segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Bons amigos de 2014

  1. A força - Ian Mecler
  2. A mulher que não queria acreditar - Fernanda Takai
  3. A vida financeira dos poetas - Jess Walter
  4. Aqui, agora - Ian Mecler
  5. Chá de sumiço - Maryan Keyes
  6. Cheio de charme - Maryan Keyes
  7. Fim - Fernanda Torres 
  8. O místico - Ian Mecler
  9. Por que como tanto, doutor? - Alfredo Halpern
  10. Tecendo poesias - Marina Gouvêa    (sim, ela: tia Marina!)



Livros que reli em 2014

  1. A cabana - Willian Young
  2. A grande próxima sensação
  3. À espera do sol - Michael Greenberg 
  4. A verdade da Tropa - Mario Sérgio Duarte 
  5. Bridget Jhones: No limite da razão - Helen Fielding
  6. Budapeste - Chico Buarque 
  7. Comer, Amar, Rezar - Elizabeth Gilbert
  8. Confie em mim - Harlen Coben
  9. Coração Andarilho - Nélida Pinon 
  10. Delírios de Consumo de Becky Bloom
  11. Doidas e santas - Martha Medeiros
  12. Foi apenas um sonho - Richards Yates
  13. Leite derramado - Chico Buarque 
  14. Lembra de mim? Sophie Kinsela 
  15. Meu caminho - Adriana Bragança
  16. Mulheres, por que será que elas...? - Leila Ferreira
  17. Ninguém é de ninguém - Zíbia Gaspareto
  18. Nunca subestime uma mulherzinha - Fernanda Takai
  19. O diário de Bridget Jhones - Helen Fielding
  20. O convidado surpresa - Gregoire Bouillier 
  21. O clube das chocólatras - Carole Mathews
  22. Pessoas como nós - Margarida Rebelo Pinto 
  23. Vencendo o passado - Zíbia Gaspareto
  24. Trem Bala - Martha Medeiros

sábado, 20 de dezembro de 2014

IRMÃ MAIS VELHA PRA QUÊ?

Geralmente as meninas têm vontade de ter uma irmã mais velha, aquela que elas acham mais bonita do que qualquer outra, aquela em que elas se espelham, a quem admiram e que, geralmente, são as mais populares no colégio. Eu só tenho uma irmã mais nova e nunca senti falta de uma mais velha. Afinal, eu tenho uma PRIMA MAIS VELHA, que sempre foi a mais linda de todas as meninas, meu exemplo de garota legal, descolada, de quem eu queria ser quando crescer, que sempre foi popular. E a quem eu sempre desejei muita felicidade. Hoje é aniversário dela e só me vem uma frase à cabeça : Guízela, TODO AMOR QUE HOUVER NESSA VIDA.

sábado, 13 de dezembro de 2014

A queda Ou: o que aprendi com uma cicatriz


Há exatos 10 anos, tive um dia como tantos outros: trabalhei, paguei contas, li o jornal, vi uns roteiros de viagem, mandei beijo para o namorado, falei com um ou outro amigo. Os dias, por mais que a gente não perceba, são quase sempre quase iguais. 
Na saída do trabalho, dei alguns "até amanhã" para quem estava perto e segui para a academia. De moto, uma grande paixão.

Os dias, porém, por mais que pareçam ser sempre iguais, vez ou outra mudam um pouco. Sim, Drummond estava certo: existem pedras no meio do caminho. 
Naquele dia, no meio do meu caminho apareceu uma pedra e não deu tempo de desviar. Sofri um acidente com minha moto, uma Tornado (pra quem não sabe, é uma moto bem pesadinha, viu?), me estatelei na Av. Epitácio Pessoa, na Lagoa. Beijo no asfalto. Numa hora dessas, não há o menor clima para poesia e o que me veio à cabeça foi um sonoro "puta que pariu!".

Os bombeiros chegaram bem rápido e foram muito atenciosos: dentro da ambulância, percebendo que eu chorava de dor, um deles segurou minha mão e disse que tudo ia ficar bem. Fui levada ao Hospital Miguel Couto (em acidentes de trânsito, o primeiro atendimento deve ser em um hospital público. Vai entender). Antes, porém, liguei para dois "anjos da guarda": um grande amigo policial (é que a PM apareceu pra fazer o registro e achei melhor me orientar com um policial de confiança) e o ex marido, que foi imediatamente me dar assistência.


No dia seguinte fui a um hospital "de verdade", um particular onde fui bem atendida. O prognóstico médico, porém, não foi dos mais agradáveis: pelo menos 3 meses de molho. Quando ouvi isso, me bateu uma ansiedade, um medo de este tempo se arrastar e uma sensação de que eu ia perder um tempão da minha vida até ficar boa de novo. Passaria Natal, Reveillon, meu aniversário e Carnaval em casa, de perninha pra cima. Levando em conta que neste meu amado Rio, o Verão só é agradável pra quem gosta de sofrer, saquei logo que aquelas férias forçadas não seriam muito agradáveis.

Felizmente minha mãe me ensinou que "tudo acontece com todo mundo". Cresci ouvindo isso dela - que perdeu a mãe aos 15 anos mas nunca se fez de coitadinha, nunca reclamou da vida. Ela conta que chegou do cemitério e falou "Pai, vamos chorar tudo hoje porque amanhã a gente tem de voltar a viver". Quando ouvi isso pela primeira vez falei "Mãe, você não sofreu? Retomou a vida assim, tão fácil?". Sua resposta foi uma lição que trago como uma das verdades mais absolutas do mundo: Filha, mamãe já tinha morrido e eu não podia fazer mais nada por ela. Não ia adiantar sentar e chorar. Papai estava devastado, suas tias - elas tinham 13 e 16 anos - então, nem se fala. Alguém tinha de reagir. Se eu me entregasse, o sofrimento ia durar para sempre". Em vez de amaldiçoar a vida e se achar uma pobrezinha órfã, ela escolheu viver, cuidar dela mesma e, principalmente, do Vovô Gouvêa e das minhas tias.

Cheguei em casa e combinei duas coisas comigo mesma: a 1a foi não fazer aquela clássica pergunta "Por que eu?". Já que "tudo acontece com todo mundo", não fazia sentido eu bancar a vítima, reclamar e sofrer. Sem contar que entendo que quando perguntamos coisas do tipo "logo comigo?" é como se falássemos "Pô! Sou tão boazinha, é injusto! Aquele fulano, sim, merecia um acidente desses". É uma baita falta de humildade. 

A 2a decisão foi fazer que nem naqueles programas tipo AA: "SÓ POR HOJE" e assim não ficar fazendo uma contagem regressiva para o dia que voltaria a andar sem muletas e pudesse levar minha vida normalmente.

Essas duas posturas me deram uma serenidade danada (e vou contar uma coisa pra vocês: serenidade é uma coisa que experimentei pouquíssimas vezes na vida) e me ajudaram bastante. 


Minha condição de "dodói" me trouxe várias descobertas. Vi que eu dependo, sim, de muita gente: pra tomar banho, pra levantar da cama, pra me levar ao médico. Eu, que sempre tentei fazer tudo sozinha, tive de acionar várias pessoas para me ajudar nas tarefas mais simples, desde fazer um curativo na imensa ferida que o asfalto quente abriu, até comprar um chocolate quando a vontade batia.


Eu, recebendo o carinho da minha linda e amada sobrinha Mariana.
Os primeiros pedidos de ajuda foram difíceis de fazer. E foi um soco no estômago descobrir na terapia que isso se devia ao fato de eu ser muito controladora e achar que não precisava de ajuda pra nada. Aliás, minha prepotência me fazia acreditar que o outros é que precisavam de minha ajuda. Eu? Ah, eu era boa o suficiente para dar conta de mim e de todos os outros. O acidente me mostrou que não é bem assim. Foi bom aprender a pedir colo, principalmente à minha família e aos amigos próximos. 

Outro grande aprendizado foi perceber que a mesma pessoa que te fez um dia sofrer muito pode ser aquela que te dá a mão numa hora extrema. Não dá pra definir o caráter de uma pessoa ou o seu sentimento por ela (e o dela por você) em situações isoladas, é preciso nunca se esquecer do contexto. Há pessoas que são seu céu e seu inferno. E isso é uma constatação, não um sentimento.


Fiquei emocionada algumas vezes quando o telefone tocava e era um colega de trabalho que nem era tão íntimo meu e, mesmo assim, se colocava à disposição para uma possível ajuda. Da mesma forma, alguns que eu julgava serem companheiros, não se deram ao trabalho de saber como eu estava. Ótima oportunidade para reciclar as amizades. 

Durante o longo tempo que fiquei afastada daquilo que julgava ser a vida real (a mesma vida que eu achava que estaria deixando de viver enquanto me recuperava) percebi que vida é vida. Esteja eu trabalhando, doente em casa ou de mal com o mundo. As coisas não param e sou eu quem devo me adaptar ao ritmo desta dança. As coisas continuam, esteja eu lá ou não.

Meses depois, voltei a trabalhar, ainda com alguma dificuldade para andar e tinha sempre alguém para me ajudar. Achava tão fofo receber este tipo de carinho. 


Uma pessoa me perguntou se era muito difícil me olhar no espelho e ver minha perna "deformada": enquanto a esquerda estava grossa e malhada, a direita estava fina, sem firmeza, com uma cicatriz berrante, feia mesmo. Respondi apenas "Dá para andar, então estou no lucro". 

Quando você passa pelo que eu passei, fica caída numa autopista tão movimentada em pleno horário de "rush", é socorrida por bombeiros, se depara com a emergência de um hospital público, ah, meu filho, quando você passa por isso, começa a olhar a vida com olhos menos críticos, as prioridades mudam.

Um dia, na terapia, concluí que aquele acidente era meu, era eu quem devia passar por tanta privação, dor. E, principalmente, que cabia somente a mim a decisão de ficar meses de repouso apenas ou refletir sobre minhas condutas, minhas prioridades e, sobretudo, sobre a fragilidade da vida.

Hoje, as pernas já estão com a mesma medida, ando normalmente e tenho uma pequena cicatriz no joelho. O engraçado é que sou super vaidosa, tenho mil cremes, adoro uma novidade da cosmética mas NUNCA, nunquinha, usei creme algum para tirar esta marca. Gosto de olhar para ela porque me faz lembrar o quanto fui forte.

Tombos, por mais violentos que sejam, não vencem os fortes, os decididos. De lá pra cá, já levei outros vários tombos. Alguns deles me pareciam ser o derradeiro. Que nada! De um jeito ou de outro, acabei me levantando.


Por tudo isso adoro cada uma das cicatrizes que trago - no corpo ou na alma.


OBS: Este texto foi publicado originalmente em 13/12/2008.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Que dia é hoje? Ah! É dia de ser feliz...




Na época de escola, eu e meu primo Adriano (e a torcida do Flamengo) adorávamos matar aulas. Se a conta tão alta (repetência!) não chegasse no final do ano, mataríamos aula de 2a a 6a-feira.
Então, a mente brilhante do Adriano chegou à uma conclusão: matar aula às 4as-feiras. Motivo: deixar de ir ao colégio neste dia "quebrava" a semana, tornando-a mais curta. Era uma espécie de fim de semana durante a semana.
Peguei a mania: na faculdade eu tentava de toda forma não me inscrever em matérias neste dia, que passou a ser sagrado, o dia do não fazer nada, ou melhor, fazer o que agrada.
Até a dieta ganha folga neste dia. Quarta-feira é dia de comer brigadeiro ou torta de morango.
Não sou muito chegada a grandes extravagâncias, do tipo ir pra noitada, beber todas. Não, não é nada disso. É só um dia cujo único objetivo é ter folga, relaxar e ser feliz, posto que a felicidade está nas simplicidades.
Tenho um horário flexível no trabalho e adivinhe o que faço no meu dia da semana predileto? Tiro umas três horas de "almoço" e vou ao salão, marco massagem ou simplesmente fico lá embaixo lendo. Virou hábito e dos mais prazerosos.
E não é que um rapazinho muito querido me mostrou uma poesia do mestre Mário de Andrade que tem tudo a ver com este meu "estilo de vida"?

"Que bobagem falar que é nas grandes ocasiões
que se conhece os amigos!
Nas grandes ocasiões é que não faltam amigos.
Principalmente neste Brasil
de coração mole e escorrendo.
E a compaixão, a piedade,
a pena se confundem com amizade.
Por isso tenho horror das grandes ocasiões.
Prefiro as quartas-feiras."

Um viva às 4as-feiras, dia que só os muito observadores enxergam a inutilidade que é o compromisso de esperar o final de semana para se divertir.

domingo, 30 de novembro de 2014

30 de novembro. Aniversário do Marco Antonio Gripp

Aquele baseadinho que você fumou, bem despretensiosamente, ajudou a comprar a arma que matou o Marco.



domingo, 2 de novembro de 2014

Flor amarela



Flor Amarela

Tem muita notícia por aí
neste mundo louco.
Tem muita coisa
acontecendo nas ruas e esquinas.

Tem gente, tem show
tem briga e descoberta

Tem tiro, tem lei
tem tanta coisa por aí
que meus olhos se enchem
de uma preguiça marota.
Uma preguiça de pensar sério
nos assuntos sérios da vida.

Uma preguiça moleca
que me faz prestar atenção
no flor amarela do vestido da vitrine.

Aline Mello

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

PRA ELE, COM CARINHO E SAUDADE. OU: PARA TUDO HÁ UMA CANÇÃO

Paixão que é paixão não se explica e eu sou completamente apaixonada (em todos os sentidos da palavra - e do sentimento) pelo Milton Nascimento.
Há alguns anos conheci um (mais um!) mineirinho muito querido, o Elder Costa, que é cantor e compositor.
Conversa vai, conversa vem e ele me disse que compôs com o Milton a música "Outro lugar". Fiquei muda. Pálida. Ele percebeu minha reação e falou "conhece?". Se eu conheço? Essa música é linda! É uma canção de amor, e das mais bonitas. Ele achou que era exagero e só se convenceu que eu não estava rasgando seda quando falei em qual CD do Milton ela estava (Pietà). Ah! E tive de cantar alguns trechos.
Pronto, Elder convencido de que eu adorava aquela canção, pegou o violão e cantou pra mim.
Isso foi lá em Passa Quatro e estávamos no restaurante de umas amigas nossas.
O restaurante não é mais da Suzy e da Mônica (já foi do meu amigo Gugu e da minha "mãe mineira", Júlia e hoje não sei se ainda existe), faz tempo que não vejo o Élder e também não tenho ido a Passa Quatro. Mas... as canções, assim como alguns sentimentos, são marcantes demais e parecem tatuagem.
Essa semana foi aniversário de um rapazinho muito, muito querido, cujos momentos que passamos juntos ainda habitam meu coração. E lembrei desta música.


Cê sabe que as canções são todas feitas pra você
E vivo porque acredito nesse nosso doido amor

Não vê que tá errado,
tá errado me querer quando convém
E se eu não estou enganado
acho que você me ama também

O dia amanheceu chovendo e a saudade me contém
O céu já tá estrelado e tá cansado de zelar pelo meu bem.

Vem logo que esse trem já tá na hora, tá na hora de partir
E eu já tô molhado, tô molhado de esperar você aqui

Amor, eu gosto tanto, eu amo, amo tanto o seu olhar
Andei por esse mundo louco, doido, solto com sede de amar
Igual a um beija-flor, que beija a flor,
De flor em flor eu quis beijar.

Por isso não demora que a história passa e pode me levar
E eu não quero ir, não posso ir pra lado algum
Enquanto não voltar.

Não quero que isso aqui dentro de mim
Vá embora e tome outro lugar
Talvez a vida mude e nossa estrada pode se cruzar
Amor, meu grande amor, estou sentindo
Que está chegando a hora de dormir


terça-feira, 14 de outubro de 2014

Dia da amizade

Hoje minha amada amiga-irmã-parceira faz aniversário. E tudo o que eu disser que desejo a ela será incompleto porque só eu sei como Deus foi bom e generoso ao colocar uma pessoa tão doce no meu caminho.

Gui, não há uma única vez que eu ouça a palavra "amizade" que não me lembre de você. A associação é imediata porque eu acho que aprendi a ser amiga com você.

Meu beijo cheio de amor e admiração. 

sábado, 20 de setembro de 2014

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Notícias de uma guerra particular

Não gosto de ser gorda. Algumas pessoas ficam bonitas gordas (e lá no blog Mulherão tem um monte de exemplo). Mas eu não me acho bonita quando estou acima do peso. Sei que tem muitas raízes por baixo desta minha briga com a balança, mas o fato é que fico mais bonita, mais de bem com a vida e, por consequência, mais legal com o mundo quando estou mais magra. 

E desde o início de julho comecei a Dieta Nota 10 e estou bem satisfeita com o resultado. Tanto do espelho quanto da balança.




sábado, 6 de setembro de 2014

Ele, o machismo

Na primeira vez que ele me falou para não confiar em mulheres, dei risada e levei na brincadeira. À noite, porém, fiquei pensando naquilo e perdi o sono.
Ouvi de novo e de novo e de novo: "mulheres são as piores inimigas delas mesmas", "amiga sempre tem inveja de amiga" ou "mulheres só sabem competir entre si".
De certa forma, aquelas palavras faziam algum sentido, afinal, era super comum ver as amigas falando mal umas das outras. Será que ele estava certo? Reparando bem, tinha um monte de menina metida na minha classe.
Aí um dia cheguei em casa falando para minha mãe que não sei quem se achava a menina mais bonita da cidade, era insuportável e eu tinha muita raiva dela. Acho que ganhei uma medalha dele naquele dia. 
E, para não desapontá-lo - até porque ele esteve certo o tempo todo - passei a evitar turminhas de amigas e também comecei a dizer que elas eram todas fúteis e burras.
Um dia, uma "grande amiga" minha, deu em cima do meu primeiro namorado. Bem que ele me avisou: mulheres são sempre grandes ameaças umas às outras e comecei a perceber que as amigas, primas, irmãs, todas elas eram muito melhores do que eu. "Vagabundas!". Ele sorriu satisfeito e explicou direitinho que todas as minhas inseguranças vinham delas, as outras mulheres. Sempre haveria outras mulheres muito mais bonitas do que eu, muito mais interessantes do que eu e certamente elas estava a postos para me passar a perna.
Fui uma excelente aluna dele, o machismo.  
Aí, um dia eu estava muito triste, cheia de questionamentos e a amiga mais bonita que eu tinha me deu uns conselhos tão bacanas, sabe? Por causa dessa preocupação (carinho?) dela passei a repreender as outras amigas que debochavam dela, que era bonita mas estudava em faculdade particular; que era muito bonita mas o peito era de silicone. 
Foi naquele dia que o machismo teve um ataque de fúria para cima de mim porque eu saquei que não sentia ciúmes da amiga bonita e com isso parei de ver as outras mulheres como inimigas em potencial. Ele me atacou, disse coisas horríveis e até - confesso - me desestabilizou um pouco. Mas lá estava a amiga bonita, novamente, me dando carinho e dizendo que eu podia contar com ela.
Ele se desesperou, me xingou, disse coisas horríveis porque se eu me tornasse amiga de outras e outras mulheres nós teríamos muito mais força para brigar com ele.
Então, de vez em quando ele me mandava uns recados e dizia que me falava aquelas coisas para o meu bem, para eu não me "desvirtuar" e passar a pensar que poderia ser diferente, ser moderninha. E que se um dia eu pusesse em prática aquele meu discurso de igualdade entre homens e mulheres - aquela palhaçada, nas palavras dele, de que homem tem de respeitar a mulher, tem de ajudar em casa, com os filhos - ah, se eu ousasse colocar em prática esse meu discursinho feminista eu ia me dar muito, muito mal na vida. Se calhar, nem me casaria. 
O machismo acha que mulher tem de seguir os exemplos de nossas avós, tem de ficar em casa cozinhando, lavando e tal. E se quiser trabalhar, pode até trabalhar, mas tem de fazer os deveres de casa também. E mulher que não encaixa muito nestes moldes e resolve, sei lá, não ter filhos, nossa! esse tipo de mulher é uma vadia e quer destruir a sociedade, a família. É uma egoísta que vai sofrer muito na velhice. Vai morrer de solidão.
É, o machismo é feroz: fala umas coisas que assustam a gente, às vezes dá até medo me não seguir sua cartilha. Mas percebi como ele perigoso e cruel, e joga sujo, porque joga com suposições, usa do passado como exemplo para nós, que estamos aqui, tão contemporâneas e dizem que o futuro vai ser sombrio por causa de mulher assim, que nem eu. 
O machismo não gosta da mulher, embora o machista adore se gabar de ser tão macho, tão hétero. O machismo só admite mulher posição de fácil dominação: sem estudo, sem um bom emprego, dependente dele. 
Entendo o objetivo do machismo - por mais que não compactue, eu entendo: ele quer colocar o homem no papel do fodão, do indispensável. E sua sobrevivência está garantida enquanto meninas continuarem acreditando no que ouvem se tornando, por isso, mulheres inimigas de outras mulheres. Enquanto houver uma disputa, uma única que seja - quem tem o cabelo mais liso? quem tem a bunda mais dura? - o machismo está garantido, vai procriar feito coelho. A estratégia desse cara senil é ensinar que a gente tem de ser magra e jovem e passiva. Seu ego doentio se alimenta do que ele nos ensinou ser as nossas fragilidades: cabelo sem chapinha, celulite, peito caído. 
Mas o que, definitivamente, nunca, nunquinha, vou entender é o papel do machista. Por que tanto medo de uma mulher ao lado, em pés de igualdade?  

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Eu tenho um melhor amigo


Todo mundo tem um melhor amigo ou amiga. Eu tenho duas melhores amigas. Acho que sabem tudo sobre mim. Aliás, e ai está o problema das melhores amigas, elas sabem mais de mim do que eu mesma. Tenho um medo fodido de um dia elas me jogarem tudo na cara. Será? No posto de melhores amigas elas não deveriam fazer isso, mas sei lá se eu faço alguma merda federal e elas falem, de verdade, quem eu sou. Prefiro nem pensar nisso.
Tenho também um melhor amigo homem. E tenho meu melhor amigo virtual. Nos conhecemos num destes sites que prometem te fazer conhecer o grande amor da sua vida. A gente se comunica há mais de 1 ano, mas faltou, na mesma proporção, coragem e oportunidade para nos conhecer pessoalmente. Acho até bom, por um lado. Pode ser que o "ao vivo" nos fizesse ter reservas um com o outro. Para quem eu ia falar todas minhas esquisitices? A tela do computador é uma espécie de proteção, que nem aquele sorriso forçado que a gente dá mesmo quando tomou aquele pé na bunda mas sabe que o mundo não tem nada com isso. E também porque é preciso manter a dignidade. Ou, pelo menos, a pose.
Quem não conhece o mundo virtual talvez não entenda a relação estreita que se cria nas trocas infinitas de e-mails ou nos skypes da vida. É uma coisa absurda o quanto a gente se expõe, se abre, se confessa. Até se apaixona e morre de dor de corno por um alguém virtual.
Eu e ele somos do tipo que jamais poderia mesmo se conhecer pessoalmente, jamais poderia conviver. Eu vivo na merda, ele também. De vez em quando, rolam uns papos que parecem guerrinhas do tipo "sou mais fodido do que você". Mas ele sempre perde, não que eu seja sempre a mais fodida, mas é que escrevo muito mais do que ele. Sou a boca da relação, ele é o ouvido. De vez em quando me dá uns cutucões e mando ele ficar quieto porque eu já sei aquilo e ouvir só piora as coisas. Ele é um fofo e me entende. Ou finge que entende. Sempre me chama de maluca. Ele pode me chamar de maluca quantas vezes quiser, porque ele conhece cada uma das minhas manias loucas. Ele sabe tudo sobre mim, aliás, dos últimos 2 ou 3 anos da minha vida, ele sabe muito mais do que minhas melhores amigas.
A gente fala muita besteira, claro. Mas rolam uns papos-cabeça. Outro dia falamos sobre nossa fodição primordial, nossa "Fodição Capital" : pensar muito. Ele questiona tudo na vida, eu também sou assim. Penso muito e o dia todo. Eu nunca tinha pensado nisso, mas o irmão dele falou pra ele que o pior defeito dele é esse e ele se lembrou de mim.
Concluímos que grande parte de nossos problemas nasce dessa mania esquisita de pensar muito, o dia todo, sem parar. Isso não pode acabar bem.
O final do ano está quase chegando e isso me arrepia: é hora de repensar a vida. Sabe lá o que é uma pessoa que pensa compulsivamente o ano todo entrar numas de "repensar"? Estou fingindo que ainda é fevereiro.
É curioso que essa maquininha aqui consiga fazer uma pessoa como eu ser amiga de outra, como ele. É que nós dois temos implicância com gente. Ele é esquisitão, tem jeito de que, quando bebe umas e outras, aperta o braço da namorada. Eu sou esquisita até dizer chega. De tão esquisita, estranha, fiz amizade com um blogueiro cujo lema dos posts é "Estranho? Bizarro? Esquisito? Conte pra nós".
Meu amigo fala pouco, já disse. Mas faz umas observações brilhantes. E tem uma paciência comigo... De vez em quando diz que está ocupado (a gente tecla do trabalho) mas deve ser cansaço. Eu também ficaria cansada de mim. Eu fico cansada de mim.
Tomei um pé na bunda outro dia e ele, que acompanhou minha "paixonite" desde o início, falou "cantei a pedra". Quando alguém fala isso pra mim, eu mando logo tomar no cu. Mas ele eu não mandei,não. Não que eu nunca o tenha mandado se foder ou outras gentilezas afins, mas dessa vez eu dei razão a ele. E agora ele está incumbido de ser meu "personal lover": vai dizer o que eu posso ou não fazer, o que devo falar, o que jamais devo dizer. Tenho de avisá-lo sobre esse novo cargo.
Vamos ver se dessa vez eu aprendo. Porque vou te contar uma coisa: já estou de saco cheio de chorar minhas dores de cotovelo pra ele. Bem, estou é cansada de dor de cotovelo.
Será que dá certo isso? Um "virtual friend" acumulando a função com "personal lover"? Pelo sim, pelo não, amanhã eu tenho aula marcada com um, advinhe, "personal trainner"! É isso aí: o ano já se encaminha para o fim e vai ser duro me aturar repensando a vida. Tenho de me ocupar e exercício físico serve pra isso: me deixa exausta e não penso tanto. Ah! essa paranoia de final de ano me atinge mais particularmente porque tem o agravante de eu fazer aniversário no 4º dia do ano. Começar Ano Novo com idade nova é um carma, é muito sofrimento. Então, que seja um sofrimento com uma bundinha dura e perninha sarada.
PS1: Será que corpinho sarado é garantia de final feliz? Quero acreditar que sim. Mas e se não for? Vou pensar no assunto e amanhã o amigo virtual vai se cansar de tanto ouvir esse papo.
PS2: Que bom que a gente nunca vai se conhecer: a bunda não vai ficar dura em 2, 3 meses, a perna não vai ficar sarada e eu vou continuar deprimida como sempre. Então, o que eu menos vou precisar é de um olhar reprovador: mas é só isso? Você falou que estava se esforçando...
PS3: Se ele falar isso, mando ele pra puta que pariu. E vamos rir 3 dias seguidos.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Racismo no futebol



Este recente caso de xingamento ao jogador Aranha, me fez lembrar de um episódio que aconteceu há poucos dias:


Estava sentada num banco numa praça perto do meu trampo, lendo. Olhei para o relógio e vi que o horário de almoço estava no fim. Fiz menção de levantar e naquele exato momento um rapaz negro estava se sentando perto. Quando me viu levantando, falou bem alto "Você é racista!". Fiquei tão chocada e só consegui falar "Racista? Logo eu? O que você sabe de mim?". Ele falou que só por que ele ia se sentar eu me apressei a levantar.

Recomposta da injustiça, apenas falei "Pois saiba que sou descendente de Teixeira de Gouvêa e se eu cometer qualquer ato racista, mereço uma surra". O rapaz não entendeu nada e ficou me olhando assustado. Falei para ele que, da mesma maneira que ele se sentia ofendido quando sofria algum tipo de discriminação, eu também muito me ofendera naquele momento, ao ser xingada de racista. Sim, porque se algumas pessoas "xingam" um negro de negro, macaco ou sei lá mais o quê, para mim, ser chamada de racista era um xingamento com igual intensidade.

E para explicar : Teixeira de Gouvêa foi um fazendeiro em Macaé e na época pós libertação dos escravos, ele, que havia muito já não tinha mais escravos e sim funcionários, mandou que todas as tardes houvesse uma mesa na fazenda com comidas, frutas e água. Era para os "negros forros", que deixaram de ser escravos e nem por isso viraram cidadãos, poderem se alimentar. Os ex escravos perambulavam pelas estradas, famintos, mas ao final do dia sabiam que havia um lugar onde poderiam matar a fome e a sede. E este lugar era uma fazendo do tio de meu avô.


Em justíssima homenagem, foi inaugurada uma rua com seu nome. E nós da família Gouvêa temos muito orgulho de nosso ancestral e trazemos conosco a responsabilidade de honrá-lo e a forma de fazermos isso é uma só: repudiar toda e qualquer manifestação de ignorância ao repúdio pela cor da pele.

sábado, 30 de agosto de 2014

Meu pai.


Amor da minha vida.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

COISAS QUE AMO



Não sou mulher só de gostar. Gostar pra mim é pouco e eu sou de extremos. Não sou de "mais ou menos": sou mulher de amar.

E nesta foto tem muita coisa que eu amo: minha cidade, o cais da minha cidade, a bandeira do meu país, barcos e o mar. Dá pra ser feliz sem mar?

Eu, que sou apaixonada por Minas Gerais, me pego pensando se um dia poderia viver feliz em uma cidade sem mar... Toda vez que viajo, quero logo ver o mar.

Adoro banho de rio -já mergulhei até no Rio Negro, em Manaus. Mas não tem jeito: só o mar faz eu me sentir plena. Quando mergulho, sou a pessoa mais livre do mundo.

Talvez por misturar duas paixões minhas - o mar e a literatura - senti vontade de deixar registrado aqui o poema de Fernando Pessoa que é quase uma ode ao mar (e é um a pena que a maioria das pessoas só conheça o pedacinho do "valeu a pena?".


Mar Portuguez

"Ó, mar salgado, quanto de teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó Mar.

Valeu a pena? Tudo vale a pena
se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu"

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Deus vive na minha casa

O Mestre Carlos Emílio Faraco (sim, ele é meu amigo no Facebook. Sim, eu acho chiquérrimo ser amiga de um Professor e escritor tão fera como ele. Sim, eu metida pra caramba) postou uma poesia no FB:

Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e minha alma será salva.

A gente repetia
sem entender
e via casinhas
de porta e janela,
com coqueirinho
e sol na montanha.

Ficava esperando
a palavra de Deus
vir lá de fora,
porque a casa
era indigna,
pequena,
escura -
e Deus era brilho,
grandeza,
dignidade.

Um belo dia,
a gente resolveu sair à janela
e viu
que não havia brilho,
nem grandeza,
nem nada
e que a casa
flutuava no espaço,
à deriva.

Foi assim que conseguimos entender
o sistema solar,
o poder das mãos,
e o pensamento
como imensas âncoras.

E foi impossível não me lembrar de quando eu era criança e ouvia na igreja o trechinho que falava que, por eu ser indigna, Deus não ia entrar na minha casa. Eu pensava "ué, mas Ele está lá em casa o tempo todo!". E sempre esteve mesmo. Porque lá reinavam o amor, a caridade, a alegria e, principalmente, lá havia meus pais, que sempre se trataram com muito amor e respeito. E também ensinavam a mim e a minha irmã o valor da bondade, do amor entre os nossos.

Hoje entendo que Deus jamais deixou de habitar nosso lar e olha que não éramos católicos fervorosos, mas porque praticávamos (e ainda hoje) aquilo que é a verdadeira essência de qualquer religião: o amor fraterno e incondicional.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

MANTRA PRA NÃO FICAR CHATA

Ontem um velho amigo meu me falou "você já percebeu que em meia hora de conversa você já falou sobre mil defeitos seus?". De fato, no meio da conversa eu soltava umas frases do tipo "nossa! minha unha tá horrível", "meu cabelo tá sem corte" ou "tenho de voltar a malhar, tô gorda".
Quantas vezes, num dia, a gente não repete essas coisas negativa sobre nós mesmas? A gente fala isso com tanta naturalidade, que nem percebe e, quando vê, esse monte de reclamações já virou uma grande verdade na nossa cabeça.
Falei pro meu amigo que ele me deu um toque muito importante, pois eu, assim como um monte de mulher que eu conheço, ando precisando gostar mais de mim. Aí ele se lembrou daquele tal bilhete que um ex apaixonado me mandou e disse: faça dele um mantra! Acredite em cada uma das palavras. Se não, você vai virar uma chata de galocha.
Po! Gorda de cabelo sem corte e ainda por cima chata? É melhor fazer o que ele, que gosta de mim, mandou: Repetir que sou linda, maravilhosa e também ler este famoso bilhete.

"Será que você nunca reparou que pra mim não importa quanto você pesa? Em vez de tentar adivinhar isso, prefiro te abraçar e acariciar seu corpo macio. Aliás, adoro ver seu ritual de passagem de cremes: nas pernas, nos braços, na barriga. E quando você pede ajuda pra alcançar as costas, aí eu adoro ainda mais você.
Não sei seu manequim e nem me interessa. Sei o tamanho da sua cintura pelas minhas mãos e isso basta. E se alguma vendedora de roupa me perguntar seu tamanho vou responder: do tamanho exato para caber no meu abraço e dividir minha cama.
Aliás, foi uma resposta parecida que dei quando meu irmão perguntou como você era: do jeito que eu gosto. É, menina encanada com o peso e com o manequim, você é do jeito que eu gosto. Nunca reparou nisso, né? Por isso me deixa sozinho em casa e vai pra academia suar.
Não estou reclamando de você se cuidar. Eu só quero que você se goste desse jeito aí que você já é. E se você não acredita que é tudo isso, pergunta pra mim. Pra mim, viu? E não para nenhuma daquelas suas amigas do trabalho ou da faculdade ou sei lá de onde. Nenhuma mulher confessa para um homem que outra mulher é linda.
Para de me chamar de exagerado: eu acho você linda e pronto. Eu te olho diferente do que você se olha. Você está presa a padrões de beleza, já eu prefiro olhar pra você e descobrir cada dia um detalhe que te faz diferente e bela. Por exemplo, quando você toma uma decisão e nem me consulta: vai lá e faz. Eu faço cara de chateado mas acho um charme você saber o que quer. Também gosto de ouvir que eu não mando em você. Ah, e sua carinha de brava?É a coisa mais sexy que já inventaram. Aposto que tem amiga sua que treina na frente do espelho pra ficar igual.
Quer ver você me deixar com os quatro pneus arriados? É só dizer 'Tô com fome de doce' e devorar aquela barra de chocolate sozinha, em 10 minutos. Quando você abre o armário e diz que não tem roupa e fica olhando pra 3 mil vestidos e saias e calças, eu penso "vou casar com essa mulher".
Mas sabe o que me atrai mesmo em você? É que mesmo dizendo que é muito branca, que tem celulite desde que nasceu e que precisa de outra lipo, contraditoriamente você desfila pela casa sem roupa, numa naturalidade que me deixa perplexo. Eu amo ver você nua, ver suas pernas brancas, não ver nem marquinha de biquine. Outras mulheres precisam de marquinha de biquine para serem sensuais. Você não. Você só precisa ser você. De cabelo castanho ou vermelho, longo ou curtinho. Você está sempre na moda. Você merece sempre uma poesia. E eu sou louco por você."

sábado, 23 de agosto de 2014

Eu pensava que sendo magra seria mais fácil


Havia um tempo que eu pensava que ser magra bastaria.
Bastaria perder uns 10, 12 kg e então vários aspectos na minha vida mudariam: eu seria mais popular na escola, não ficaria tão triste quando tivesse de comprar roupas, não teria mais apelidos como "baleia", "bujão" e outros tão manjados e que sempre machucam.
Depois que eu emagrecesse, eu pensava, tudo seria muito mais divertido e menos incômodo: poderia usar roupas das minhas amigas e também emprestar as minhas, gostaria de me ver nas fotos, usaria cores claras nas roupas e não me esconderia tanto do mundo.
No fundo, tudo o que eu queria na vida era emagrecer 10kg. Claro que havia um motivo bem específico: com menos 10kg eu seria, enfim, uma menina bonita. Não seria mais aquela que "tem o rosto tão bonito, se fizesse uma dieta...". Quando eu fosse mais magra eu seria bonita como minhas primas e minhas amigas e então é claro que eu teria um namorado muito apaixonado por mim, como elas tinham. Olha, eu nem queria ser como algumas delas que tinham vários admiradores. Pra mim, um só estava muito bom. E então quando o namoro terminasse, eu nem ia ficar triste por muito tempo: eu ia era sair com as amigas e ser paquerada a noite toda, que nem elas.
Acho que devo contar brevemente minha história, se não vão acabar me achando meio fútil: fui uma adolescente gorda e nesta condição fui uma adolescente eternamente atormentada (por mim mesma e sobretudo pelos colegas, amigas e família). Fui bem gorda até os 15 anos, quando fiz uma dieta maluca (a 1ª de muitas) e emagreci bastante. Fiquei quase magra, fiquei quase bonita. Durante este tempo eu não vivia só pensando em como emagrecer, eu gostava também de estudar, sempre fui alucinada por leitura, estudei Inglês. Estou falando isso pra você não pensar que minha cabeça gorda era vazia de conteúdo. Olha, eu não queria simplesmente ser bonita e pronto. Eu queria ser magra para que as coisas fossem mais ou menos parecidas: meu interior e meu exterior. Ah, ninguém gosta de ser elogiada só por ser bonita e nem só por ser inteligente. Continuando minha história: emagreci com 15 anos e engordei várias vezes desde então. A média até que foi positiva para meu lado: hoje, bastante tempo depois, visto manequim 40. Bom, né?
Aí é que vem a parte irônica disso tudo: as coisas eram muito mais fáceis quando eu era gorda. Sim, eram mais fáceis e melhores. Não, eu não sou uma eterna insatisfeita,não! Explico: quando eu era gorda e me interessava por algum rapaz, já sabia de antemão que não ia rolar nada. Ele não ia ter o menor interesse por mim, e com toda razão: eu era gorda, lembra? Razão maior que essa não há. Bem, admito que nunca fui uma encalhada, até que beijei muitas boquinhas por aí. E aqui é que está o interessante : quando eu ficava a fim de um carinha, eu esperava que ele nem me olhasse, então, o que viesse era lucro. Ou seja, quando o cara se interessava também, eu encarava como uma exceção à regra. A regra era ser rejeitada.
Hoje, dentro do meu manequim 40 a regra continua valendo, acredite você ou não. Com "trinta e uns" anos não tenho uma única história de amor verdadeiro para contar não para meus netos, que nunca virão, mas para contar pra mim mesma. Ok, amores verdadeiros não andam por aí dando mole, aparecendo a toda hora.
Não quero ser uma devoradora de homens, isso nem combina comigo, mas eu gostaria de pelo menos despertar a atenção de um ou outro carinha, sabe? É gostoso estar num barzinho e receber uns olhares, alguém pedir meu telefone. Todo mundo gosta. Quando acontece de algum carinha me achar, sei lá, charmosinha e a gente sair, aí é que a coisa complica mesmo : ele perde o encanto. Como que por encanto mesmo: de repente o cara que era todo gentil simplesmente some do mapa.
Já fiz algumas "experiências": agi de forma diferente só para testar se aqueles velhos conselhos ainda valem: não beijar no 1º encontro, não me mostrar auto-suficiente logo de cara, não deixá-lo pensar que sou uma carente de carteirinha, ouvi-lo falar por horas sobre o carro novo que vai comprar... Depois do 3º ou 4º encontro é um tal de "ando tão ocupado" pra cá, "estou sem tempo" prá lá que às vezes eu até dou risada. Só às vezes, porque na maioria das vezes eu fico é muito triste e me pergunto o porquê, afinal, isso sempre acontece comigo. Será que sou muito chata? Será que meu papo cansa? Será ... será... será o quê?
No final das contas, era bem mais fácil quando eu era gorda. A culpa era minha e ponto final. Eu já sabia onde estava o erro: estava na minha (falta de) cintura, no pneuzão da barriga. E é muito mais fácil culpar o ponteiro da balança

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

18 de agosto



Lara, vem cá;

Lara, te amo;

Lara, vem com a titia;

Lara, para com isso!;
Lara, te amo;
Lara, tô com saudade;
Lara, Lara, Lara, Lara...

Há 11 anos descobri que o amor não é substantivo abstrato: ele tem tem nome, sobrenome, boquinha vermelha de batom, olhos iluminados e me chama de Dinda.

O amor faz bagunça, usa vestido rodado, se veste de Princesa, de bailarina e quando me abraça
esqueço o resto do mundo.

O amor me faz feliz quando me acorda cedo e pede café com leite, quando não me deixa ler um livro sossegada e pede pra usar minha maquiagem.

O amor escreve "Dinda, te amo do fundo do coração" e diz que tenho cheirinho de tia querida.

Lara, Lara, Lara...
Que orgulho ver você crescer, tão inteligente, astuta, bagunceira e doce. Teimosa e determinada.
Serei a sua eterna tia coruja, ao seu lado sempre. "A minha sorte grande foi você cair do céu, minha paixão verdadeira".


Lara, você que encheu de luz a minha vida num certo 18 de agosto, 2a-feira, em Laranjeiras.



Sou sua tia, sua dinda, uma eterna apaixonada, enfim.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Selfie literário

Minhas sobrinhas, além de lindas, fazem parte da geração Flip: a da galerinha que cresce com o hábito da leitura. E eu, coruja que sou, fico muito, muito orgulhosa!

O G1 fez um "selfie literário" muito criativo e minhas amadas participaram. Para ver o vídeo, clique aqui 

FLIPINHA

Também a Flipinha fez um sucesso imenso.


FLIP 2014

Sem palavras para descrever o que foi a 12a edição da Flip.



segunda-feira, 28 de julho de 2014

O que é bullying? E porque fazem isso?

Esta semana tive um sonho pesadelo bem desagradável: meu gatinho deu em cima de minha prima e ela correspondeu. Começaram a namorar.

Acordei assustada, voltei a dormir e... o pesadelo continuou.

Sofri tanto. Acho que, na verdade, "re-sofri": era um Déjà Vu. 
Mas desta vez havia um agravante. A prima era diferente, era a Gab e a Gab não faria isso comigo.

Tive amigas que eram as "figurinhas carimbadas", mestras em fazer isso comigo. E não era por se tratar de um carinha interessante. Era pelo prazer de me atingir. 
Mas a Gab, não. Era como se fosse algo do tipo "pô, só faltava você. E você não podia. A gente se ama, Gab". Mesmo que uma vez ou outra você tenha debochado por eu ser gorda, essa baixaria você não faria comigo.


Pronto. Toquei no assunto chave. Fui uma adolescente gorda e, como todos sabem, gordas são feitas para serem zoadas, virarem piadinhas, não serem paqueradas e terem seus eventuais namorados roubados pelas magras. Na adolescência, então, esta é uma regra sem qualquer exceção. 


Todas estas regras foram aplicadas em mim: fui menosprezada diversas vezes por ser gorda. Quando ficava a fim de um cara e ele não queria nada comigo (99% das vezes), ouvia - direta ou indiretamente - que o motivo era mais do que óbvio: como o cara vai gostar de você, Aline? Você é gorda.


De uns tempos para cá deram um nome para essa zoação/ maldade: bullying. E não tenho muita certeza de que os tantos estudos que fazem sobre o tema conseguem dimensionar a ferida que fica na alma, para sempre, de quem sofre.


Sofri isso na escola, na família. A única pessoa que nunca debochou ou me repreendeu por ser gorda foi meu pai. Todos os outros - íntimos ou não- deram, ao menos uma vez, uma cutucadinha. Acho que vem daí minha vocação a ter amigos homens, embora tenha ouvido muitas coisas chatas de alguns meninos.

Mesmo sem querer, lembro das piadinhas das "amigas" e uma pergunta fica martelando: o que leva uma pessoa, que supostamente te quer bem - afinal, frequenta sua casa, participa de sua vida - ser tão malvada? Tão cruel?


Que estranha forma de obter prazer: menosprezar uma adolescente ao chamá-la de gorda. "Chamar" não é o verbo certo. Acho que o mais apropriado é "ofender", porque ser gordo não deveria ser xingamento, mas é usado como tal
.


Não entendo o sádico prazer que uma amiga tinha em "roubar" qualquer carinha por quem eu estivesse interessada. Não era autoafirmação, afinal, disputar um cara comigo era como chutar cachorro morto: eu não tinha chances. Eu era gorda e isso eliminava em 132% minhas chances. Era maldade, pura e simples. O porquê talvez eu nunca entenda mas a consequência disso contribuiu muito para meu complexo eterno de inferioridade.


Nem todas as amigas eram agressivas, algumas me tratavam como "café com leite", ou seja, eu era aquela que não representava qualquer perigo: podiam ir à uma festa comigo sem correr o perigo de eu receber uma cantada do garoto de quem ela estava a fim. Era doído ser tratada assim. Era uma espécie de "certificado de não atraente". Mas era uma maldade mais branda, passiva até. Acho só que elas esqueciam que eu tinha coração, sentimentos. Mas para elas era super coerente: sou gorda, logo nenhum carinha vai se interessar por mim. Por minha parte, para não bancar a ridícula, não deveria ousar me interessar por ninguém, afinal, sabia meu lugar na cadeia alimentar da sedução. 


Até hoje trago consequências psicológicas desses "maus tratos". Claro que terapia e maturidade me fizeram superar muita coisa, mas ainda tem muito, muito complexo latente em mim. Eu tenho vergonha de ter sido gorda na adolescência, eu tenho vergonha de ser gorda, mesmo quando visto manequim 40. Meus complexos nascidos na adolescência me fazem travar e colocam mil empecilhos na hora de sair em uma foto, experimentar uma roupa ou pensar em me aproximar de um rapaz. 


Não sei se um dia vou superar isso. Certamente, o
 jamais entenderei é o porquê de algumas pessoas sentirem tanto prazer em diminuir o outro. Sadismo, maldade, repetição de comportamento do senso comum?


O irônico disso tudo é que muitas daquelas pessoas que me zoavam, e ofendiam, e riam de mim, atualmente deram uma bela "embarangada": as meninas ganharam alguns (vários) quilos, os rapazes ficaram carecas e vários ficaram parados no tempo, estáticos em suas vidinhas casamento-filhos-chopp-trabalho-e-só. 


Prato cheio para uma revanche, né? Mas além de não entender o prazer de magoar o outro, em absoluto eu teria coragem de fazer qualquer menção a isso. Não sou santa: às vezes me vem aquele diabinho e fala "dá uma zoada", fala "envelheceu mal, hein?". Mas o que isso iria me acrescentar como pessoa? 


Sigo em frente, com meus inúmeros complexos de inferioridade mas com a certeza de que não me renderei ao jogo baixo do deboche, do escárnio.


Up date: Esta foto aqui poderia ser para "sambar" na cara de quem já se deliciou tanto me "xingando" de gorda. Mas eu prefiro dizer que é um registro de mais uma FLIP da qual participei.




sábado, 12 de julho de 2014

ANIVERSÁRIO DE AMIGO


Sabe quando você olha para uma pessoa e sente como se ela tivesse uma espécie de imã, algo que faz você se sentir ligado a ela imediatamente?

Não há muitas explicações para isso. Será que é isso o tal do "amor à primeira vista"? Talvez sim, porque esta expressão não deve ser aplicada somente ao amor entre homem e mulher. Pode muito bem ser aplicada no que se refere à amizade.

Pois é, a primeira vez que vi o Ronaldo foi assim. Olhei pra ele e pensei "seremos amigos". Não me enganei: tornamo-nos amigos quase imediatamente. Eu apenas não sabia o quão forte esta amizade se tornaria. E a quanto ela resistiria: distância geográfica, males-entendidos, rotinas diferentes...

Sempre houve um carinho muito especial entre nós. No início ele era o "Ronaldo da Cesgranrio", depois virou "melhor amigo do meu namorado", foi também o "padrinho de casamento". Hoje somos amigos e parceiros, para o bem e para o mal. Ele é o "O amigo". Um amigo que esteve ao meu lado em momentos muito felizes e também em episódios chatos. Sempre lá, sorrisão no rosto, palavra amiga, piadas para quebrarem o clima...

Faz 17 anos que o conheço. E desde o primeiro instante percebi que ele é uma daquelas pessoas que têm vocação para amizade, vocação para agregar as pessoas. 

Ronaldo, hoje é seu aniversário e não tenho muitas novidades para falar para você. Pelo menos nada que já não tenha dito pessoalmente. O que desejo para você também é mais do que notório: TUDO aquilo que você merece. E você merece muito.

Só mesmo o Rei para falar o que sinto:
Você meu amigo de fé meu irmão camarada, amigo de tantos caminhos
de tantas jornadas
Cabeça de homem mas o coração de menino, aquele que está do meu lado
em qualquer caminhada
Me lembro de todas as lutas meu bom companheiro, você tantas vezes provou
que é um grande guerreiro
O seu coração é uma casa de portas abertas, amigo você é o
mais certo das horas incertas
As vezes em certos momentos difíceis da vida, em que precisamos
de alguém para ajudar na saída
A sua palavra de força de fé e de carinho, me dá a certeza de que eu nunca
estive sozinho
Você meu amigo de fé meu irmão camarada, sorriso e abraço festivo da minha chegada
Você que me diz as verdades com frases abertas, amigo você é omais
certo das horas incertas
Não preciso nem dizer, tudo isso que eu lhe digo, mas é muito bom saber,
que você é meu amigo
Não preciso nem dizer, tudo isso que eu lhe digo, mas é muito bom saber
que eu tenho um grande amigo

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Marina Gouvêa, a poeta

Minha tia Marina já nasceu poeta mas só hoje ela lança seu primeiro livro. Então, esqueça aquilo que te ensinaram sobre não julgar um livro pela capa. Esta capa é um aperitivo do conteúdo e deve ser saboreado pois também é obra dela (originalmente um bordado que ficou em 1º lugar num concurso. Preciso falar mais sobre sua sensibilidade?).




Tenho o orgulho de ser leitora dela desde criança e certamente vem daí minha paixão pelas letras. Sempre ia (vou) à casa dela. E quando era criança, tipo oito ou nove anos, amava entrar em seu quarto para olhar os livros, muitos, muitos deles. Todos em uma estante de madeira escura, alinhados lado a lado. Cada dia admirava uma prateleira. Admirava as cores, os títulos.


Aleatoriamente escolhia um e lia a introdução... Mas não tinha nem idade e nem vocabulário para entender nenhum deles. Aí, ela ia até mim, falava um pouco sobre o autor, e sutilmente pegava um exemplar de literatura infantil (e depois infanto-juvenil) e me indicava. Na maioria das vezes eu lia lá mesmo, deitada em sua cama. Sempre fui muito abusada na casa da minha tia. E meu tio Zé Luiz (meu segundo pai) também não se importava. É certo que nem ele, nem meus pais e muito menos os primos - que brincavam na rua ou jogavam video game na sala - entendiam o que me levava a "perder tanto tempo" devorando aqueles livros. A primaiada toda lá tocando o terror, brincando horrores - na época o sucesso era o Atari. A galera lá se matando para avançar a fase do Pac Man e do Super Mario Bross e eu lendo. Sem entender nada, mas lendo. Como eu gostava daquele ritual...


De vez em quando, lia também suas poesias. Escritas a mão ou datilografadas. Tinha a do passarinho machucado, a do Ricardo, a do dia chuvoso em Paraty... Não me peça para indicar meu poema preferido - são todos lindos, suaves, profundos. Sou apaixonada por tudo - seja verso, seja prosa - que ela escreve. Minha poeta predileta transforma, com ajuda das palavras e com precisão cirúrgica, o fato mais banal, mais cotidiano em emoção, sentimento. Fruto de seu olhar puro, doce e carinhoso (reflexo de sua alma). Um exemplo aqui: bordar é, para muitos, atividade simples, um passatempo, para outros, ganha pão, expressão de criatividade. Para tia Marina, é poesia:





BORDANDO A VIDA


Por entre agulhas e linhas
Eu sigo bordando sonhos.
Colorindo as histórias da vida,
Faço o mundo mais risonho.

São muitos os pontos que uso
numa combinação feliz:
Ponto haste, mosca ou cheio
Espinha-de-peixe ou ponto nó
Ponto atrás, nó português
Ponto areia ou rococó
Ponto aranha, alinhavo
Falso matiz, nó francês.

Com o entra e sai da agulha
Construo castelos, pontes
Crio aves, flores, lagos
Vales, florestas e montes.
Se não acerto o bordado
Fecho os olhos, conto até três,
Desmancho ponto por ponto
E, com muita paciência
Começo tudo outra vez.

Quando os fios se embaralham
Não desanimo e, de repente,
Desato o nó com cuidado
E, confiante, sigo em frente.
Com a maciez das delicadas linhas
E os matizes de cada cor
Expresso as belas emoções sentidas.
Vejo o bordado com olhos de pintor

Porque bordar é pintar
Com linhas coloridas.
Com mãos de artista e carinho.
Em seda, itamine, algodão,
Fina cambraia ou puro linho


Eu sigo bordando a vida.
Até quando? Isso eu não sei.
Ao terminar, corto a linha
E digo baixinho: – Pronto, acabei!


Como já falei, ela nasceu poeta. E quem garante isso é minha mãe. Tem uma história que eu adoro: as três irmãs (Mammy, tia Marina e Dinda Verinha) arrumavam a casa (vovó Arquimínia fez a viagem muito cedo e deixou as meninas bem novinhas, então elas - sob o comando da minha mãe - eram as responsáveis pela casa). Naquela época, era comum passar cera no piso e cobri-lo com jornais (acho que era para o brilho durar mais). Minha mãe conta que tia Marina começava a colocar os jornais e ia aos pouquinhos se esquecendo do que tinha de fazer... Começa a ler as notícias, se desligava do mundo e lia, lia, se deixassem, lia a tarde inteira.


Minha mãe, elétrica que é, sempre achava a coisa mais estranha e bonita a tia fazer duas coisas tão aparentemente opostas ao mesmo tempo: embalar um filho bebê e ler. Era comum vê-la com um livro em uma mão e o filho sendo embalado na outra. Leitura e afeto sempre se misturaram nela.


Também nasceu com alma de professora: aos 14, 15 anos já tinha aluninhos, a quem alfabetizava em casa mesmo. Depois fez Faculdade de Letras e nunca mais parou de lecionar. Mesmo quando se aposentou continuava com alunos particulares que queriam prestar vestibular ou concurso.


Nunca estudei com ela no colégio. No colégio, é bom frisar, porque amava ter aulas particulares. Nunca fui má aluna em Português, mas não resistia a ter uma explicaçãozinha extra antes de uma prova. Foi com ela que aprendi as regras da crase. E nunca, nunca as esqueci. Ênclise, mesóclise e próclise também aprendi com ela. Ah, a primeira poesia que decorei foi na casa dela, da Alice Ruiz:


Assim que vi você

Logo vi que ia dar coisa

coisa feita pra durar,

(...)

Agora não tem mais jeito,

Carrego você no peito

Poema na camiseta

Com a tua assinatura

Já nem sei se é você mesmo

Ou se sou eu que virei alguma coisa tua


Eu teria uma infinidade de outras passagens para falar, mas meu coração está apertado demais por eu não ter podido ir ao lançamento do livro. Estou um pouquinho triste. No final do mês vou vê-la e dar o costumeiro abraço. Abraço de leitora, sobrinha, fã e quase filha.


PS: esta não é a primeira vez que falo da minha tia. Há cinco anos publiquei um conto (premiado, obviamente) aqui.


PS2: E esta aqui é a foto dela recebendo o prêmio pelo conto de que falei acima. Pra vocês verem que, além de poeta, sensível, inteligente, ainda é linda!



                                                      Fã              Poeta        Amigas

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Girassol - Ira!

Tento me erguer
Às próprias custas
E caio sempre nos seus braços
Um pobre diabo é o que sou
Um girassol sem sol
Um navio sem direção
Apenas a lembrança
Do seu sermão
Você é meu sol
Um metro e sessenta oitenta e cinco de sol
E quase o ano inteiro
Os dias foram noites
Noites para mim
Meu sorriso se foi
Minha canção também
Eu jurei por Deus
Não morrer por amor
E continuar a viver
Como eu sou um girassol
Você é meu sol
Eu tento me erguer
Às próprias custas
E caio sempre nos seus braços
Um pobre diabo é o que sou
Um girassol sem sol
Um navio sem direção
Apenas a lembrança
Do seu sermão
Morro de amor e vivo por aí
Nenhum santo tem pena de mim
Sou agora um frágil cristal
Um pobre diabo
Que não sabe esquecer
Que não sabe esquecer
Como eu sou um girassol
Você é meu sol

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Superação é o cacete

Aconteceu um episódio comigo que me fez (re) pensar a vida e nas surpresas que ela nos apresenta. Surpresas boas e outras nem tanto. E é sobre as "nem tão boas" que tenho me concentrado. Não que esteja em algum momento ruim, negativo ou a fim de me fazer de vítima.
É comum, num bate papo com amigos, ouvir alguém falar numa grande perda e vir com aquele discurso “sofri e dei a volta por cima". Geralmente quem "deu a volta por cima" não fala mais sobre isso.
Em muitos casos, quando uma tragédia se abate na nossa vida, a vontade é ficar em casa e nunca, mas nunquinha mesmo, sair dali. E isso adianta? Vai por mim: não adianta porra nenhuma. Mas é necessário sofrer um pouquinho, seja a sequela de um acidente, seja a perda de um amor ou até mesmo a morte de alguém querido. Passado o momento do "luto", o lance é continuar a viver. Do jeito que dá.
Se você é uma pessoa que sabe que a vida não é feita só de momentos felizes, que não entra numas de achar que a vida do vizinho é mais fácil do que a sua, você vai certamente seguir adiante, sem lamentações.
A vida é assim: leva embora um jovem saudável num acidente de carro, te sacaneia com um namorado infiel, te surpreende com uma demissão... Mas e aí? Vai ficar em casa chorando? Vai querer sair na porrada com o destino? Tudo perda de tempo.
Quem entra nessa de se revoltar não sai do lugar. Perde coisa pra caramba e nem se dá conta.
Várias vezes vi algo acontecendo com alguém e pensei "eu não aguentaria". Bobagem: a gente aguenta muito mais do que pensa. O que não dá é ficar pensando em coisas do tipo "por que comigo?". Quando olho atentamente para minha própria história de vida, vejo que também tenho meu quinhão de dor e sofrimento. E da mesma forma como recebo muito bem minhas vitórias, acho que tenho de aceitar meus tombos. E vou em frente, machucada, às vezes, mas se eu parar, passam por cima de mim.
Não me sinto nenhuma heroína por superar meus problemas. Acho isso uma bobeira danada. Não sou diferente de você, do meu amigo, da minha prima, do desconhecido que se senta ao meu lado no metrô.

Outro dia conheci um rapaz que ficou paraplégico há 4 anos, quando tinha 32 anos. Ele falou várias vezes que odeia quando o único assunto que puxam com ele é sobre as limitações: será que não dá pra conversar com uma pessoa legal, só isso? Por que a necessidade de ficar falando sobre um momento da vida dele? Ele tem vários momentos, e sua personalidade é formada por todos eles. O cara tem uma história de vida diferente da minha, mas certamente uma vida como a de todos nós: com grandes alegrias e algumas dores. Ele não é herói e achei o maior barato quando disse que não suporta quando chegam pra ele dizendo que ele vai superar, que é um guerreiro. Não! Ele não é nem quer ser. Não quer ser tratado como coitadinho assim como não quer ser modelo de nada pra ninguém. Quer ser feliz, aprendendo a viver com as limitações que a vida lhe impôs.

Essa história de "exemplo de superação" é coisa pra Globo Repórter, a vida é muito mais prática: ou você segue em frente, ou perde a sensibilidade e nunca mais aproveita a delícia que é olhar uma Lua linda no céu. 

Perder a sensibilidade das pernas é uma coisa. Devastador, de verdade, é perder a sensibilidade da alma.