segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Um poema da Florbela Espanca - A nossa casa

 A nossa casa, Amor, a nossa casa!

Onde está ela, Amor, que não a vejo?
Na minha doida fantasia em brasa
Constrói-a, num instante, o meu desejo!

Onde está ela, Amor, a nossa casa,
O bem que neste mundo mais invejo?
O brando ninho aonde o nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?

Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,
Andamos de mãos dadas, nos caminhos
Duma terra de rosas, num jardim,

Num país de ilusão que nunca vi...
E que eu moro - tão bom! - dentro de ti
E tu, ó meu Amor, dentro de mim...

Foi lendo esse poema, na aula de Literatura Portuguesa I, que eu me dei conta de que havia me separado: onde está nossa casa, amor?
Professor começou a fazer a análise dos versos e as lágrimas começaram a cair.
Saí da sala de aula.
Ele foi atrás eu falei "Desculpa, professor, estou me separando e Florbela é demais para mim neste momento". Ele entendeu e combinou que me avisaria sempre com antecedência o poeta que ele iria trabalhar (e Florbela Espanca seria trabalhada naquele mês inteiro). Dependendo de o quanto ele me tocasse, eu não precisaria assistir a aula. E que não me preocupasse com as faltas.
Combinado.
Naquela noite de março, eu percebi que havia me separado. Não em janeiro, como oficialmente constam nos papéis, mas naquela noite de março de estudo da poeta portuguesa.

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