quinta-feira, 17 de junho de 2010

Uma talzinha na sua cama

Sou capaz de apostar que você fez uma faxina daquelas para apagar qualquer rastro meu e não irritar a nova mocinha que vai dividir sua cama a partir de agora. Guardou minhas fotos lá no fundo da gaveta pra ela não ficar com ciúme de como eu saio bem em fotografias, especialmente quando o fotógrafo é você. É certo que ela perguntaria, com uma curiosidade quase esnobe, quem é aquela branquela, sem peito e de cabelo curto que insiste em ser linda quando está nas fotos que você faz. Será que você falaria que é sua ex-namorada? Ou mandaria aquela frase que tanto me irritava: é uma amiga, você não conhece. No início você se referia a mim como amiga, lembra? Eu fazia uma cara de brava e você fingia que nem percebia. E dava um beijo bem molhado, quase como um pedido de desculpa. Eu desculpava porque uma coisa que não aprendi foi ficar brava com você por muito tempo. Agora é outra que serve de modelo pra você. E minha curiosidade também esnobe me faz ter vontade de saber se ela tem tatuagem, se tem bundão ou simplesmente se é mais bonita do que eu. E quando eu penso muito nisso, fico pau da vida. Porque eu acho que qualquer outra mulher é sempre mais bonita do que eu, mesmo que eu garanta que sou autoconfiante e diga que minha inteligência me faz ser mais interessante do que qualquer biscate que te dê mole. E nem adianta dizer que ela não é biscate. Você sabe: qualquer mulher ao seu lado que não seja eu vira logo biscate, piriguete, ou vaca mesmo.

Será que a faxineira limpou bem a sala e não deixou nem um fio vermelho do meu cabelo no tapete? Torço para que tenha, pelo menos, uma coisinha minha que esfregue na cara da nova mocinha que um dia eu estive por aí. Que era eu quem dormia enrolada no edredom quando, em pleno julho, você ligava o ar condicionado. Por mais que pareça, isso que eu sinto agora não é despeito. E nem saudade, é só vontade de fazê-la saber que um dia tudo isso que você faz com ela, fez comigo também. Porque eu odeio pensar que agora é outra que dorme com a TV ligada e acorda com beijo no pescoço. Será que a mocinha gosta do seu abraço? Será que ela dá o devido valor aos seus braços imensos, que sabiam me abraçar do jeito exato que eu preciso pra ser feliz? Vai ver essa vaca aí nem percebe como um abraço desses é precioso. Ela talvez nem precise dele pra ser feliz.

Eu adoraria ser daquelas pessoas civilizadas que desejam ao ex-namorado toda a felicidade do mundo e que diz que fica feliz por ver o outro bem. Mas eu não sou civilizada e nem faço questão de bancar a educadinha. Por isso eu acho que a vaca que está com você agora não merece ser abraçada por seus braços enormes e muito menos ganhar seus beijos e suas marcas.

Se educada eu fosse, diria que torço pra que ela seja bem mais simples do que eu e saiba dizer a coisa certa e nunca te deixar embaraçado quando, cheio de planos pra nós dois, eu dizia que não dava mesmo pra viajar naquele final de semana porque tinha de trabalhar. Mas eu quero mesmo é que você não tenha vontade de viajar com ela, que deve ser meio burrinha e não sabe conversar sobre literatura. Se eu fosse menos presa ao passado, teria esquecido um pouco a dor que aquele outro imortalizou em mim e teria te curtido mais. Teria me entregado mais a você, que, de vez em quando, ficava assustado com minha frieza. Uma frieza que jamais existiu, que era só um jeito de eu fingir que não morreria no dia que tudo entre nós acabasse. Disfarce, puro disfarce. Não dá nem pra reclamar com você: sou boa atriz e você não tinha como adivinhar que eu era só sua, que muito antes de perceber, eu já estava mesmo entregue a você. Coloquei minha vida nas suas mãos, só não deixei você perceber. Disfarçada de super mulher, disse que era melhor assim: você seguir sua vida e eu a minha. O problema é que minha vida ficou aí com você, que agora deve estar dividindo com ela o lençol que compramos juntos. Se a vida fosse do jeito certo, a gente se esbarraria num sábado à noite qualquer, num barzinho do nosso bairro, cada um com um bando de amigos que parecem só falar besteira, e a gente ia se cumprimentar, aos poucos se afastar dos amigos fúteis e, já que houve caipirinhas e chopps, eu ia te falar que, apesar de ter conhecido um cara ótimo, que adora ler e me recomenda livros cult, eu queria mesmo era estar com você. Aí você ia mandar eu ficar quietinha e ia me beijar aquele beijo com gosto de chopp e tudo seria do jeito que deveria ter sido, não fosse meu jeito esquisito de sempre fugir do amor quando ele dá o ar da graça. E, em vez da mocinha, era eu quem estaria aí na sua cama, nessa madrugada gelada.

4 comentários:

  1. Essa sempre é a pior parte, qd a gente fica imaginando se eles fazem com as vacas/piriguetes aquilo que faziam com a gente. Pensar demais faz mal, naum te aconselho... bjs

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  2. Adoro o jeito que você escreve. Você é capaz de fazer a gente imaginar o que está escrevendo e sentir o que você descreve.
    E só você mesmo pra me fazer comentar num blog, e ainda por cima 2 vezes no mesmo dia.
    Tava com saudades!

    Beijão

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  3. Oláaa, boaa taardee!!
    passando pra lhe parabenizar pelo blog... que achei muiito lindo, sem contar que adoooreei o conteúdoo... vou segui-lo e divulga-lo também afinal tudo o que é bom deve ser mostradoo...
    bjo gde...
    Ana Cristynna.

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  4. Nem sei como e nem quando guardei teu endereço pra ler algo e vi esse teu texto! Me lembrei dos fins de namoro. Adorei o texto! Só uma mulher pra entender tão bem o que vc descreveu!

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