sábado, 20 de agosto de 2011

“A inveja é uma emoção dolorosa”



Constatação de uma matéria da Revista Istoé Ed. 2064 04/Jun. 2009 e disponível neste blog aqui

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

CONTROL C/ CONTROL V


Há mais de um ano escrevi o texto abaixo, sobre "cópias" de textos meus. Hoje, mais uma vez, me deparei com situação parecida. Sou inteligente e sem vaidade o bastante para falar que muito do que escrevo sofre influência de autores a quem admiro. Mas influência é bem diferente de cópia, né? E cópia inclui mudar a ordem da frase, usar sinônimos e outros "truques baratos" para dar uma disfarçada e não confessar que rolou um "Control C/ Control V". À pergunta que já me intriga há tempos ("Qual a graça de ser uma mera copiadora de textos alheios?") acrescento: como se sente a pessoa que recebe o elogio por algo que ela não fez? 




Dias desses encontrei um blog que é praticamente a cópia deste aqui. Vários textos são quase uma cópia dos meus.
Talvez devesse me sentir orgulhosa por saber que tem alguém que curte tanto o que escrevo a ponto de copiar parágrafos inteiros. Mas não, não vejo como uma "homenagem". Apenas pergunto: qual a graça de fingir que um texto é seu?
Uma das motivações que me levam a manter este espacinho é que vira e mexe recebo comentários do tipo "Aline, você escreveu exatamente o que eu sempre tive vontade" ou "Menina, você colocou em palavras todos os meus conflitos". Isso significa que os assuntos, dilemas e paranoias não são exclusividades minhas. Ao contrário: escrevo sobre minhas experiências e impressões que são também a de muitas mulheres.
Escrever é tarefa solitária e por vezes sofrida. É preciso confrontar monstros internos, relembrar assuntos que pareciam esquecidos mas que ainda assombram. Porém, com o uso da criatividade é possível encontrar algo gostoso: falar de uma maneira diferente sobre assuntos tão batidos, tão frequentes. Usando criatividade e, claro,bom humor.
Ser escritora é dolorido, pois exige entrega, exposição e confrontos. Qual a graça de ser uma mera copiadora de textos alheios?

PEQUENO GRANDE AMOR/ MARTHA MEDEIROS

Porque não é fácil esquecer você, deixo meu lado romantiquinha falar e publico este poema da Martha Medeiros:


Pequeno grande amor
que gerou toda sorte de reflexão
Se fosse apenas um pequeno amor
passaria longe do meu epicentro
Se fosse um grandíssimo amor
estaria tudo ao meu redor devastado
Mas foi um pequeno grande amor
daqueles que têm tamanhos para todos os lados
e só podem ser medidos por dentro.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

DELICADAS, AS AMIZADES - AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA


"Pode-se dizer tudo o que se pensa a um amigo?"
"Quanto de verdade suporta um amigo?"
"Aliás, o que é a verdade?", já indagava Pilatos antes de crucificar o outro.
"Como combinar, articular, fazer coabitar a verdade nossa com a verdade do amigo?"
São muito delicados os amigos. Ou se quiserem, as amizades. São delicadíssimas. E é por isso que convém aceitar que cada amizade tem suas fragilidades.
Bom, se o anel que tu me deste era vidro e se quebrou, então, melhor seria que de diamante fosse. Este, inquebrantável.
Mas amizade, convenhamos, é coisa humanamente frágil. E a gente pensa que ela está aí para sempre. Mas não tem a durabilidade centenária das sequoias, que ficam se alongando e nos ofertando sombra acima de tudo. Às vezes, as amizades são essas orquídeas, carentes de um tronco alheio onde se alimentar e florescer.
A gente pensa que amizade é coisa só de seres humanos. Não é. Os animais curtem amizades; alguns, o amor, e outros chegam à paixão extrema por seus donos. E, no entanto, amigos, alguns cães se mordem, quase se arrancam as orelhas num ou noutro embate, às vezes por uma cadela no cio, às vezes por nada.
Pode-se perder uma amizade por excesso de zelo, como se ao esfregar demais o tecido o rompêssemos. Cuidado, portanto, com o excesso, às vezes excessivo. Claro, também se perde amigo pela escassez de socorro ou de sinalizações afetivas. Também pela fala mal desferida. Ou mal ouvida. A gente fala ou escreve uma coisa, o outro ouve outra coisa. Se não der para desentortar a frase ou o ouvido alheio, a amizade fica torta.
Diz o apóstolo Paulo que o amor tudo suporta, tudo espera, tudo perdoa.
- Será assim a amizade?
Até hoje não ficou muito clara a diferença entre amor e amizade. Mesmo porque muito amor termina se metamorfoseando em amizade; uma amizade pode virar amor, e podemos inimizar a quem amamos e nos esforçamos por ser amigo de quem nos despreza. De resto, para matizar ainda mais as coisas, os franceses costumam falar de "amizade amorosa", algo parecido com que aqui há tempos se chamou de "amizade colorida".
Mas o que fazer quando algo nos incomoda no outro e a gente sente que, se não falar, a amizade vai começar a ratear?
Não há amizade assim solta no ar. Cada amizade tem sua usança e sua pertinência.
Deveríamos então criar um manual, algo assim como "Amizade, modo de usar?". Ah, sim! mas isso já existe, está, lá naquele best-seller Como fazer amigos e influenciar pessoas. Está?
Drummond tinha razão, uma triste razão, é verdade, ao dizer que as pessoas deveriam manter entre si a mesma relação que entre si mantêm a ilha e o continente, um certo distanciamento e uma não muito estouvada confraternização.
Mas aí a amizade vira algo pouco tropical, e como Thomas Merton dizia que nenhum homem é uma ilha, o que fazer com os que não têm a fleuma mineiro-britânica e não suportam viver num frio ou morno relacionamento?
Há pilotos que pousam pesados Jumbos com uma suavidade angelical, e por isso merecem aplausos.
Há médicos que fazem incisões profundas para manter o outro vivo.
Como dizer o que se deve dizer sem sangue ou náusea?
Um dia um ex-amigo me disse: "No princípio tentei te imitar, depois resolvi te destruir."
Tive de me proteger.
Quem, como José Martí, dirá que "cultivo a rosa branca em junho e em janeiro para o amigo sincero que me dá sua mão franca, e para o cruel que me arranca o coração com que vivo, nem cardo ou urtiga cultivo, cultivo a rosa branca"!?
Delicadas, as amizades. Uns porque se aproximando do poder esquecem os que no poder não estão. Neste caso não se pode nada. Outros porque viajam de formas várias e absolutamente impenetráveis ao redor do próprio umbigo. Retornarão algum dia?
Neste caso, como dizia Neruda, os de então já não seremos os mesmos.
Há vocacionados para amizade. Têm um dom natural. Árvores copadas onde se reúne o rebanho. Quando você vê, está todo mundo ali ouvindo, curtindo ou simplesmente estando.
Qual o grau de resistência de uma amizade? De um metal podemos dizer: derrete-se a tal ou qual temperatura.
São delicadas, as amizades. E mesmo as mais sólidas às vezes se desmancham no ar.