"Decido eu mesma engendrar lendas e episódios que me são atribuídos. Sempre tendo como desculpa a condição de escritora, a quem é dado o privilégio de inventar sem sofrer sanções morais". - Nélida Pinon
terça-feira, 28 de junho de 2011
O Otimismo e a Esperança
A primeira reação à notícia que me pegou totalmente desprevenida foi o choque. Aí, o meu "querido de plantão" falou uma frase que mexeu bastante comigo e me deu um gás danado. Ele disse assim "Algumas vezes as coisas acontecem na vida da gente para nos tirar da zona de conforto". Bingo! Estava mesmo nesta tal zona de conforto que tem dois lados: o positivo é que é um caminho que já conhecemos, um lugar que já nos é familiar, portanto nos deixa tranquilos. O lado negativo é que algumas vezes estacionamos, nos acostumamos e não nos sentimos motivados. Continuamos como autômatos, fazendo tudo no piloto automático.
Para uma alma agitada como a minha, isso é meio tedioso. Mas para a necessidade que tenho de me sentir segura, é tudo o que preciso.
Na primeira noite pós-notícia, dormi pouco. Só conseguia cochilar quando me lembrava das palavras desse meu amigo. Nas noites seguintes voltei ao bom e velho Rivotril.
Tenho andado muito ansiosa, agitada e com uma vontade louca de adiantar o relógio, fazer o calendário disparar e resolver logo o que tem de ser resolvido.
De vez em quando tenho certeza de que vou tirar de letra: eu sempre tirei de letra esse setor da minha vida. Em outras... ah, em outras me sinto pra baixo, pessimista, quase paranoica.
O meu equivalente a livros de auto-ajuda é a (boa) literatura, e foi a ela a quem recorri em busca de algo que pudesse sossegar, ao menos momentaneamente, meu coração ansioso por natureza.
Achei um texto que uma Professora da faculdade me deu de presente, junto com um bilhetinho. Acho que foi na época da formatura. Penso que será uma espécie de oração para estes dias conturbados e cheios de expectativa.
"Hoje não há razões para otimismo. Hoje só é possível ter esperança.
Esperança é o oposto de otimismo.
Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro.
Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração.
Camus sabia o que era esperança. Suas palavras: e no meio do inverno eu descobri um verão invencível...
Otimismo é alegria por causa de: coisa humana, natural.
Esperança é alegria a despeito de: coisa divina.
O otimismo tem suas raízes no tempo. A esperança tem suas raízes na eternidade.
O otimismo se alimenta de grandes coisas. Sem elas, ele morre.
A esperança se alimenta de pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce. Basta-lhe um morango à beira do abismo.
Hoje, é tudo o que temos (...): morangos à beira do abismo, alegria sem razões. A possibilidade da esperança..."
Trecho da crônica o Otimismo e a esperança, de Rubens Alves, publicado no livro Conserto Para Corpo e Alma.
Leia mais sobre o autor aqui
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Bourbon Festival Paraty 2011
23h00 - Richard Bona
00h30 - Funk Como Le Gusta
23h00 - Playing for Change
00h30 - Erica Falls
Dia 19/06 - Domingo
17h30 - Paulinho Lima & Super Soul - part. Marcio Eiras
20h30 - Oito do Bem
22h00 - Maria Gadú
segunda-feira, 13 de junho de 2011
HOJE O GOOGLE ME COMOVEU
O Google, aquele danadinho sem o qual não vivemos mais, hoje me comoveu: em vez do logo tradicional, estampou uma gravura do brilhante Fernando Pessoa.
É que hoje, 13 de Junho, é aniversário deste monstro lusitano (de coração) das palavras. E hoje em Portugal a comemoração é dupla: também é feriado por causa de Santo Antônio. Que, aliás, bem podia me dar uma forcinha e me "desencalhar",né?
sábado, 11 de junho de 2011
FLIP 2011 - Oswald de Andrade, o homenageado
A FLIP, em sua 9a. edição, já faz parte do calendário cultural do Brasil e do exterior.
Sua vasta programação não se restringe apenas às palestras e nem à Literatura: Durante cinco dias acontecem shows, apresentações de teatro, dança, oficinas literárias e de desenho... Uma verdadeira festa cultural.
Neste ano o homenageado é o modernista Oswald de Andrade,um dos protagonistas da "Semana de 22".
É isso aí: já foi dada a largada para esta fantástica Festa Literária, dia 06 passado começaram as vendas dos ingressos (eu já garanti 3 mesas na Tenda dos Autores!), agora é só aguardar (ansiosamente,porque a blogueira aqui é compulsiva e ansiosa) as possíveis desistências, encaixes de última hora e, principalmente, o show de abertura. Vai ficar de fora?
quinta-feira, 2 de junho de 2011
ALGO SE QUEBROU/ AG

é só reformar.
domingo, 29 de maio de 2011
AO CAZÉ. 20 ANOS DE SAUDADES
É bem provável que muitos nem se lembrem desta data, mas o que realmente importa é que suas piadas, seu sorriso cativante e suas histórias engraçadas ainda estão vivas em nossos corações. Mesmo que de vez em quando bata uma saudade danada...
E na falta de palavras mais adequadas, recorro à música da Legião Urbana. Afinal, a Legião compôs todas as trilhas sonoras daquela turma de jovens, felizes, imortais. Até que bebida, direção e uma sucessão de erros se encontraram e levaram o Cazé embora da gente.
É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser
Quando me lembro de você
Que acabou indo embora
Cedo demais
Quando eu lhe dizia
Me apaixono todo dia
É sempre a pessoa errada
Você sorriu e disse
Eu gosto de você também
Só que você foi embora...
Cedo demais!
Eu continuo aqui
Meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você
Em dias assim
Dia de chuva
Dia de sol
E o que sinto não sei dizer...
Vai com os anjos
Vai em paz
Era assim todo dia de tarde
A descoberta da amizade
Até a próxima vez...
É tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de você
E de tanta gente que se foi
Cedo demais...
Eu aprendi a ter
Tudo o que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu que tive um começo feliz
Do resto não sei dizer
Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre mais eu sei
Que você está bem agora
Só que neste mundo
O verão acabou
Cedo demais
- Legião Urbana
quinta-feira, 26 de maio de 2011
NOTÍCIAS SOBRE MIM
Hoje nem reclamo mais quando dá tudo errado, apenas vou vivendo. Não mudei muito, só o necessário para sorrir diante de uma flor ou da chuva que cai.
PARA NACÍLIA
oi Aline sou eu mais uma vezes Nacilia,todos os dias dou uma passadinha aqui pra ler seus post,tenho andado meio preocupa,vejo que pra nossa tristesa(seus seguidores) vc não tem postado.Espero que esteja tudo bem com você,que deus continue iluminando seu caminho.
Abraços de uma grande fã.
"Cronistas escrevem para serem amados. Duvido que algum escreva para irritar o leitor. Para receber mensagens dizendo “como foi medíocre seu texto de hoje”. A gente gosta quando o e-mail, a carta, o encontro na rua termine com “Você escreveu exatamente o que eu pensava”, “Eu me identifiquei muito com o que você disse hoje”, “Como é que você teve essa ideia genial?”.
No domingo passado, achei que tive uma boa ideia, uma ideia genial, e reproduzi, neste espaço, uma briga de casal que tinha captado na rua por meio de uma conversa no telefone celular. O que eu queria era, de uma maneira original, comentar o hábito cada vez mais frequente de as pessoas gritarem ao telefone conversas que deveriam ser particulares.
Definitivamente, não agradei. O primeiro sinal veio de um comentário curto e grosso aqui no blog. “Achei sua crônica muito fraquinha.” Cheguei a pensar que ninguém mais teria tanto poder de síntese, mas só até ler o segundo comentário: “Fraquíssima!”. E, a partir daí, a coisa só desandou: “Qualquer criança faz um negócio melhor do que esse que você escreveu”.
O meu domingo estava acabado, e o cronista que vos fala passou a sofrer aquilo que mais teme: a rejeição. “Utiliza-se um espaço no jornal pra isso?”, indagava um leitor. “O jornalismo brasileiro desde muito tempo tem carência de bons e verdadeiros cronistas”, alertava outro.
“Xexéo já foi bem melhor”, disse um leitor (ex-leitor?) nostálgico. “Que coluna xexelenta!”, avaliou outro, bulindo com meu sobrenome.
Parei de ler o que me chegava logo depois de tomar conhecimento da mais agressiva de todas as mensagens: “Você deve receber um ótimo salário. Mas escreve uma porcaria de crônica como esta, digna de quem realmente não tinha nada para escrever, praticamente um rascunho mal feito no banheiro e que nem para papel higiênico serve. Lamentável!”
Antes de pensar seriamente em aposentadoria ou rascunhar um texto que pedisse desculpa aos leitores por ter sido tão ruim, encontrei uma nesga de carinho em um dos comentários (eu estava mentindo e, na verdade, continuei lendo as críticas): “Essa foi fraca. Digna de quem tinha prazo, mas não tinha ideia. Mas tenha certeza de que você acerta mais do que erra. Vou aguardar a próxima.”
Bem, pelo menos mantive um leitor. Já estava acreditando que aqueles 17 que costumam me acompanhar tinham desistido. Ficou um para “aguardar a próxima”. Não é pouca coisa.
Cronistas não gostam de ser rejeitados. Podem ser incompreendidos, mas fracos, fraquíssimos, nunca. O que poderia conter aquele texto sobre uma briga de casal que irritou tanto os leitores? Só tenho uma explicação. Continuo amado, como todo cronista acha que é. É que naquele domingo, naquele específico domingo, o leitor acordou de mau humor."
Um dia
Trecho extraído do “Grandes esperanças”, de Charles Dickens
domingo, 24 de abril de 2011
Encontros
sábado, 23 de abril de 2011
A CULPA NÃO É MINHA!

O Alexandre Camerini, além de ser um fotógrafo nota 10, é tão espirituoso quanto eu. Então me mandou esta frase:
"Calorias são pequenos vermes inescrupulosos que vivem nos guarda-roupas e que durante a noite encolhem as roupas da gente.”
PS: Acho que ele gosta de mim, né? Bem, pelo menos me tirou a culpa: eu me esforço pra ficar em forma, mas o que se pode fazer contra vermes inescrupulosos?
VIDA QUE SEGUE
Não deve haver nenhuma sobra minha por lá. A faxineira não é lá tão caprichosa, mas certamente já varreu todos os fios de cabelo vermelho, meu cabelo, que cai e deixa rastros. Sim, ela já varreu a casa milhares de vezes desde que estive aí pela última vez.
Minha mania de esquecer brincos deve ter causado algum desconforto em você. Será que incomodou a nova "Lindinha"? Por milésimos de segundos tenho uma vontade louca de que sim, ela tenha ficado puta da vida por ver um brinco que não era dela. Era meu.
Minhas fotos já saíram da estante. Será que foram para o álbum de "momentos felizes do passado"? ou estão lá, no fundão da gaveta, por justa preguiça de se lembrar de mim?
Entendo a urgência de se livrar de qualquer lembrança minha, afinal, faço parte do que quase aconteceu e não posso assombrar o que ainda pode ser. Mas que é a maior sacanagem do mundo ela dormir no lençol que escolhi com tanto cuidado, isso é.
Será que ela dá risada quando vê você procurando aquele documento? Ou será que ela faz o tipo séria e companheira e, em vez de ficar sentada na sua cama olhando e rindo, vai lá e te ajuda?
Senti um ciúme danado imaginando outra menina deitada no seu ombro, aproveitando o tanto que ele é grande e bom de se deitar. Pior do que isso: e se ela não der valor a isso?
Deitar nos seus braços era a apoteose do meu dia, era o momento do "sim", era tudo o que eu mais gostava na vida. Se essa louca não gostar do seu abraço eu adoraria que ela encontrasse uma camisola qualquer minha na sua gaveta. Só pra ela também sentir ciúme de você e talvez saber que tem uma "Lindinha" que daria tudo para ganhar seu abraço e esquecer o mundo.
Ciúme não leva a nada, ciúme é insegurança. Mas também é a verdade jogada na cara: a brincadeira acabou. Eu não tenho mais meu parque de diversões chamado seu corpo.
Meu momento ciumenta passou, mas não resolveu nada. Continuo pensando em você. E isso me faz lembrar que a vida às vezes sacaneia a gente. A vida, essa mesma que é tão boa de viver, me sacaneou. Deu um jeito de me tirar do jogo, fui pro chuveiro mais cedo.
Essa mesma vida vai me fazer acordar qualquer hora com a sensação de que já não sinto mais tanta coisa por você. Vai me fazer conhecer outro cara, que vai gostar de vinho tanto quanto você, ou melhor, tanto quanto eu. Porque a vida vai lavar você, mesmo que aos poucos, de minhas lembranças e eu vou voltar a seu eu.
Enquanto essa vida sacana não prova logo que é linda, aposto que vou ter de vez quando essa vontade de você. De você procurando documento perdido. De você roncando ao meu lado. De você dormindo com TV ligada. De você me fazendo gostar pra caramba da vida.
sexta-feira, 22 de abril de 2011
BRINCANDO DE CONCURSO
No post anterior, anunciei a abertura do 6o Prêmio Off FLIP. Agora neste aqui eu peço sua indicação: qual dos textos publicados aqui (meus, claro!) eu deveria inscrever para concorrer ao Prêmio? Vote até o dia 29/04.
Sempre tive vergonha de me inscrever neste prêmio (acho sempre que não vou ganhar), mas há 2 anos minha avó pediu para eu me inscrever e ano passado eu não pude. Este ano conto com a ajuda de vocês: vocês indicam qual texto é mais legal e tem mais chance de ganhar. Eu me inscrevo e depois a gente ri junto do resultado. Combinado?
Prêmio Off Flip de Literatura abre inscrições
O Prêmio Off Flip já teve como participantes autores iniciantes e consagrados, e conquistou reconhecimento no Brasil e no exterior. Dividido nas categorias poesia e conto, abarca textos de autores residentes no Brasil, brasileiros que vivem no exterior e escritores de países lusófonos.
Os vencedores serão contemplados, nessa sexta edição do concurso, com prêmios em dinheiro, ingressos para as mesas da Flip e estadia em Paraty. Os 30 textos finalistas serão publicados em uma coletânea pelo Selo Off Flip.
As inscrições vão até o dia 30 de abril de 2011 e devem ser feitas pelo correio. O regulamento pode ser lido no site do evento: www.premio-offflip.net. A premiação ocorre durante a 9a Flip, entre os dias 6 e 10 de julho.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
TIA CORUJA NEWS INFORMA
sábado, 9 de abril de 2011
Eu

Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minha fonte, meus favores
To regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho
Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim
terça-feira, 5 de abril de 2011
MANTRA PRA NÃO FICAR CHATA

Quantas vezes, num dia, a gente não repete essas coisas negativa sobre nós mesmas? A gente fala isso com tanta naturalidade, que nem percebe e, quando vê, esse monte de reclamações já virou uma grande verdade na nossa cabeça.
Falei pro meu amigo que ele me deu um toque muito importante, pois eu, assim como um monte de mulher que eu conheço, ando precisando gostar mais de mim. Aí ele se lembrou daquele tal bilhete que um ex apaixonado me mandou e disse: faça dele um mantra! Acredite em cada uma das palavras. Se não, você vai virar uma chata de galocha.
Po! Gorda de cabelo sem corte e ainda por cima chata? É melhor fazer o que ele, que gosta de mim, mandou: Repetir que sou linda, maravilhosa e também ler este famoso bilhete.
"Será que você nunca reparou que pra mim não importa quanto você pesa? Em vez de tentar adivinhar isso, prefiro te abraçar e acariciar seu corpo macio. Aliás, adoro ver seu ritual de passagem de cremes: nas pernas, nos braços, na barriga. E quando você pede ajuda pra alcançar as costas, aí eu adoro ainda mais você.
Não sei seu manequim e nem me interessa. Sei o tamanho da sua cintura pelas minhas mãos e isso basta. E se alguma vendedora de roupa me perguntar seu tamanho vou responder: do tamanho exato para caber no meu abraço e dividir minha cama.
Aliás, foi uma resposta parecida que dei quando meu irmão perguntou como você era: do jeito que eu gosto. É, menina encanada com o peso e com o manequim, você é do jeito que eu gosto. Nunca reparou nisso, né? Por isso me deixa sozinho em casa e vai pra academia suar.
Não estou reclamando de você se cuidar. Eu só quero que você se goste desse jeito aí que você já é. E se você não acredita que é tudo isso, pergunta pra mim. Pra mim, viu? E não para nenhuma daquelas suas amigas do trabalho ou da faculdade ou sei lá de onde. Nenhuma mulher confessa para um homem que outra mulher é linda.
Para de me chamar de exagerado: eu acho você linda e pronto. Eu te olho diferente do que você se olha. Você está presa a padrões de beleza, já eu prefiro olhar pra você e descobrir cada dia um detalhe que te faz diferente e bela. Por exemplo, quando você toma uma decisão e nem me consulta: vai lá e faz. Eu faço cara de chateado mas acho um charme você saber o que quer. Também gosto de ouvir que eu não mando em você. Ah, e sua carinha de brava?É a coisa mais sexy que já inventaram. Aposto que tem amiga sua que treina na frente do espelho pra ficar igual.
Quer ver você me deixar com os quatro pneus arriados? É só dizer "Tô com fome de doce" e devorar aquela barra de chocolate sozinha, em 10 minutos. Quando você abre o armário e diz que não tem roupa e fica olhando pra 3 mil vestidos e saias e calças, eu penso "vou casar com essa mulher".
Mas sabe o que me atrai mesmo em você? É que mesmo dizendo que é muito branca, que tem celulite desde que nasceu e que precisa de outra lipo, contraditoriamente você desfila pela casa sem roupa, numa naturalidade que me deixa perplexo. Eu amo ver você nua, ver suas pernas brancas, não ver nem marquinha de biquine. Outras mulheres precisam de marquinha de biquine para serem sensuais. Você não. Você só precisa ser você. De cabelo castanho ou vermelho, longo ou curtinho. Você está sempre na moda. Você merece sempre uma poesia. E eu sou louco por você.
Meu mundo é pequeno demais até pra mim
Eu queria te pedir poucas coisas e tenha certeza de que são muito, muito importantes. Pelo menos pra mim.
Mas você acha que eu consigo? Você acha que aprendi a falar de mim? Da única vez que consegui, ganhei uma cicatriz. Doi até hoje.
Eram sobre cicatrizes, medos, estranhezas o que eu queria falar com você.
Será que você já conheceu meu lado de menina medrosa? Ou será que ainda está encantado com o mulherão que dá conta de tudo: da própria vida, das contas dos outros, que faz a hora e odeia ter de esperar acontecer? Este mulherão fascina, né? E seria uma baita injustiça dizer que é só uma máscara, um disfarce: ela existe, sim. E divide espaço com uma menina assustada, que tem medo de só mudarem os protagonistas, mas o enredo ser o de sempre.
E se eu der mole e você conhecer o lado mais frágil de mim, o lado meu que só pede, que precisa ouvir "tá tudo bem. Já passou"? E se você tiver medo dele? E se você se assustar?
Foge, não. Eu prometo não chorar na sua frente, que é pra não te assustar assim logo de cara. Mas se você sair correndo e sumir na estrada, eu entendo. Eu também não gosto dela.
É por isso que não vou falar nada do que eu tinha pra falar, embora esteja com uma vontade imensa de dizer logo que eu sou chata pra caramba, que preciso do meu canto e não sei dividir todo meu tempo, por mais legal que você seja.
Estou com vontade de falar logo, sem anestesia, que não vale muito a pena tentar entrar no meu mundo, porque nele não há lugar pra mais ninguém que não seja eu. É que comigo estão tantas e tantas tralhas, lembranças e que minhas pirações ocupam muito mais espaço do que eu mesma.
Então lá vai, já que eu gosto de acabar com aquilo que tem tudo pra dar certo: não cabe nem você e nem mais ninguém em mim. E se você insistir eu vou ficar mais distante.
Mas se você insistir um pouquinho mais, eu vou achar lindo e,quem sabe, possa até arrumar um lugarzinho pra você. Mas não insiste,não: já vi este filme antes. E eu morro no final.
quarta-feira, 2 de março de 2011
Blogueira carente aplaude...
BJS, CAROL.
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Prezada Mulherzinha... [Fernanda Young]
Então, por favor, tenha a humildade de admitir que sei o que estou falando.
Pois o que eu te direi é duro, mas poderá te fazer um bem enorme.
Chega.
Chega de se comportar assim.
Como se estivesse lutando pelo posto de rainha da bateria. De Miss Maravilha do Mundo.
Basta de ataques, dessa competitividade suburbana eu sou a melhor, eu sou a mais alta, eu sou a mais gostosa do pedaço.
Ninguém tá ligando a mínima se você corre 10 quilômetros ou se aplicou Botox nessa sua testa sem expressão.
Ou se você é assim porque ainda não passa de uma menininha que quer ser mais perfeita do que a mãe, conquistar o amor do pai e ser a primeira da classe.
Esse teu afã psicopata de vencer todas as paradas só te deixa ridícula.
E me faz querer usar um termo que odeio: coisa de mulherzinha.
Mulherzinha é que tem essa mania de estar sempre desconfiada das amigas, porque todas teriam inveja do seu corpão e do seu cabelão estilo falso-loiro-natural-cinco-tons.
Lamento informar, querida, que ninguém sente inveja de você.
Por isso, chega de dizer por aí que, para não atrair olho grande, é bom ficar de bico fechado sobre a tal possível promoção que você terá no trabalho.
Relaxa, ninguém está a fim de ser você.
Tente, portanto, ser você com mais leveza.
E lembre-se: esse negócio de dizer que não se pode confiar em mulheres só comprova que você é uma pessoa maliciosa.
Sendo que isso está longe de ser porque você é fêmea.
Quando vejo você tagarelando sobre seus feitos sexuais, sinto-me num filme ruim sobre ginasianas americanas. Todas fanhas e excitadas.
Chega, tá?
De azucrinar os outros com essa sua boca-genital lambuzada de gloss, cuspindo baixos-clichês, simulando uma modernidade que você não tem.
Nunca mais caia no ridículo de fazer "sexo casual" com nenhum tipo de homem, mais velho ou mais novo, casado ou solteiro, porque todo mundo já sabe que você finge tudo. Que goza, que não se sente fácil, que não liga quando os caras não telefonam no dia seguinte.
Seja honesta uma vez na vida: confesse.
Que você não é nada tão wild quanto se vende.
Que não sabe falar tão bem inglês assim.
Que fez escova progressiva.
Que tem dermatite.
E enfim você terá alguma paz, pois se reconhece humana, e não a barbie boba que você procura ser.
Acredite: idiotice só te faz charmosa para os cafajestes.
Se continuar assim, nunca vai aparecer aquele cara bacana que você gostaria que aparecesse; para lutar por você, até te conquistar, e destruir essa tua linda silhueta com uma gestação de 15 quilos.
É triste, amiga Mulherzinha, mas você terá que abrir mão da máscara de rímel que cobre a sua verdade."
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
SE VOCÊ QUER SER MEU NAMORADO, LEIA ATENTAMENTE
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
HOMEM NÃO É REMÉDIO
Andrea Pavlovitsch
"Homem não é remédio" (Luis Gasparetto)
Esta frase do Gasparetto inspirou meu texto hoje. Isso porque tenho visto o quanto as mulheres usam seus relacionamentos amorosos como bálsamo e motivação para uma vida feliz. E o quanto isso é extremamente perigoso.
As mulheres acreditam em cremes anti-rugas, drenagem linfática e que homens são as soluções de seus problemas. Homens acreditam que seu time é o melhor do mundo, cerveja tem que ser gelada e no poder de ter dinheiro para poder comprar estas coisas. Ué, e onde ficamos nós, as mulheres?
É sabido que os homens não dão a mesma importância para os relacionamentos que nós. Quer dizer, deixem-me explicar, eles dão importância, mas as suas prioridades são outras. Não é incomum encontrar um homem que prefira uma noitada com os amigos a uma noite romântica com a mulher ideal. Já o contrário é quase impossível de acontecer.
As mulheres são seus relacionamentos amorosos! Se estiverem acompanhadas são felizes. Se estiverem solteiras são infelizes. Mulheres têm homens como tem bolsa, sapato, maquiagem e não, muitas vezes, como um compartilhar de algo. Um construir de algo. E eu escuto muitas e muitas histórias que me comprovam isso.
Imagine aquela amiga que está num relacionamento ruim há anos. Sabe, aquela, todo mundo conhece uma. Ela liga e chora na sua orelha o quanto ela é infeliz, o quanto ele é um desgraçado, um otário que não é como ela quer. Você escuta, concorda (afinal, ela é sua amiga) e diz que ela tem que se separar, pintar os cabelos e partir para outra. Daí ela fica umas duas semanas sem ligar. E quando liga é pra contar o fim de semana maravilhoso que teve com ele nas montanhas. E você quer morrer porque meteu a colher onde não deveria!
Pois é, é difícil para uma mulher apaixonada enxergar o óbvio. O mesmo não acontece com os homens. Eles são mais simples, sim, neste quesito. A importância que eles dão ao relacionamento é a mesma que dão a qualquer outra coisa no mundo e as mulheres não entendem isso. Acham que ele precisa ficar o dia todo atrás de você dizendo o quanto ele te ama. E, querida, ninguém aguenta isso, porque isso é carência e não amor.
Então, o que fazer para não usar um homem como remédio? Se colocar como seu próprio remédio!
Sim, você é quem está com você 24 horas por dia. Quando está nos momentos de maior prazer e de pior dor é você quem está lá. Por mais que seu amor te ame, ele não pode passar por algumas coisas que é você quem tem que passar e é aí que você precisa estar ciente. Ciente de que ele é um companheiro de jornada e não a solução dos seus problemas.
Carência é a falta de si. E sem você mesma fica difícil de seguir adiante. Então, antes de começar aquela DR (discussão de relação) em pauta por causa do futebol dele de quarta-feira, pare e pense! Será que eu estou sendo justa tirando dele algo que é importante? Será que eu não só estou usando isso para que me sinta melhor? Isso não é amor. Amor é entender o outro, amor é compreensão, amor é saber que o outro tem a sua cabeça e a sua sentença. Saber que o outro tem defeitos e qualidade e coisas com as quais ele convive bem e outras com as quais convive mal. Se você não tiver isso com você, não terá com o outro.
Então, que tal discutir isso com você antes? Nada de discutir a relação enquanto você não souber exatamente o que quer de verdade. Ok?
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Um amor meio cafoninha
domingo, 13 de fevereiro de 2011
TERESA - MANUEL BANDEIRA
E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
Se ele chorar
Se ele se ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredita não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA.
(Manuel Bandeira)
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
domingo, 30 de janeiro de 2011
SAUDADE
sábado, 29 de janeiro de 2011
QUE TRISTE, NÉ?
QUANDO SE VIVE UM GRANDE AMOR

Eu sempre gostei de escrever (e se você lê meu blog já sabe disso), então, a 1a faculdade que pensei em fazer foi Comunicação. Fiz 3 períodos e me sentia perdida: aquilo não era pra mim. Faltava algo, sei lá o quê. Na verdade, sei sim: em 1o lugar faltava quem ensinasse não só a mim, mas aos outros alunos a escrever direito. Era um tal de "pra mim fazer", "se eu ver você, eu chamo". E cada texto tão sofrível que dava vontade de denunciar ao MEC. Não a faculdade, que aceita qualquer um, mas o próprio aluno, que chegou ao 3o Grau e não sabe nem falar (muito menos escrever) Português. Pedi pra sair.
Por puro acaso, fui trabalhar com Comércio Exterior e comecei faculdade de Relações Internacionais. Bola fora de novo!
Um dia, acordei muito certa do que faltava na minha vida: meter a cara no mundo da Literatura. E fui fazer Letras.
Tantas pessoas torceram o nariz pra minha escolha. Uma pessoa chegou até a fazer o seguinte comentário "Você é tão inteligente pra estudar Letras". Eu juro que até esse tipo de comentário ouvi. Sem contar os "Vai morrer de fome". Mas não ligava, afinal, não pedi conselho pra ninguém, eu apenas segui meu coração. Ok, não é a maneira mais certa de se escolher uma profissão, mas... quem disse que aquela seria minha profissão? Emprego eu já tinha, salário bom eu já tinha. Eu queria era poder responder a pergunta: VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?
Sem sombra de dúvidas, fui a melhor aluna da turma, não por ser inteligente, e sim por amar aquilo. Eu sabia que não seria Professora (não levo jeito) e aquele curso não era pra me profissionalizar e sim pra me realizar.
Exceto as matérias que me preparariam para ir para a sala de aula (Pedagogia, Estatística, Estágio etc), todas as outras eu estudava com o coração, com a alma. Várias vezes saí de sala chorando depois de analisar uma poesia que me tocava. Outras vezes algum Professor me falava "Aline, cuidado com tal autor: ele mexe muito com pessoas como você". E eu entendia o que ele queria dizer com "pessoas como você": pessoas que sabem que a Literatura (a arte, de uma forma em geral) deixa cicatrizes.
Quem sai impune de uma leitura de, por exemplo, Florbela Spanca. Li "A imitação da Rosa", da Clarice Lispector, e tatuei uma rosa vermelha na nuca: foi meu jeito de me lembrar para sempre da espécie de transe que fiquei por 2 ou 3 dias.
Gente, em qual outra faculdade eu viveria essas emoções? Essas catarses? Uma vez perguntei pra minha terapeuta se isso não era "coisa de maluco". Ela perguntou se me incomodava sentir tudo isso e eu disse que era uma sensação estranha e boa, na mesma medida. Até hoje não descobri se é coisa de maluco ou não, mas que me faz um bem danado, isso faz.
Sou a pessoa mais feliz do mundo quando digo "Sou formada em Letras", pois é como se eu dissesse: vivi um grande amor.
Viva seu grande amor. Seja no Estadão, se você for jornalista; seja na W Brasil, se você for publicitário, seja na Comlurb se você for gari; seja onde for, seja lá quem você é. Só não deixe de viver um amor por medo do que vem depois.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Recaída
É isso aí: tô abrindo mão de décadas de blablablá feministas e tô disposta a virar uma frágil mulherzinha com um homem ao lado. Um homem que saiba consertar máquina de lavar, instalar ar-condicionado e filtro da Polishop.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
A VOCÊ QUE FOI EMBORA
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
FILTRO SOLAR - PEDRO BIAL
Esta semana tive algumas decepções e estou com aquela sensação de que a vida tem sido dura demais comigo. Mas o "heroi nacional", Capitão Nascimento já disse: QUEM DISSE QUE A VIDA É FÁCIL?
Este texto é antigo, muitas pessoas conhecem, mas eu nunca havia prestado atenção. Ou vai ver que é a fragilidade em que me encontro que me fez ver sentido e conselhos. Em negrito, os trechos que mais me tocaram:
"Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta: use o filtro solar!
Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados pela ciência;
* Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude. Ou, então, esquece...
Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado.
Mas, pode crer, daqui a 20 anos, você vai evocar as suas fotos e perceber de um jeito - que você nem desconfia hoje em dia - quantas, tantas alternativas se escancaravam à sua frente, e como você realmente estava com tudo em cima. Você não está gordo! Ou gorda...
* Não se preocupe com o futuro. Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que pré-ocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver uma equação de álgebra.
* As encrencas de verdade de sua vida tendem vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada, e te pegam no ponto fraco às 4 da tarde de uma terça feira modorrenta.
* Todo dia, enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade.
* Cante.
* Não seja leviano com o coração dos outros. Não ature gente de coração leviano.
* Use o fio dental.
* Não perca tempo com inveja. Às vezes se está por cima, às vezes por baixo. A peleja é longa e, no fim, é só você contra você mesmo.
* Não esqueça os elogios que receber.
* Esqueça as ofensas. Se conseguir isso, me ensine.
* Guarde as antigas cartas de amor.
* Jogue fora os extratos bancários velhos.
* Estique-se.
* Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida: as pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam, aos vinte e dois o que queriam fazer da vida.
Alguns dos quarentões mais interessantes que eu conheço ainda não sabem.
* Tome bastante cálcio.
* Seja cuidadoso com os joelhos. Você vai sentir falta deles.
Talvez você case, talvez não.
Talvez tenha filhos, talvez não.
Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante.
* Faça o que fizer, não se auto-congratule demais, nem seja severo demais com você. As suas escolhas tem sempre metade da chance de dar certo.
É assim pra todo mundo.
* Desfrute do seu corpo. Use-o de toda a maneira que puder, mesmo. Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele. É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.
* Dance. Mesmo que não tenha aonde além do seu próprio quarto.
* Leia as instruções, mesmo que não vá segui-las depois.
* Não leia revistas de beleza. Elas só vão fazer você se achar feio.
* Dedique-se a conhecer seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez.
* Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.
* Entenda que amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons. Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas e de estilos de vida, porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das pessoas que conheceu quando era jovem.
* More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer.
* More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer.
* Viaje.
* Aceite certas verdades inescapáveis:
Os preços vão subir. Os políticos vão saracotear.
Você, também, vai envelhecer.
E quando isso acontecer, você vai fantasiar que quando era jovem, os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes, e as crianças respeitavam os mais velhos.
* Respeite os mais velhos.
* E não espere que ninguém segure a sua barra.
* Talvez você arrume uma boa aposentadoria.
* Talvez case com um bom partido. Mas não esqueça que um dos dois pode de repente acabar.
* Não mexa demais nos cabelos senão quando você chegar aos 40 vai aparentar 85.
* Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem.
Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.
Mas, no filtro solar, acredite.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
A todos que não foram e não ligaram
Bom, você não foi. E não ligou. A mim, só restou lamentar a sua falta de educação. Imaginando motivos possíveis. Será que você não foi porque realmente não pôde ou simplesmente não quis? Será que não ligou para não me magoar ou justamente o inverso disso?
Estou confusa, claro. Achava que você iria.
Tanto que eu aguardei sua chegada por mais minutos do que deveria, inventando desculpas esfarrapadas para mim mesma. O trânsito, o horário, a meteorologia. Qualquer pneu furado serviria. E até o último instante, juro, achei que você chegaria a qualquer momento. Pedindo perdão pelo terrível atraso. Perdão que você teria, junto com uma cara de quem está acostumada, e assim encerraríamos o assunto. Mas você não foi.
Esperei outro tanto pelo seu telefonema, com todas as esclarecedoras explicações. Para cada razão que houvesse, pensei numa excelente resposta. Para cada silêncio, um suspiro. Para cada sensatez de sua parte, uma loucura específica da minha.
Se você tivesse ligado do celular, eu seria fria. Se tivesse ligado do trabalho, seria levemente avoada. Se a ligação caísse, eu manteria a calma.
Foram muitos dias nessa tortura, então entenda que percorri todas as rotas de fuga. Cheguei a procurar notícias suas pelos jornais, pois só um obituário justificaria tamanha demora em uma ligação.
Enfim, por muito mais tempo do que desejaria, mantive na ponta da língua tudo o que eu devia te dizer, e tudo o que você merecia ouvir, e tudo. Mas você não ligou.
Mando esta carta, portanto, sem esperar resposta. Nem sequer espero mais por nada, em coisa alguma, nesta vida, para ser sincera. No que se refere a você, especialmente, porque o vazio do seu sumiço já me preenche; tenho nele um conforto que motivos não me trarão.
Não me responda, então, mesmo que deseje. Não quero um retorno; quis, um dia, uma ida. Que não aconteceu, assim deixemos para lá.
Estaria, entretanto, mentindo se não dissesse que, aqui dentro, ainda me corrói uma pequena curiosidade. Pois não é todo dia que uma pessoa não vai e não liga, é? As pessoas guardam esses grandes vacilos para momentos especiais, não guardam?
Então, eis a minha única curiosidade: você às vezes pensa nisso, como eu penso? Com um suave aperto no coração? Ou será que você foi apenas esqueceu de ir?
