quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

SOBRE PAIXÕES E AUTOESTIMA

Sou a favor do amor. Sempre. Sou daquelas que precisa estar apaixonada o tempo todo. Claro que na maioria das vezes o alvo da minha paixão é um rapaz mais ou menos alto, com cara de homem e que beija bem. Mas algumas vezes me apaixono também por um livro, por um trabalho novo. Até por novelas eu sou apaixonada.

Minha última paixão durou 10 meses. Quase um ano de adrenalina pura: frio no estômago, downloads de música para ele, contagem regressiva para o próximo encontro. Uma delícia de vida. Até que a chama foi apagando. A chama dele, é bom deixar claro. Comecei a perceber aqueles sinais que a gente adora fingir que não estão ali, acenando pra gente a fim de mostrar que o outro não está na mesma sintonia. Por sorte os percebi e tratei de fazer o que era preciso: me afastei. Certa vez ouvi que uma dama sempre sabe a hora de se retirar e, mesmo sem ser assim tão dama, tão fina, agi como se fosse. Doeu? Pra caramba, mas doeria muito mais ver aquela história tão gostosa ir morrendo aos poucos. Enchi-me de coragem e falei "acabou, né?". Ele ficou atônito, sem palavras e eu continuei: neguinho, lembra o que combinamos no início? Que só ficaríamos juntos para sermos felizes, nossos momentos juntos seriam os melhores do mundo. Nossa história foi incrível, mas você não está mais a fim, então é hora de acabar.
Acabamos eu e ele, a paixão continuou. Mas meu lado capricorniano fala alto de vez em quando e me faz usar a razão: não vale a pena estar com alguém que não vai feliz da vida ao cinema comigo. Não vale a pena fazer-me cega para a falta de paixão do outro. Semanas de choro e muito colinho de amigas depois, reencontrei meu eixo e fiquei feliz por saber que fiz algo tão bom para minha autoestima, para meu amor próprio. E, principalmente, por ver que não deixei uma linda história de paixão, sexo e desejo virar uma coisa mais ou menos. Nosso romance teve um infarto fulminante, não precisou ir pra UTI, não agonizou. E hoje é uma linda lembrança.
Ok, eu sei que você vai pensar "pô, Aline, você deveria ter investido mais" ou "Ai, você desiste muito fácil". Não, eu não desisto fácil, eu só aprendi que para mim "pouco" nunca é o bastante. Eu quero tudo, eu quero muito. Sim, você advinhou: eu sou exigente. Estar com alguém que não está comigo me faz um mal imenso. E há algum tempo aprendi que sou eu que preciso cuidar de mim, não posso deixar esta responsabilidade nas mãos do outro. É muita responsabilidade para ele e muita burrice da minha parte.
Geralmente condicionar a felicidade ao fato de ter um namorado faz mal à minha saúde mental, à minha autoestima. E quando a paixão vai ladeira abaixo, me dá uma vontade imensa de desistir do amor. E se tem uma coisa a que me recuso é endurecer meu coração. O dia que isto acontecer vou perder o que tenho de mais bonito em mim: a capacidade de amar. Então, prefiro eu mesma cuidar de mim, ser seletiva, ser cuidadosa. Sou especial demais para me entregar a qualquer um. Da mesma forma que abandono um livro ruim, não uso uma roupa que não me caia bem, também dispenso um namoro morno. Sou especial demais e qualquer hora vai pintar um carinha apaixonado por mim. Enquanto isso, vou curtindo outras paixões: meus livros, meus textos, meus amigos.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

QUEM ENTENDE A VIDA?

Bonito esse cara. Bonito e simpático, uma combinação difícil de encontrar num único cara. Aposto que a mulher dele morre de ciúmes de ele olhar pra outra bunda. Mas será que ele é casado? Não vi aliança... amanhã vou prestar mais atenção.
Oba! Parou de chover: vou dar minha corridinha e - claro! - ver o gostosão.-Oi.-Oi.Droga! É muito rápido esse "oi" que a gente troca. Não dá nem pra dar um sorriso direito. Amanhã vou dar um sorriso malicioso. Ai, não acredito: parou pra beber água de coco. É agora ou nunca!
Da água de coco pro motel foi questão de semanas. Uma semana, pra ser bem exata. Se o cara paga a água de coco e o queijo coalho, eu é que não vou me fazer de santa. Além disso, se é pra dar pra alguém, que seja pra ele, que até que é bem cheiroso.O bom de azarar alguém no calçadão da praia é que dá incentivo, não tem desculpa pra não fazer exercício. Comecei a acordar cedo e correr na praia. Ele começou a sair do trabalho cedo e chegar em casa tarde. E a gente se encontra no motel ali pertinho. Rolou aquela paixão, ele virou o cara da minha vida, eu virei a mulher que ele procurou a vida toda e aquele blábláblá de início de paixão que todo mundo já sabe.
Hoje dei um ultimato: ou se separa ou a gente termina tudo. E que ninguém pense que sou daquelas fáceis, tipo putinha. Sou mãe solteira porque o babaca do namorado, quando soube da gravidez, disse que não tava preparado. Mas a mãe dele tem grana e paga uma pensão boa pro moleque. O que me irrita é a mania de se meter na minha vida. Ando meio preocupada com a reação da coroa quando souber que vou morar com meu amorzão.
Acabei de quase mandar a ex-sogra toda-poderosa pra pqp. A idiota disse que vai cortar a pensão. Vaca. "Dane-se, porque vou morar com ele e ele vai pagar minhas contas". O cara é louco por mim e pelo meu filho. Já alugou apartamento, botou o moleque na creche. E eu não preciso fazer nada além de cuidar dele e da nossa casa.Somos um casal feliz. Nunca fui muito fã de ralar em loja ou escritório pra ganhar salário de fome. E ele adora ter uma muher pra cuidar dele. Que casal feliz. Tem umas amigas se mordendo de inveja de mim, mas todo mundo sabe que encontrar a alma gêmea não é mole. Felizmente encontrei a minha. A gente só briga por ciúmes. Meu, claro. Odeio quando ele abre a porta do elevador pra uma vizinha vagabunda.O problema é que adoro sexo e ele já perdeu um pouco do vigor. Uma vez por semana e olhe lá. Pra ele tá bom demais.
Mas e eu? Tenho minhas vontades. E vou falar uma coisa: nunca fui de medir consequências, se bobear vou é dar pra um carinha daqui do prédio. Sim, porque se existem vizinhas gostosas por aí, também têm os vizinhos cheios de hormônios. Sou muito nova pra virar dona de casa. É só fazer bem feito, sem ninguém notar. Traçar aquele vizinho vai ser moleza. Quem nunca deu pra um vizinho, afinal de contas?
"Mas e se ele souber?" É isso o que a vozinha sensata (ou seriam as amigas?) me diz todo dia. Bem, se ele descobrir eu nego. Choro, se precisar. Ele sempre cai, acredita em mim. É só não deixar de servir o jantar às 7:30 em ponto. Caraca! Maior coisa de velho jantar tão cedo. E dobrar o pijama de manhã? Existe coisa mais de velho do que isso?Não pense mal de mim, sou gente boa. Tinha tudo pra ser mais uma dessas muitas mulheres na faixa dos trinta e poucos anos que ralam pra construir a carreira, depois de muito estudo e salário merreca de estagiária. Mas ficar que nem minha irmã? A coitada fez faculdade e até intercâmbio e mal consegue pagar a prestação do carro. Não nasci pra isso. Adoro olhar para minha casa, pra aquela família que construi. Na maior parte do tempo não é nenhum sacrifício escolher o que a empregada vai fazer pro jantar, mandar pra tinturaria os ternos dele, buscar o filho na escola. Não, definitivamente não é sacrifício. É prazeroso viver como quem brinca de casinha, com pai, mãe e filho. Do jeito que sempre quis que meus pais vivessem... mas minha mãe tinha uma mania insuportável de não se submeter ao meu pai. Tudo bem que meu pai é um pouco machista e ficava meio violento quando bebiam. Se separaram quando eu tinha uns 7 anos.Gosto de ser dona de casa dondoca. O problema é que faz quase 1 mês que não transo. Perdi a vontade, sabe? Na verdade, perdi a vontade com ele. Porque sei que vai ser aquele sexozinho meia bomba, papai-e-mamãe total. Quem sente vontade de fazer isso? Aliás, isso só dá mais vontade de dar pro vizinho. Dar mesmo, com força, com bastante desejo. Se alguém falar "fazer amor" perto de mim é bem provável que leve um murro. Tô precisando é trepar, foder mesmo. Mas com ele? Ai, desanimo só de pensar. Vou é tomar um sol e ler minha revista.
Tava descendo pra ir pra piscina e vi o vizinho. Senti uma coisa começando esquentar... Aí lembrei do marido e de tudo o que perderia se ele soubesse de alguma coisa. Até outro dia tava tudo sob controle mas o porteiro filho de uma puta jogou uma piadinha e ele começou a ficar cismado. Passou a prestar atenção nas conversas por telefone, a fazer cara feia quando vou sair com as amigas, até que um dia jogou na cara: quem paga as contas é dono. Tenho dono. Dá uma tristeza quando penso nisso.Em vez de ir pra piscina, deitei quietinha na cama e lembrei de tudo o que conquistei: um marido legal, bem de vida, carro na garagem, apartamento grande, bem decorado. Mesmo assim foi impossível não sentir inveja das amigas que vivem levando fora de carinhas babacas e se matam pra pagar o aluguel. Mas têm a liberdade de dar pra quem quiserem. Vai entender essa vida: eu aqui, doida pra dar e elas lá, sonhando em fazer amor.


sábado, 26 de março de 2016

Meu pai ainda é o meu sol

(...)
Você é meu sol
Um metro e sessenta de cinco
De sol
E quase o ano inteiro
Os dias foram noites
Noites para mim...

Meu sorriso se foi
Minha canção também
Eu jurei por Deus
Não morrer por amor
E continuar a viver...

(...)

- Girassol, Ira! 


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

VOCÊ TEM 1 NOVA MENSAGEM


Mensagem nova na caixa de e-mails. Se pensamento positivo atrai o que a gente quer, foi você quem mandou.
Pensar positivo vale a pena e atrai o que eu mais desejei nestes últimos tempos: é sua a mensagem. Uma dica de livro. Mas é um livro de autoajuda. Detesto livros deste tipo, mas vindo de você não tem como não ler. 
Você lembrou de mim porque era um destes best sellers babacas que falam sobre o quanto as “mulheres de trinta e pouco anos” perderam a feminilidade e lá eles dão todas as dicas de como devemos nos lembrar de nossas mães, sempre tão amáveis, sempre tão submissas aos nossos pais mantêm casamentos longos e felizes. 
Eu preciso me feminilizar. Eu preciso deixar de ser metida a besta e parar com aquela mania de achar que sou independente e poderosa. Eu preciso de um casamento feliz. É isso que você tem a me dizer. É isso que você pensa sobre mim.  
Faz 14 meses que não nos vemos. Há 14 meses eu sonho com você, mas sou cabeça dura demais pra te procurar e viver nossa história à distância. Eu tenho medo da distância que já existia quando morávamos naquele conjugado sem privacidade.
Minha memória para datas te assusta e te faz pensar que sou racional demais. Mas não tenho nada de cartesiana: se eu me lembro qual foi exatamente o dia que nos vimos pela última vez é porque não consigo isolar um fato do restante do cenário. Descartes nunca foi meu filósofo predileto. Não vou muito com a cara dos franceses.
Você sabe que sou emoção no estado mais puro e que tenho coração até no meio das pernas. E isto também te assusta.
Há 15 meses te deixei apavorado porque soltei um “eu te amo”, assim do nada. Depois de uma crise de risos – destes, sim, não me lembro o motivo.
No dia seguinte você veio com aquele papo bem coisa de homem: não quero te fazer sofrer, acho que não estou preparado para te amar.
Ninguém está, meu caro. Todo mundo diz que quer encontrar o grande amor mas não quer, não. No fundo sabem que é uma espécie de bungee jump do qual não se volta inteiro.
Dias depois, você chegou com um jantar surpresa e me derreteu toda. Fingi que não havíamos combinado que haveria carinho, mas nunca amor. Te amei como nunca naquela noite. Mais até do lá em Penedo, naquela pousada gelada que nos obrigava a passar horas abraçados debaixo do cobertor. Naquele dia eu te amei muito, mas acho que era mais pelo sexo. O cenário convidava.
E 14 meses depois do último beijo eu ainda te amo e te desejo e espero e-mails seus.
Esta seria só mais uma história de amor do cara que descartou a gata e da gata que não esqueceu o gato. Milhões de histórias são assim. Milhões de vezes eu vivi isso. No entanto, meu Tsunami, parei de lutar contra este babaca coração e deixei a coisa rolar. Desisti de te esquecer e partir para outra beijando um aqui e outro ali. Não que não tenha beijado alguns carinhas, é claro. Só parei de fingir que aquilo lá importava.
Desisti de te esquecer porque assim consigo ainda sentir o gostinho bom de, mesmo num momento tão caótico e extremo, gostar de um cara que se apresentou como de bem com a vida e bem resolvido – e se mostrou tão assustado quanto eu diante de um sentimento-ventania que balançou nossos alicerces.
Por ainda gostar de você, deveria produzir muito. Escrever milhões de páginas. Mas como dá pra notar, até este texto ficou bem babaquinha.
Quase tão babaquinha quanto qualquer um dos trechos do livro que você indicou. Eu nunca gostei de você por causa de suas histórias engraçadas, do seu senso de humor e muito menos pelo seu “carioca way of life”.  
Não havia nada mais prazeroso do que esperar você dormir de bruços só pra olhar suas costas peludas. Eu amava até seu medo idiota de eu repetir “te amo” em tão pouco tempo.
Eu gostava de você por nada e isso é coisa de quem gosta muito.