segunda-feira, 1 de março de 2021

MANIAS

Tenho umas lembranças antigas, da época de 1ª série, sabe? Lembro de estar prontinha pra ir pra escola e minha mãe, ao me ver arrumada, levantava minha saia para dar uma conferida no que estava usando por baixo: se a calcinha fosse velha, ela mandava eu trocar.

De tempos em tempos, ela fazia uma varredura nas nossas gavetas de calcinhas, minha e da minha irmã: as calcinhas que não fossem novas (ou, pelo menos, que não parecesse assim), não tinha conversa, iam pro lixo.
Desde sempre, se ia viajar ou dormir na casa de alguma amiga, minha mãe perguntava “não tá levando calcinha velha, não, tá?”. Quando ia passear, ouvia “colocou uma calcinha nova?’.

Quando eu reclamava, ela falava “Vai que você leva um tombo na rua e a calcinha aparece?” .
Tinha também o argumento do acidente: já pensou sofrer um acidente e ter de ir pro hospital? Chega lá e tá usando uma calcinha velha. Que vergonha!”.

Uma mania meio doida que, de tanto ser repetida, eu herdei. Até hoje não consigo ter aquela calcinha de algodão, com o elástico largo que, dizem, é ótima pra ficar em casa.
De vez em quando eu achava que era exagero ter tanta calcinha tinindo de nova. Sim, porque minha gaveta de lingerie parece mostruário de loja. Mas uma coisa falada tantas vezes desde a infância, sabe como é, fica na cabeça da gente.

Há alguns anos, indo do trabalho para casa, de moto, me acidentei. Levei um tombo que me faria ficar alguns meses em casa. Deitada numa das pistas da Epitácio Pessoa, enquanto esperava os Bombeiros me levarem para o hospital, liguei pro namorado " Caí. Calma, tá tudo bem. Acho que só quebrei a perna. O resto tá inteiro. E a calcinha é nova.”. Mania é mania.