segunda-feira, 1 de agosto de 2022

MORAR SOZINHA É UMA ... BELEZA!

Saí da casa dos meus pais cedo. Dividi apartamento com amigas, voltei a morar com meus pais e depois "brinquei de casamento", morando com um namorado. Sozinha, sozinha eu nunca tinha morado. 
Passei a morar quando ele jogou a toalha e disse "A brincadeira de casinha acabou". Sofri pra cacete, claro. Eu gostava dele. Mas demorei bem uns 10 dias pra chorar. Lembro até hoje o que desencadeou a crise de choro: eu não alcancei a lata de molho de tomate no armário da cozinha. Naquele momento entendi que eu estava morando sozinha. Em vez de pegar uma escada, corri para o telefone e liguei para uma grande amiga: "Tô péssima! Ele tá fazendo muita falta", desabafei em meio a muitos soluços e lágrimas. Essa minha amiga é a "levantadora oficial do astral da galera" e, começou a dizer que é normal sentir saudade, ficar triste, mas isso iria passar. Quem sabe até nós dois não voltaríamos e tal? Ou, melhor ainda, ela tinha certeza de que eu iria conhecer um cara muito mais legal do que ele. E então a interrompi: isso não vai passar nunca, tenho certeza. E ela, muito carinhosa, perguntou se eu gostava ainda tanto dele assim. Falei que não, mas que era uma merda eu ter de cuidar sozinha de uma casa. E que aquele filho da mãe não teve nem a consideração de tirar as coisas dos lugares altos, antes de ir embora. Ele sabe muito bem que eu não alcanço. 
Começou lá a minha vida de morar sozinha. A lista das coisas boas é imensa e eu amo: chegar em casa depois de um dia longo de trabalho e não precisar falar com ninguém; receber as amigas, no melhor estilo "Luluzinha´s", deixar calcinha pendurada no box. Mas como na vida nem tudo são flores, há a parte chata: sou eu pra tudo. Eu que tenho de lembrar de pagar o gás, se eu não comprar requeijão, tenho de comer pão seco. Sou eu que tenho de esperar o cara da Net, negociar o orçamento do conserto da máquina de lavar (essas coisas sempre me dão a impressão de que estão me roubando). E encarar a louça com a unha recém-pintada. Ninguém merece isso... Cólica de madrugada? Tenho que eu mesma ir lá e procurar o remédio, esquentar a água pra por na bolsa de água quente... e todo mundo sabe que bolsa de água quente, esquentada por nós mesmas, não faz efeito: isso é coisa de mãe, de amiga ou de namorado fazer pra gente. O que cura cólica é remédio, o resto só tem valor sentimental. Dia de supermercado é um martírio: não dá pra falar "leva essa aqui que tá mais pesada". Outro dia, o vaso sanitário entupiu e lá fui eu comprar "Diabo Verde" para dar um jeito, porque o cara do conserto não trabalha aos sábados. 
É muito, muito grande a lista de coisas ruins, mas a gente sempre se acostuma. E aí quando percebe, dá uma satisfação danada saber que não é uma lata no armário alto que derruba a gente.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Como ser uma Princesa sem sapatinho de cristal?

Hei, Príncipe! Hei, você mesmo! Olha pra cá. Sou eu!

Não tá me reconhecendo? Olha, tudo bem: sei que não tenho olhar frágil, nem uso laço de fita no cabelo, nem tenho o andar suave, mas sou eu, acredita.

Me tira daqui. Me salva deste castelo assombrado. Só você pode me salvar.
Ok, sei que fui eu mesma quem construiu esta torre inalcançável pra ficar isolada, mas agora eu quero descer. Olha pra cá que eu tô falando com você!

Eu sei que foi burrice envenenar minha própria maçã e por isso mereço dormir este sono de 100 anos, mas seu beijo pode me despertar. Só seu beijo.

Puxa! O que custa você acreditar em mim? O fato de eu não usar sapatinho de cristal não quer dizer que deva ser condenada a ficar à mercê de dragões malvados. Olha, não é fácil usar sapatinhos de cristais. Principalmente quando se calça 39. Mas, vai por mim: sou eu mesma. Sua Princesa.

Para. Não precisa jogar na cara que não tenho absolutamente nada de Princesa, já sei disso há muito, muito tempo. E, pra seu governo, vivi muito bem até agora assim. Ser Princesa é muito desgastante quando se tem que ganhar o próprio salário, pagar mil contas e tudo o mais. Sim, rapazinho, eu mato um dragão por dia. Mesmo assim eu preciso que você me salve.
Me tira daqui, cara. Já tô perdendo a paciência e esse lance de ficar suplicando não faz minha cabeça. Além do mais, se eu precisar insistir muito vou acabar me convencendo de que é mentira essa estória de ter meu próprio Príncipe. Quebra meu galho e me tira daqui.

Me salva desse mar de lama, onde tem um monte de sapo que só serve pra uma noite e também pra me sentir culpada. Olha, embarquei nessa de ser salva pelo Príncipe porque me falaram maravilhas sobre você e seus nobres colegas. Adorei aquela parte do “Felizes para sempre”. Agora você tem de colaborar. Pra falar a verdade, eu até que me dou bem com alguns dos sapos desse imenso brejo que cerca minha vida, por isso mantenho o telefone deles na minha agenda. Ou melhor, no IPhone. Afinal, sou uma Princesa (sou?) moderna.

Ai, ai, ai. Como é? Vai ficar aí parado enquanto eu vejo todas as outras Princesas se dando bem? Vai fingir que não é com você que eu tô falando, enquanto vejo daqui de cima o Grande Baile cheio de casaizinhos dançando lindamente? Pô! Que sacanagem.

Bateu uma dúvida agora. Responde aí: você tem várias Princesas ao longo da vida ou será que existe uma Princesinha feita sob medida pra você? Tô perguntando isso porque eu já descobri que na minha vida só existe um Príncipe (você!), por isso os outros têm cara (alguns têm, inclusive, caráter) de sapo. Olha só, raciocina comigo: se você tem sua Princesa-metade (e obviamente sou eu) como você sai por aí beijando todas as outras? Ah, deixa disso: não tô com ciúmes. É curiosidade. Será que você não se sente perdido também? Será que não lhe dá aquela sensação de que seu pedaço de bolo veio sem recheio, ou que seu Sundae tem menos calda de chocolate? Sim, porque é exatamente isso o que eu sinto: na minha caixa sempre falta um bombom. Meu biscoito tem menos cobertura. É assim que eu sinto o mundo. 

Mentira! Não sinto o mundo todo assim, só o que diz respeito a beijos e aquelas outras coisas tão gostosas quanto bombom ou sorvete. Sinto que falta o melhor, falta o complemento. Por isso, chamos-os de sapos. E você, que me fará sentir, finalmente, o gostinho daquilo que tava faltando, eu chamo de Príncipe.

Vai continuar ai, né? Já entendi: se eu quiser descer daqui desta torre gelada, que eu desça com meus pés. Até que você tem razão: fui eu que subi sozinha. Mas, puxa vida, custa me ajudar?

Ah! Quer saber de uma coisa? Agora quem não quer que você me salve, sou eu, tá legal? Fica aí, assiste seu futebol, toma sua cerveja e eu me arrumo. Já fiz coisas muito mais difícil do que despertar de sono de 100 anos. Não preciso de beijo de ninguém.

Eu só queria saber porque você não quis me salvar. Será que laço no cabelo é fundamental? Princesa de cabelo curto pintado de vermelho não tem chances de ser salva? Ou será que a tal aparência frágil e indefesa é que é fundamental? Mulher que sabe descer de torre sozinha tem mais é que ficar com sapo. É isso? Tenho de ser mais calminha, mais passiva e viver à sua sombra? É isso que, no fundo, esperam da gente.

Príncipe, eu queria de verdade que você me salvasse de todos aqueles feitiços, dragões e sapos horríveis. Queria mesmo. Mas se o preço a pagar é perder minha identidade e ser do jeito que dizem que eu tenho de ser; é me comportar como boa moça e só fazer o que me permitem, bem, se o preço é esse, lamento informá-lo, mas eu tô fora!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Quantas marcas

No meio da conversa, sem mais nem menos, falei "acho que nunca amei ninguém desse jeito". E todo mundo ficou com aquela cara de espanto. Acho que ninguém esperava me ouvir falando de você assim.
Mas é isso mesmo e, por mais que eu quisesse negar pra eles, não ia conseguir negar pra mim. É isso aí, apesar de tudo, eu amo você. Acho que amo desde o dia que te vi pela 1a.vez, lá na casa da Sílvia. Eu sei que não existe jeito de medir o tamanho ou o peso de um amor, mas o que eu sinto por você é maior do que eu já senti por alguém. Minha tão famosa incapacidade de amar foi a nocaute.
Você também não acredita,né? Tudo bem, eu também duvidei, mas naquele dia que fui dormir na sua casa porque perdi minhas chaves, tive certeza de tudo isso que tô falando. Fiquei brigando com meu sono só pra ficar te olhando, que nem na música do Cazuza: perder noites de sono só pra te ver dormir. Que prazer mais egoísta é o de gostar de outro ser.
E quanto mais eu penso nesse prazer besta e egoísta, mais eu vejo que te amo com uma verdade, com uma intensidade que eu não sabia existir. 

Eu te amo pra mim mesma, não te pediria amor em troca. E depois que aceitei isso alguma coisa mudou. Sei lá se é bom ou se é a maior cilada do mundo. Eu tenho um medo desgraçado de sofrer, mas coisas mesquinhas, fúteis, sofríveis não combinam com esse sentimento. Tudo bem que ele me aperta o peito de vez em quando, mas e daí? Quando suas mãos apertam meus peitos eu também sorrio assim. Quando sua boca encosta nos meus peitos, eu te amo até me perder.

Não quero te provar nada. Nada mudaria em mim se você me amasse. Talvez eu pudesse te falar, em vez de escrever, mas pouca coisa mudaria. Porque o amor que eu sinto, por mais que tenha adereços, enfeites e licenças-poéticas, é aquele amor cafoninha que todo mundo ama. Deixo de ser fashion pra poder te amar mais e mais e mais.
Amo quando você chega. Seja na minha casa, seja na sua, seja naquele motel horroroso que a gente foi semana passada. Amo quando você chega e, de certa forma, também quando você vai embora e deixa em mim só o seu cheiro. E algumas marcas. E se fosse falar das marcas que você deixou em mim, ficaria horas escrevendo. Você me marcou demais. 
 
Mas agora preciso me concentrar no amor que sinto quando você vai embora, porque eu acho que você está mais perto da porta de saída do que da minha cama.
E o que mais me assusta é que eu te amo até quando você não vai mais chegar.