar sobre as qualidades dele, mas uma expressão o resume bem : a gentileza em pessoa, a quem sou muito grata por toda confiança que sempre depositou em mim. E se não bastasse, ainda é pai da Bruna, responsável pela minha pele sempre tão elogiada.
Além dele, convivi com outros colegas também nota 10. Fiz parte de um time de pessoas honestas, centradas em suas funções e solidárias umas com as outras. Não me lembro de ter ouvido um "bom dia" da boca pra fora ou um "obrigado" só por formalidade.
Sentirei saudade da boa vontade do Rodrigo (de quem sinto muito orgulho por ter ouvido meu conselho e começado a estudar Inglês. Adoro vê-lo fazendo o "homework"): sempre pronto para atender um pedido meu, fosse relacionado ao trabalho ou particular. A Mariana, menina competente, séria e engraçada ao mesmo tempo, me passou confiança desde o dia da entrevista para ser nossa recepcionista. A Margarete, com suas histórias pra lá de inusitadas e engraçadas (até na sogra a criatura já deu uma surra), apesar das dificuldades que enfrenta.
O Gui é o verdadeiro carioca: bom de papo e profissional sério nas horas certas. Ah! e inventa os roteiros de férias mais invejáveis que já vi. O tímido Kleber, paulistano, são paulino, sempre querendo nos convencer que São Paulo é o melhor lugar do mundo. Fala sério, meu!
Teve também o Gê, sério, exigente e gente boa toda vida. Com o simpático Jorge não tive tempo de conviver, mas deve ser do mesmo nipe da galera, porque parece que na Mitel é imprescindível ser "do bem".
Um friozinho no estômago se instalou em mim, afinal, não sei o que vem pela frente. Mas sei que boas coisas me aguardam.
Vai ser difícil dizer "tchau" logo mais, e eu bem que gostaria de sair à francesa. Mas tem como não dar um abraço em cada uma dessas pessoas lindas?


quinta-feira, 29 de abril de 2010

Como é bom saber tocar um instrumento

Tem uma música do Caetano que fala assim "como é bom poder tocar um instrumento ...". Na letra, o cara conhece uma mulher muito bonita e quando chega em casa, corre para o violão para fazer uma música pra ela: como é bom poder tocar um instrumento.
O meu instrumento é a escrita. É através dela que registro momentos, desabafo, divido histórias e tal.
Talvez quem não tenha essa necessidade de expressar-se através da escrita, ou da música ou qualquer outro tipo de arte, não entenda como é bom, como é vital conseguir fazer isso, ter um meio para fazer isso.
Claro que tem dia que a gente não sente tanta vontade assim de escrever, até porque escrever é dolorido. Como disse o poeta Antunes Lobo "ESCREVER É MUITO DIFÍCIL E A CADA VEZ TORNA-SE MAIS DIFÍCIL FAZÊ-LO" (tem mais sobre o Antunes Lobo no post "A última do português" .
Muitas vezes ao escrever a gente mexe com sentimentos que estão lá escondinhos, sabe aquela mágoa que você achou que já tinha passado? Pois é, muitas vezes ela sai do esconderijo na hora que estamos trabalhando um texto. Também aquele assunto proibido, que a gente mesma se proibe de falar pra ver se ele passa não existir mais, é... também ele ganha forma de repente, bem quando estamos digitando. É que escrever mexe com sentimentos. O resultado pode até ser uma porcaria, mas vamos combinar que escrever é, sim, arte, e uma das características da arte é essa: incomodar a gente, cutucar a gente. Ninguém sai ileso de uma exposição de quadros, por exemplo. Ou de uma peça de teatro, ou sei lá de onde mais.
Bom, agora que você já sabe que eu acho difícil pra caramba escrever, vou ao motivo deste texto: tal qual na canção, eu quis registrar um momento que me marcou. Na verdade, que me marca sempre: comentários que eu recebo. É tão bom ter um retorno do trabalho que a gente faz. É tão bom saber que, como diz a Bela, de vez em quando eu "traduzo" um sentimento que alguém tá sentindo.
Puxa, você sabia que a Mônica reza todas as noites por mim? Falando nisso, Mônica, você se lembrou de rezar pro Santo que arruma namorado? (ela me disse que não é Santo Antônio). Tô precisando.
Tem a Juliana, que não entende minha tristeza e queria segurar minha mão pra me alegrar. Falando nela, vou transcrever um pedaço de um depoimento dela aqui: "(...) resolvi te falar algumas coisas que sinto em relação ao blog, eu sinto prazer em ler o que você escreve seja alegre ou triste, a forma que você escreve me faz querer ler mais. Tem blogs em que quando os textos são grandes, eles perdem o sentido no meio ou então simplesmente ficam chatos. Você não, você consegue dar sentindo ao post do inicio ao fim e ainda ficar com gostinho de quero mais. Tanto que a primeira coisa que faço quando chego no trabalho é entrar no seu blog p/ ver as novidades.
Outra coisa que vim te contar, minha mãe adora internet, está sempre no orkut ou baixando músicas, mas ao contrário de mim, ela não gosta muito de ler. Essa semana estava contando para ela sobre o seu blog, falei com ela que eu entro várias vezes ao dia, pq você está sempre atualizando e blá blá blá. Nisso entrei no blog p/ mostrar a ela e você tinha atualizado com esse texto: Sobre exigências, preguiças e o que não sei fazer. Eu li para ela, e ela adorou e se identificou com o texto. Pediu p/ eu colocar o seu blog nos favoritos do computador que ela usa, lá em casa (...)" .
Tem a Marilia que divulga os textos pras amigas que não gostam de acompanhar blogs, tem também aqueles que dão uma olhadinha mas não comentam por falta de tempo ou costume. E, claro, tem aqueles que acharam tudo isso aqui um lixo e nunca mais voltou.
Eu queria dizer que todos vocês são parte essenciais da história da minha vida.
Sabe aquela coisa que acontece enquanto a gente tá fazendo um monte de outra coisa? Então, aquilo é a história da nossa vida. Enquanto me concentro nos cálculos e planilhas financeiras, ou arrumo a casa, ou apenas olho a Lua pela janela, enquanto eu faço "nada demais", minha história de vida tá acontecendo. E o barato de ter esse cantinho aqui é perceber que tem gente sendo tocado por um texto meu. Tem gente me achando fútil por causa de alguma coisa que escrevi. Tem gente amaldiçoando quem inventou os blogs, pois eles possibilitam uma "qualquer uma" como eu escrever as desordens que me passam pela cabeça. Aceito tudo isso, assim eu tô fazendo valer um desejo de muitos: não viver a vida à toa, sem fazer diferença pra ninguém, sem provocar reações em ninguém.
A escrita é o instrumento que tento aprender desde novinha. Mas o que escrevo não é rascunho, é meu jeito torto de fazer Literatura.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cântico Negro - José Regio

‘Vem por aqui» — dizem-me alguns com olhos doces,

Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom que eu os ouvisse

Quando me dizem: «vem por aqui»!

Eu olho-os com olhos lassos,

(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:

Criar desumanidade!

Não acompanhar ninguém.

Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por ai! Só vou por onde Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,

Por que me repetis: «vem por aqui»?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,

Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,

A ir por aí...

Se vim ao mundo, fdi

Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?...

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátrias, tendes tectos,

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.

Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

Mas eu, que nunca principio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!

Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: <(vem por aqui»!

A minha vida é um vendaval que se soltou.

É uma onda que se alevantou.

É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,

Não sei para onde vou,

- Sei que não vou por aí!

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ANTOLOGIA POÉTICA

José Régio – Edições Quasi - Lisboa – Portugal - 2001

quarta-feira, 21 de abril de 2010

"Por que você escreve essas coisas?" ou PARA A MÔNICA, COM CARINHO

Um dia me perguntaram o que me levou a escrever um blog. Não soube responder, confesso.
Aí pensei que era só mais uma das coisas estranhas que faço todo dia, a vida toda. Mais uma esquisitice minha.
Meu senso crítico feroz sugeriu que eu parasse de escrever e de perder tempo. Meu lado que não tá nem aí para o que pensam falou que, se eu já perco tempo com tanta coisa, por que não perder com uma coisa que me dá prazer?
Escrevo desde muito novinha, desde que fui alfabetizada. Escrevia estorinha em quadrinhos, bilhetinhos para meus pais, redações na escola. Depois passei a participar de todo e qualquer concurso de redação ou frases. Fosse sobre o que fosse. Lembro até de ter mandado uma frase para a Revista Capricho sobre o filme "Dicky Trace" . Ganhei LP do filme, meia com a personagem do filme, adesivo do filme, enfim, uma festa. Foi a premiação que mais marcou, afinal, eu não vi o filme. Mas eu sempre ganhava alguma coisinha nos concursos.
Depois que eu cresci, fiquei muito mais crítica comigo e, embora saiba que escrevo de um jeito legal, tenho consciência de que não sou nada excepcional. Só que isso não me tira o gosto. Claro que eu adoraria ser uma escritora ótima, acrescentar algo à nossa literatura que anda tão pobre. Mas honestamente falando, o que eu escrevo é o que a maioria das mulheres da minha idade gostariam de escrever. Ou seja, não há nada de novo em meus textos. E não vejo contribuição literária neste aspecto. Sim, sou exigente pra caramba comigo mesma.
Hoje eu responderia à tal pergunta "Por que você escreve essas coisas?" com duas respostas. A primeira é "Porque eu gosto de escrever". A segunda resposta seria "de que outra maneira eu tocaria tão fundo o coração de uma pessoa senão através da escrita? De que outra forma eu receberia um carinho tão grande senão através da escrita?".
Exagero? Juro que eu também achava que meu texto nunca tocaria o coração de ninguém. Pois a Mônica Paiva foi bem mais sensível.
Eis o que ela escreveu pra mim.

"Aline,
Voce é o meu intervalo das leituras dos livros. Agora estou uma comilona de livros (...)
Eu sempre adorei escrever: respondia e escrevia para 50 ex amigas, na epoca de Natal. Fazia curso , passeava de excursão e assim que tinha uma brecha escrevia. E era uma decepção porque em 50 tinha resposta de tres. Mas não desanimava e no outro Natal fazia a mesma coisa.
(...)
Seu blog me encantou. É como se voce fosse a minha outra irmãzinha. Tenho quatro encantadoras irmãs. Torço por voce como torço pela felicidade delas. (...)

Internet é descoberta de um ano. E voce me respodendo é a melhor coisa do mundo.São as cartas que me eram devolvidas e que agora as recebo aos montes atraves de seus textos.

Desculpe as vezes que não entendo mas escrevo assim mesmo, só para ter o gostinho de saber que será lido.

Voce é minha amiga. E nos meus terços já a acrescento (...) Pois rezo o terço todo dia e em cada ave maria coloco uma de minha familia. Começo pelo meus irmãos, sobrinhos, cunhadas e cunhados. Voce já está incluida como uma cunhadinha, mesmo não tendo outro irmão para casá-la.
Depois é que vem minhas primas.
Desculpe ter escrito tanto.
Com carinho, Monica"

terça-feira, 20 de abril de 2010

SOBRE PREGUIÇAS E TÉDIOS

Quase todo dia eu sinto muita preguiça. E nem estou falando das “preguiças básicas”, daquelas que são que nem item original de carro, sabe? Tipo acordar cedo, arrumar meu quarto ou passar roupa.

Estou falando do tanto de regra que inventaram pra gente.

A vida virou uma grande lista de “não podes”:
Fumar não pode porque faz mal à saúde; comer muito não pode porque engorda; ser gorda não pode é feio; gostar do Dourado do Big Brother não pode porque ele é preconceituoso.

Pra relaxar um pouquinho pensei em namorar aquele carinha que tem me ligado direto. Até que ele faz meu tipo.

Putz! Mas como é trabalhoso início de relacionamento. Já percebeu como é complicado iniciar uma história com alguém?

Não pode ligar todo dia senão ele saca que você tá super a fim e te esnoba. Nem pense em ficar muitos dias sem dar notícias, senão ele te acha uma esnobe de primeiríssima e aí só Deus sabe o que o sujeito vai fazer. Não permita que ele saiba como você realmente se sente quando lê aquele recado todo meloso que uma amiga dele deixou no orkut. Disfarce seus ciúmes e principalmente sua imensa carência.

Hoje a gente pode dormir junto, gozar junto e até dizer qual é a posição preferida. Só não pode é deixá-lo sacar que você não é nem tão moderninha como ele acha e nem tão santinha quanto fingiu ser.

Melhor desistir de namorar. O lance é ficar com vários pra não “apostar todas as fichas” . Mas ai eu tenho que ser super legal, inteligente e, claro, ter uma aparência boa. Legal eu acho que sou. Mas pra ele saber que sou inteligente, tenho de me preparar. E se o rapazinho resolve falar sobre o embargo comercial da China? Conhecimentos gerais é importantíssimo. Mas não basta ler o jornal todinho de manhã, é preciso acompanhar as atualizações pela internet o dia todo. Em tempo real, se possível.

Só legal e inteligente não garante nada. Tenho ainda de ser bonita. Aí é o quesito mais desgastante. Experimenta parar em frente a uma banca de revistas e dar uma olhada. Todas as revistas dizem que tal dieta vai te emagrecer 5 kg em meia hora, tem sempre um produto pra te deixar durinha...

Aí eu capricho na musculação, no pilates e na drenagem linfática. Fico gostosa que só vendo: braços redondinhos, bumbum durinho, coxão que é uma coisa! E o que acontece? Chego em casa cansada, exausta mesmo. Cadê disposição pra namorar?
No sábado vou pra praia pegar uma corzinha, porque meus gens europeus não me largam e cadê sensualidade numa mulher que tem cara de gringa? Filtro solar fator 30. Não, 30,não, é fraco. 60. Foi o que minha dermatologista me falou.

O mar tá sujo, a areia poluída, mas eu tenho de descolar um bronze. Ih!Não pode: bronzear-se dá câncer de pele. Melhor aceitar meu estilo Branca de Neve e não arriscar a pegar uma micose.

Alguém me diz como sair desse tédio?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Você jamais faria sexo virtual - Tati Bernardi

Domingo, uma da manhã. A gente nunca combinou ou comentou a coincidência de sempre se encontrar nesse horário. Mas um sempre soube que o outro estaria lá. E de fato sempre estava. E ele dizendo o quanto queria me ver de novo. Mas a vida é complicada. E eu dizendo o quanto queria que ele realmente quisesse me ver de novo. Mas ele é complicado. E ele colocava a camerazinha e me mostrava. Olha! Uma Coca-Cola! E eu colocava a camerazinha e mostrava. Olha como eu fico brega dentro de casa. Posso ir pegar outra Coca? E ele levantava só de cueca. E eu achava aquilo bizarro mas me tranqüilizava pensando “eu jamais faria sexo virtual”. Muito menos ele. Cara, essa roupa não ta ridícula? E ele concordava. Aquele era como um encontro e eu não poderia estar tão mal vestida. Lá ia eu botar um vestido pra ele. Enquanto botava, eu me tranqüilizava. Eu sou batizada e tenho pós-graduação. Eu jamais faria sexo virtual. Muito menos ele. E ele acendia um cigarro e soltava os cabelos. E eu botava a perna em cima da mesa. Abria a janela. Como está quente aqui. E ele me conta que encontrou aquela atriz gatíssima que dizem que é bissexual. E eu comento que nunca experimentei mas, com ela...nossa, com ela até que não seria má idéia. E ele me diz que também nunca quis saber de duas ao mesmo tempo. Mas nós duas? Nossa, até que não seria má idéia. E ele coça o saco, pensa que eu não vejo. Será que ele ta mesmo coçando? E eu, nossa, eu to com muito calor. Ele não vai ver se eu tirar essa calça jeans mega apertada. Não tenho culpa que o mundo está aquecendo. Eu e os ursos polares não temos culpa de sofrer assim. A camerazinha só me pega dos ombros pra cima. Logo, se eu tirar as calças ele não vai ver! Mas eu estou de vestido. Caramba, então por que essa vontade de tirar as calças? Não sei de nada, só sei que ele é um cara bonito, interessante, pegador. Não precisa trepar com mulher pelo messenger. E eu, bom, eu tenho aí uns dois ou três amigos que me visitam nos períodos de “entre safra”. Nunca fiquei a perigo ao ponto de precisar trepar com uma camerazinha e umas frases com carinhas felizes e amarelas. Ele me mostra suas havaianas. Eu mostro minhas unhas pintadas de vermelho pra ele. Mas ele quer voltar no assunto do sexo a três, com a atriz gata e bissexual. E eu digo, assim, na brincadeira, juro, que eu adoraria experimentar o gosto dela. E ele pára de falar comigo alguns segundos, acende um cigarro. E então ele volta e fala que adoraria ver eu, assim, na brincadeira, ele jura, experimentando o gosto dela. E eu fico assustada, sabe? Poxa, sexo pela internet é coisa desses caras meio doentes, não? E dessas garotas feias. É coisa de gente que não tem capacidade pra fazer a coisa ao vivo. Ou de nerd, sei lá. E ele é um puta escritor. Não é nerd. E eu sou maior legal. To longe de ser nerd. E ele passa a mão pelos cabelos e me manda um beijo. E eu piro naqueles cabelos e naquela boca. Mas já são três da manhã e ele nem mora em São Paulo. A coisa que eu mais queria era estar lá com ele, tomando Coca, fumando cigarro, passando a mão naqueles cabelos dele, mordendo aquela boca. Nossa, impressionante como essa calça jeans ta me incomodando. Mesmo eu estando de vestido. E então, sem aviso prévio ou pedido de desculpas, ele escreve “enquanto você sente o gosto dela, eu sinto o seu gosto”. E eu, não sei exatamente o motivo, respondo “mas eu sinto o gosto dela com a boca, o que significa que minhas mãos estão livres para você”. Depois disso a coisa piora muito. Corredor, parede, pia de banheiro, elevador. A gente transa em basicamente todos os lugares possíveis. Nós e a atriz gata bissexual. Eu, que nunca tinha feito sexo virtual e muito menos a três, quando vi estava fazendo os dois ao mesmo tempo. Lembrei do filme Closer, depois lembrei daquele filme Felicidade. Os personagens que fazem isso nunca são normais. Mas tudo bem. Agora eu estava na pia da cozinha, ou melhor, em cima do tanque. Não era a hora pra pensar em cinema. No final das contas ele brochou. Ou melhor: a sua conexão caiu. E no dia seguinte, ele fez o que todo homem faz com uma mulher que já comeu: desapareceu. Ou melhor: me bloqueou no messenger. Engraçado como até a maneira de fazer sexo evoluiu mas o machismo continua firme e forte desde o homem das cavernas.

terça-feira, 13 de abril de 2010

UMA FRASE DA TATI BERNARDI

"Eu não preciso de você nem pra andar e nem pra ser feliz, mas como seria bom andar e ser feliz ao seu lado"

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O MEGA HAIR E EU




Sábado meia-noite. Estava em casa sem nada pra fazer, no maior tédio. Cenário perfeito para se fazer as coisas mais absurdas e non sense. Dito e feito: resolvi que não queria mais cabelo comprido. Ou, para ser mais específica e direta: cansei do Mega hair.

Pesquisa básica na web pra saber como se faz pra soltar aquelas mechinhas grudadas com cola de queratina. Claro que existe uma técnica pra descolar aquilo e a profissional que colocou retiraria em dois minutos. Mas aí eu teria de esperar até 2a-feira, marcar horário e tal e eu queria acabar com aquilo já. Pesquisa aqui e lá e, bingo!, álcool substitui o tal produto específico.

O profissional usa também um alicate especial pra "quebrar" a queratina, mas a garota que indicou o álcool disse que serve qualquer tipo de alicate. Fui procurar um alicate de unha, mas lembrei q não sei nem tirar esmalte sozinha, imagine tirar cutículas? Então, pra evitar que eu fique cutucando a unha e acabe perdendo um dedo, prefiro não ter essas coisas em casa. Sou daquelas que consegue fazer misérias com uma singela pinça: cutuco um pelinho encravado, puxo a pele do dedão... Enfim, quanto menos objetos perigosos desses ao meu alcance, mais segura eu estou.

Bem, voltando ao assunto: tinha álcool mas não tinha alicate de unha. Porém, sempre há uma esperança e nem tudo estava perdido: moro sozinha e não gosto de depender do tiozinho da loja pra consertar as coisas. Tenho minha própria maleta dessas coisas que não sei usar, como martelo, prego e... ALICATE.
Não tinha algodão também. Eu devia ter enxergado a falta de tudo como um sinal divino, tipo “Aline, aqui quem fala é o Pai Todo Poderoso. Eu tudo posso e tudo vejo. E to vendo que você tá arrumando sarna pra se coçar. Vai dormir, filha”. Mas eu sou teimosa e nem dei confiança. Substituir virou o verbo da noite. Sei lá porque, tinha uma caixa de Carefree (digo "sei lá porque" porque eu não menstruo. Então não sei como aquilo foi aparecer na minha gaveta).
Pronto, álcool, alicate e carefree: arsenal improvisado somado à minha vontade... comecei com uma mecha e saiu fácil. Falei "beleza!". Fui passando álcool em cada uma das mechinhas de cabelo, bem na emenda da cola de queratina (o objetivo era amolecer a danada), depois com o alicate, dava uma apertada, para soltar um pedacinho dela e depois era só puxar a mecha inteira. Fácil,né?
Mas essa facilidade toda só rolou com 3 ou 4 mechas. As outras deram um trabalho desgraçado. Como tudo na vida, aquela foi uma prova de que quando você NÃO quer que uma coisa aconteça, ela acontece e se repete. Quando eu tava usando o mega hair, não era para nenhuma mecha cair, mas caíam várias, várias vezes por dia. Naquela hora que eu queria tirar tudo, foi um parto de camelo conseguir tirar umazinha que fosse.
Duas da manhã eu estava lá, firme e forte, xingando minha ideia de fazer isso sozinha (por que não esperei até 2a-feira?), mas aí já era tarde: tinha tirado uma quantidade considerável de cabelo e não dava pra sair por aí daquele jeito. Levantei, peguei uma cerveja, e continuei minha tiração de cabelo.

Às 4 da manhã eu xinguei todos os meus antepassados árabes, por terem me deixado de herança tanto cabelo. Tinha a impressão de estar enxugando gelo: não ia parar de fazer aquilo nunca mais na vida.
O sono me venceu e resolvi tomar banho. Comecei a rir quando me vi no espelho: havia algumas poucas (olhando parecia pouca, mas constatei no dia seguinte que eram ainda umas 1.500 ) mechas no alto da cabeça, mais do lado direito do que do esquerdo. Se não estivesse com tanto sono teria feito uma foto. Tomei um banhão, bem gostoso, usei muito xampu pra tirar o álcool do cabelo e fui dormir. A 2a parte da missão ficaria para o dia seguinte.
Acordei e vi que tinha um monte de recado de amigos, do tipo "vamos almoçar?", "vamos ao cinema à tarde?". Só porque eu não tinha a menor condição de sair de casa com o cabelo daquele jeito, todos os amigos, conhecidos, amigos de amigos, enfim, pessoas com quem nem mantenho contato direito, resolveram me convidar pra fazer alguma coisa. Recusei todos, afinal tenho uma fama a zelar. Imagine alguém me ver com aqueles cabelos espalhados no alto da cabeça? Deus me livre! Era praticamente como assinar meu atestado de insanidade, né? Fulano ia me olhar e pensar na hora "ela nunca me enganou". Eu tava com cara de maluca mesmo.
Meu arsenal para arrancamento de mega hair estava ao lado do sofá. Me posicionei novamente e dei continuidade àquela coisa louca que começara na véspera. Quanto menos mechas faltavam, mais elas pareciam estar coladas com cimento. Foram mais 3 horas aproximadamente de trabalho.

Eu já estava exausta, meus braços doíam muito. Decidi: vou cortar essas últimas. Peguei a tesoura e fui pra frente do espelho. Um raio de bom senso me atingiu e fez eu perceber que elas estavam bem na frente, em lugar muito visível. Qualquer loucura que eu fizesse ali seria difícil de esconder. Resolvi voltar para o álcool, carefree e alicate.
Quando tirei a última mecha de cabelo, quase chorei. De emoção e por ver como estavam minhas mãos; mais de 5 horas no álcool, elas estavam esbranquiçadas, dois dedos tinham bolhas por causa do alicate, e o esmalte estava borrado. Mas valeu a pena.

Que delícia lavar a cabeça sem aqueles nozinhos chatos do aplique. Que delícia usar pouco xampu e, principalmente, que alegria me olhar no espelho e me reconhecer. Porque aquele cabelão com que desfilei por aí nos últimos 6 meses não tinha nada a ver comigo.
Agora estou aqui, me olhando a cada 5 minutos no espelho, me achando linda. Já passei numa lojinha e comprei um 32 tipos de enfeites para o cabelo (tiara, grampinhos, faixas)...

Adoro meu curtinho. E se eu não fosse tão volúvel, até diria que nunca mais uso mega hair na vida.