sábado, 26 de dezembro de 2015

Meu presente de Natal


Eu acho o Natal meio chato. Na verdade, acho um saco. Só é um pouquinho legal quando a gente faz amigo-oculto lá em casa. Aí, sim eu gosto.


Só que ninguém gosta de tirar meu nome. Mas, pelo que dizem, não é nada pessoal, não: é que, segundo a lenda, eu tenho tudo e é muito difícil escolher um presente pra mim.


Quando me perguntam o que quero ganhar, respondo "me dá qualquer coisa". Mas a verdade é que sou mesmo chata e nem sempre gosto de ganhar ''qualquer coisa". Bem, sou chata mas não sou insensível,né? O "qualquer coisa" que eu quero dizer é um presente escolhido com carinho.Pra mim, qualquer presente dado com carinho é o melhor do mundo. Mas a verdade é que todo ano a espinha da galera se arrepia só de pensar que pode tirar meu nome no amigo-oculto.


Fazia tanto tempo que eu não ganhava um presente, digo um presente especial. Um presente cuja vontade de me presentear fosse muito maior do que o valor dele em si.


Este ano eu ganhei. E foi o presente mais bonito do mundo. Do jeito que eu adoro: dado com carinho e cheio de ritual.


Ritual de amigo-oculto é aquele pra lá de batido: a pessoa começa a falar sobre a pessoa sorteada... "O meu amigo-oculto é isso, é aquilo...".

Foi assim que ganhei meu presente. O melhor do mundo.


"Meu amigo oculto é a pessoa mais importante da minha vida. Meu amigo oculto é o amor da minha vida: a minha filha Aline". Com essas palavras, meu pai me entregou uma caixa com um sabonete líquido e um creme hidratante. Só que eu nem olhei direito para a caixa. Eu só consegui sentir a eternidade daquele momento. Logo eu, que quero que o tempo passe logo porque acho que tudo é um saco, e o minuto seguinte será melhor e menos tedioso. Naqueles minutos eternos, achei o Natal a data mais bonita do mundo. Naqueles minutinhos o mundo ficou mais leve, mais colorido.


Se ficou mesmo, não sei. Deve ter ficado, mas pra falar a verdade, não prestei muita atenção. Eu só consegui pensar que aquele era o melhor presente do mundo. O mais precioso que eu ganhei na vida inteira.


A tal lenda não é lenda: eu realmente tenho tudo.




                                                         (Este texto foi publicado originalmente em dezembro de 2008. Ontem foi o Natal de 2015 e foi o 1o Natal sem ele, meu pai, meu grande amor. Se eu já não gostava de Natais, agora então... 

Mas este ano fiz questão de estar junto de pessoas queridas. Falei "Feliz Natal" como havia muito não falava, falei com a alma, sabe?  Fui para a ceia da "Grande Família", ou melhor, para a casa do Osmar, sogro da minha irmã.

É uma família especial, daquelas que a gente tem certeza de que não colocou no nosso caminho a toa. E eu realmente não sei o que teria sido de mim, da minha mãe e da minha irmã sem eles durante nosso "Tsunami emocional".  Finalmente consegui abraçar cada um deles e falar o "obrigada" que eu tanto queria, pelo tanto que eles fizeram pela Gi, pelas meninas, pelo Érick, pela minha mãe e também por mim. Osmar, tia Léia e seu exército, seus gladiadores (filhos, noras, genro, netos e agregados), que tanto lutaram pela vida da Gi e do Érick; que amenizaram minha dor; que nos acolheram. 

Perder meu pai me transformou de tal forma que jamais serei inteira novamente. Mas essa transformação se deu tanto de uma maneira negativa (meu sorriso não será nunca mais completo) quanto de um jeito positivo: nunca, mas nunca mais mesmo verei as coisas sob apenas um ângulo. Sofrer essa dor e estar junto àquela família me fez enxergar que eu não sou nada, que  minha vida não vale absolutamente nada, se eu não puder, da maneira que for, ajudar alguém. 

Afinal, de Simões, Mattos e louco, felizmente, os bons sempre têm um pouco.).


domingo, 24 de maio de 2015

Sobre olhares, saudades e meu velho

Esta é uma das fotos mais bonitas que já fiz: o registro da troca de olhares entre neta e avô. Neta que já era apaixonada sem ao menos ter idade para entender o que é amar. Avô que revivia, através das netas, a infância feliz que proporcionou às filhas com o incrível amor que sempre sentiu e demonstrou por elas.

Esse aí é meu pai: calado, cúmplice, afetuoso. Essa bebê é a Liv. Mas podia ser a Gi, a Lara, minha mãe ou eu... porque era desse jeito que ele, enxergando pouco, olhava para nós, as mulheres da sua vida. 


Sob seu olhar, aprendi a fazer embaixadinha, amar o Flamengo e pilotar motos. Nossos domingos eram de música "de velho": Althemar Dutra, Roberto Carlos, Luis Ayrão e Julio Iglesias. Quando ele colocava Nelson Gonçalves, eu saía de perto porque "Naquela Mesa" me fazia chorar: eu sempre tive medo de meu pai morrer. 


Em nossa despedida, cantei baixinho em seu ouvido a música "Meu querido, meu velho, meu amigo". Sempre que tocava essa música, a gente parava o que estava fazendo e dançava na sala. Fizemos isso tantas vezes e a última foi em fevereiro, uns 20 dias antes de tudo acontecer: 
Eu já te falei de tudo/ Mas tudo isso é pouco/ Diante do que sinto...

Ele gostava que eu o chamasse assim: meu velho. Claro que o "paiê" era campeão, mas se eu o quisesse deixar todo bobo, era só falar "Ô, meu velho!"


É, meu velho, que porra foi essa que aconteceu com nossa família? (Ih! Essa era a hora que ele me olhava torto: quando eu falava palavrão).Fomos devastados por um Tsunami emocional. Puta que pariu, como eu sinto sua falta! Como eu tenho sofrido de saudade. 


Pela primeira vez na vida, conheci a solidão. Você me fazia companhia mesmo quando estávamos longe: bastava um telefonema para ouvir "filha, estava pensando em você". 

Ainda evitamos, aqui em casa, falar muito sobre o acidente, mas quando é inevitável, digo que você está em paz, que D´us sabe o que faz e aquele monte de blá blá blá que se tornou meu discurso-armadura. Repito esse discurso várias vezes ao dia - não sei se é para me convencer ou para não chorar na frente deles. Temos feito isso direto: ninguém chora na frente do outro, que é pra não fazer o outro sofrer ainda mais. Acho que aprendemos isso com você: camuflar a dor.  

Pai, eu sei que a vida estava difícil para você: sua vista, os tios Betinho e Claudinho... Mas lembra de um cartão antigo no qual escrevi 
"Se mil vidas eu tivesse, mil vidas eu daria"?, então,pai, se eu pudesse, sofreria todas as suas dores, só para ver você sorrindo.   

Sua ausência parece queimadura na pele. Tenho dificuldade em olhar para a frente e lembrar que agora estou num mundo que não tem você. É estranho não ser mais filha - eu não estava preparada para virar adulta. Mas eu sou teimosa e vou ser sempre, sempre, sempre, a sua filhinha. Sua filhinha amada e queridinha. Seu colo ainda é meu lugar preferido. E toda vez que o mundo estiver muito complicado, vou lembrar de seu olhar, que diz tanto.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

O meu pai


Há 1 mês o grande amor da minha vida foi embora deste mundo físico. Faz 30 dias que minha vida está de ponta cabeça e quase nada mais faz sentido. Incluindo minhas emoções - precisei deixar grande parte de minhas emoções de lado e deixei de sentir muita coisa. Para minha sobrevivência, preciso não sentir tanto. 




Ê que eu sou feita de sentimentos e sentir tanto como eu sempre sinto me levaria à loucura.

Também sou feita de ossos e Cléber; de órgãos e Cléber; de células e Cléber e, como já falei, sou sentimentos e ... Cléber. Assim, de cara, sou capaz de apostar que jamais serei inteira novamente.

Mas por tanto amor que dele recebi, estou de pé ajudando na recuperação de minha irmã e de meu cunhado e dando força à minha mãe e minhas sobrinhas.

Ele foi o melhor pai do mundo. Eu fui a melhor filha para ele. Fui a filha sob medida par um pai como ele: jamais dei motivo de preocupação, dizia sempre "eu te amo, velho" e não houve uma única pendência entre nós dois. Fomos pai e filha, no mais belo e profundo significado desta relação.






Não sei o que será de mim nem a longo nem a curto prazo, mas de uma coisa eu tenho convicção: todo mundo merecia ter um pai como o meu velho.

domingo, 8 de março de 2015

Feliz dia da mulher sem rótulos

Acho um desrespeito essa divisão de "times" que nos cobram. Temos de escolher um lado: ou ser "mulherzinha", que é como chamam as mulheres que optam por cuidar da casa, do marido e dos filhos, ou ser "mulher independente", que são aquelas que optam por trabalhar fora, não ter filhos ou até não se casarem.

Será que não dá pra respeitar a opção? Será que não dá pra pensar que ser uma coisa ou outra é questão de dom, de perfil, de escolha?

Trabalho desde cedo, pretendo estudar muito mais do que já estudei, já casei, já separei, adoro viajar sozinha, não quero filhos mas pretendo viver grandes amores. Quando me apaixono sou "mulherzinha": cuido do meu homem com muito carinho. Nem por isso deixo de ser eu. Sou feliz do meu jeito. Tão feliz quanto minha amiga que não teve oportunidade de nem ao menos conhecer a Ilha de Paquetá. Mas que é feliz da vida porque tem filhos lindos, bem cuidados. Perfis diferentes, noções diferentes do que é a felicidade.

Viva a mulher que escolheu cuidar da casa! Viva a mulher que prefere viajar sozinha pela Europa.
Viva a mulher que escolheu ser feliz.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Sushi

Meu carnaval!

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Para você, que me tira do eixo, somente um poeta que me desestabiliza

Eu amo-te sem saber como, 
ou quando, ou a partir de onde.
Eu simplesmente amo-te, 
sem problemas ou orgulho:
amo-te desta maneira porque não conheço
qualquer outra forma de amar sem ser esta, 
onde não existe eu ou tu, 
Tão intimamente 
que a tua mão sobre o meu peito é a minha mão,
tão intimamente que quando adormeço os teus olhos fecham-se.

Pablo Neruda

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Mar Sonoro - Sophia de Mello Breyner Andresen


O seu baseado

Aquele baseadinho que você fumou, bem despretensiosamente, ajudou a comprar a arma que matou o Marco.


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Odoiá, Yemanjá

             Ela mora no mar
             Ela brinca na areia
             No balanço das ondas
             A paz ela semeia.

Obrigada, Yemanjá!




domingo, 1 de fevereiro de 2015

A Bunda da Paolla Oliveira e a Mulher Insegura


Qualquer ser humano que não esteve em coma esta semana ouviu (os mais sortudos viram) a repercussão da cena da bunda da Paolla Oliveira. Não foi mais uma bunda na TV. Não foi só uma bunda na TV. Foi a bunda mais deslumbrante que já se viu na TV. Foi espetacular, um evento. Eu adorei. A torcida do Flamengo também. Aliás, quem não gostou? Bem, houve, sim, gente que torceu o nariz. Sei disso por causa da minha "pesquisa informal" (um nome bonitinho que dei à mania de prestar atenção à conversa dos outros. Acontece geralmente assim: no restaurante ou no ônibus, por exemplo, abro um livro e finjo estar concentrada, mas estou mesmo é ouvindo conversas e confissões alheias. Um monte de gente faz isso. Uns se assumem fofoqueiros, outros - meu caso - dizem que estão observando o comportamento. A diferença é o que fazem com a informação. Os fofoqueiros espalham os segredos; eu, muitas vezes, escrevo sobre. Por isso, se eu fosse você, não levaria tão a sério tudo o que conto aqui em 1a pessoa: nem tudo é sobre mim). Voltando: segundo minha pesquisa informal, inúmeras mulheres não gostaram nadinha da tal cena. E mais: quase metade das descontentes é feia.


Para uma Mulher Feia, aquele "derrière" na telinha foi um tapa na cara. Compreensível: já não basta a coitada ser feia, ainda precisam mostrar, em cadeia nacional, o que é lindo?! Eu ficaria irada, se feia fosse.


Outras tantas são mulheres machistas. Dessas eu não falo. São amargas demais, detestam os homens demais e se permitem prazeres de menos.


O restante do grupo que de-tes-tou ver tanta beleza numa única bunda é composto por mulher insegura ela. Os comentários da Mulher Insegura são, em suma, estes:


a) Foi a luz que favoreceu;

b) Mas ela tem celulite que eu vi, eu vi!;

c) Agora entendi porque ela está na Globo;

d) Só pode ser Photoshop;

d) Homem é tudo bobo mesmo, não pode ver uma bunda.

A Mulher Insegura não conseguiu dormir aquela noite. A visão de uma Bunda (você há de concorda que aquela lá merece ser um substantivo próprio, merece uma letra maiúscula) redonda na medida certa, no tamanho exato, tão perfeita que parecia milimetricamente desenhada e -fantasia das fantasias - coberta/descoberta por uma calcinha mínima mexeu muito com a auto-estima da Mulher Insegura. No dia seguinte, ela dobrou as séries para o bumbum na academia. Malhou furiosamente, pediu aos deuses para serem justos e fazerem valer cada pingo de suor.Desde terça-feira passada a Mulher Insegura tem como objetivo de vida ter aquela Bunda.

Ao contrário da Mulher Feia, a Mulher Insegura ainda vai ficar muito mal, péssima mesmo, enquanto falarem da bunda da Paolla Oliveira. É que a Mulher Feia já está acostumada, resignada, a ser feia. E por isso aprendeu, ao longo da vida, a valorizar algo em si mesma que não seja tão horrendo. Nos casos de feiura extrema, todos sabemos, há ainda a opção de se destacar pelo humor, pelo intelecto.

A Mulher Insegura, não. Para ela, ser bonitinha, charmosinha, não vale: ela precisa ser linda. A Mulher Insegura, aliás, nem é feia. E sabe disso: ela olha para o espelho e vê um corpo bonito, um rosto bem feito, os cabelos bem cuidados. O problema é que ela precisa que o namorado/ marido também a ache linda. Precisa que a amiga a ache linda. Que a irmã, a vizinha, a mãe, o ex, a atual do ex (bem, esta principalmente) a achem linda.

Mas ela sabe que depois de verem a bunda da Paolla Oliveira, ninguém nunca mais vai achá-la, ao menos, bonitinha. E sem a aprovação do outro, a Mulher Insegura vale o quê?

E, ciente de tão pouco valor físico, acaba desprezando também seus outros atributos: não é culta o suficiente; não fez todas as viagens que planejou; seu emprego é sem graça. A Mulher Insegura é, sem dúvida, a derrota em pessoa. 

Mas ela é persistente: dobrou sua série na academia e vai - ela tem fé! - ter uma bunda igualzinha àquela que você viu na TV e ficou babando. Afinal, ela não tinha cintura e a lipoaspiração resolveu isso. Não tinha peito mas o silicone resolveu isso. Não tinha cabelo liso e a escova progressiva resolveu isso. 

A Mulher Insegura não desiste e corre atrás de seu sonho: se tornar igualzinha àquelas tantas mulheres das capas de revista, tão diferentes do que ela é. 



sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O mundo está ficando esquisito

Esta semana fui à abertura da exposição do Kandinsky, "Tudo começa num ponto" (recomendo!) no CCBB e fiquei impressionada com a quantidade de fotos que muitos faziam.
Era um tal de parar em frente a um quadro, dar uma olhadinha para o lado (para certificar-se de que o segurança não olhava) e ... "clique!", partir para a outra obra, "clique!". A maioria não apreciava o que via, sequer se dava ao trabalho de ler as informações: urgia clicar e publicar nos feissibruquis e enstagrans da vida (digital, é claro, porque esta é que conta).

Como cada um faz o que quer da vida, me restringi a comentar com minha amiga o quão esquisito o mundo está se tornando: mostrar aos zilhões de amigos que se foi a uma exposição é muito mais importante do que apreciar o valor (cultural ou emocional) de uma obra de arte. Mas não resisti e dei boas gargalhadas com a ignorância desse pessoalzinho.





A exposição de Kandinsky fica no CCBB do Rio até 28/03.


terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Chá de sumiço - Marian Keyes

Quando eu crescer quero ser a Marian Keyes e ponto final.