quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Coisa de vagabunda - Clara Averbuck

Isso é coisa de vagabunda. Mulher que se dá o respeito não anda assim. Não faz isso. Não bebe, não anda pela rua com homem. Mulher que se dá o respeito não fala assim. É feio. É sujo. Mulher não pode ser suja, mulher tem que ser delicada, tem que ser comportada. Mas sensual. Mas não muito. Tem que saber fazer o jogo do esconde-revela. Tem que saber seduzir, a mulher. As que são lindas é só ser mesmo, né? Não precisa exagerar com salto e maquiagem, salto e muita maquiagem deixa a mulher vulgar, homem nenhum vai querer mulher assim ao seu lado, só pra usar e jogar fora. E as gordinhas, até elas têm vez, é claro que tem lugar pra todos nesse mundo, tem quem goste das gordinhas, tem quem goste de tudo, mas tem que se cuidar, gordona também não pode. Mulher tem que se cuidar. Mulher tem que. Mulher tem que se vestir bem, tem que se cuidar. Mulher tem que. Tem que. Tem que. Mulher não pode. Mulher tem que. Depois reclamam, né. Saem assim, andam por aí e depois reclamam quando acontece alguma coisa. O mundo não vai mudar porque vocês querem, o mundo é assim, mulher tem que se cuidar, se resguardar. Depois que a mulher pega fama, já sabe. Depois não reclama. Fazem o que fazem, vão pra rua mostrar os peitos, querem topiléssi na praia e depois reclamam. Não pode. Assim vocês não conseguem nada. Não pode, mulher não pode. Ensinam as filhas assim, depois reclamam quando aparecem grávidas, depois querem abortar, depois reclamam que os pais fogem. Fazem o que fazem e ainda querem arrumar marido. Assim ninguém respeita. Mulher tem que se cuidar. É só a mulher se cuidar que fica tudo bem. Mulher que se cuida, que fica em casa, que não sai por aí, vai acontecer o que? Mulher tem que se dar o respeito. Quer ser livre? Aguenta. Mulher que se respeita sabe que liberdade não é tudo isso. Liberdade, isso aí é papo de vagabunda, de feminista que quer estragar as mulheres. Estava tudo muito bem com as mulheres em seu lugar, até que veio uma querendo revolução e olha aí. Se tivessem homem pra proteger, não estavam querendo liberdade nenhuma. Mulher que se dá o respeito não quer liberdade. Liberdade é coisa de vagabunda.


*Clara Averbuck é escritora

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Flor Amarela


Que eu sou compulsiva eu sempre soube. Não gosto de nada "pouco", tudo meu é sempre "muito": não gosto mais ou menos de alguém, não leio de vez em quando, não como só um pedacinho. Sou exagerada e quero sempre mais, mais. Em tudo.
E essa parada de escrever vicia, é uma compulsão. Claro que não descobri isso agora, pois eu sempre escrevi (e que bom que optei por escrever, porque era bem capaz de optar por beber. Aí, meu bem, eu já seria uma Renatinha Hoitman desde criancinha). Mas há fases que os assuntos são mais profundos, outros menos, e tem época que simplesmente eu morro de preguiça. Sou de extemos, lembra?
Assim como nunca vou ler todos os livros que eu gostaria (sim, porque eu gostaria de ler todos os livros do mundo!), também não vou conseguir escrever tudo o que está aqui na minha cabeça, esta coisa lotada de idéias, de assuntos. Devo ter até uns parágrafos inteirinhos prontos. Mas não vai dar, porque falta tempo (eu trabalho um pouquinho,né? E meu chefe não viaja tanto assim, aquele ordinário. Custava?) e também porque daria um trabalho imenso... Aí, me lembrei de um poeminha que escrevi há uns 2 ou 3 séculos. Cabe direitinho aqui:



Flor Amarela

Tem muita notícia por aí
neste mundo louco.
Tem muita coisa
acontecendo nas ruas e esquinas.

Tem gente, tem show
tem briga e descoberta

Tem tiro, tem lei
tem tanta coisa por aí
que meus olhos se enchem
de uma preguiça marota.
Uma preguiça de pensar sério
nos assuntos sérios da vida.

Uma preguiça moleca
que me faz prestar atenção
no flor amarela do vestido da vitrine
.