sábado, 23 de abril de 2011

VIDA QUE SEGUE

Hoje, depois de muito tempo, eu senti ciúmes. De tudo. Pensei em você boa parte do dia, mas pensei mesmo foi em você durante a noite. Entrando em casa com a mala da academia, despejando a mochila com o laptop e outras tranqueiras em cima do sofá.
Não deve haver nenhuma sobra minha por lá. A faxineira não é lá tão caprichosa, mas certamente já varreu todos os fios de cabelo vermelho, meu cabelo, que cai e deixa rastros. Sim, ela já varreu a casa milhares de vezes desde que estive aí pela última vez.
Minha mania de esquecer brincos deve ter causado algum desconforto em você. Será que incomodou a nova "Lindinha"? Por milésimos de segundos tenho uma vontade louca de que sim, ela tenha ficado puta da vida por ver um brinco que não era dela. Era meu.
Minhas fotos já saíram da estante. Será que foram para o álbum de "momentos felizes do passado"? ou estão lá, no fundão da gaveta, por justa preguiça de se lembrar de mim?
Entendo a urgência de se livrar de qualquer lembrança minha, afinal, faço parte do que quase aconteceu e não posso assombrar o que ainda pode ser. Mas que é a maior sacanagem do mundo ela dormir no lençol que escolhi com tanto cuidado, isso é.
Será que ela dá risada quando vê você procurando aquele documento? Ou será que ela faz o tipo séria e companheira e, em vez de ficar sentada na sua cama olhando e rindo, vai lá e te ajuda?
Senti um ciúme danado imaginando outra menina deitada no seu ombro, aproveitando o tanto que ele é grande e bom de se deitar. Pior do que isso: e se ela não der valor a isso?
Deitar nos seus braços era a apoteose do meu dia, era o momento do "sim", era tudo o que eu mais gostava na vida. Se essa louca não gostar do seu abraço eu adoraria que ela encontrasse uma camisola qualquer minha na sua gaveta. Só pra ela também sentir ciúme de você e talvez saber que tem uma "Lindinha" que daria tudo para ganhar seu abraço e esquecer o mundo.
Ciúme não leva a nada, ciúme é insegurança. Mas também é a verdade jogada na cara: a brincadeira acabou. Eu não tenho mais meu parque de diversões chamado seu corpo.
Meu momento ciumenta passou, mas não resolveu nada. Continuo pensando em você. E isso me faz lembrar que a vida às vezes sacaneia a gente. A vida, essa mesma que é tão boa de viver, me sacaneou. Deu um jeito de me tirar do jogo, fui pro chuveiro mais cedo.
Essa mesma vida vai me fazer acordar qualquer hora com a sensação de que já não sinto mais tanta coisa por você. Vai me fazer conhecer outro cara, que vai gostar de vinho tanto quanto você, ou melhor, tanto quanto eu. Porque a vida vai lavar você, mesmo que aos poucos, de minhas lembranças e eu vou voltar a seu eu.
Enquanto essa vida sacana não prova logo que é linda, aposto que vou ter de vez quando essa vontade de você. De você procurando documento perdido. De você roncando ao meu lado. De você dormindo com TV ligada. De você me fazendo gostar pra caramba da vida.

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