sexta-feira, 27 de março de 2009

Ninguém é só uma coisa...

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.



Mário Raul de Morais de Andrade, Mário de Andrade (São Paulo - 9 de outubro de 1893 - São Paulo 25 de fevereiro de 1945), foi escritor, poeta, crítico de arte, musicólogo e ensaista. Foi uma das figuras mais importantes para o modernismo brasileiro, junto com Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e outros, com participação fundamental na Semana de arte moderna de 22. Mário é considerado o maior intelectual brasileiro do século XX. Estudou profundamente o folclore e as raizes brasileiras. É o autor de Macunaíma e Paulicéia Desvairada.

Um comentário:

  1. Eu piso a terra como quem descobre a furta.
    Eu li a poesia do Mario, uma vez só.
    Eu lia para meus alunos,mas minha leitura é um puco morta. Mas chamava minha amiga professora Zilda e ela lia com a alma.
    E eu adorava. Os alunos é que ganhavam.
    Mas brincavamos com as crianças. Qual a parte que lhe tocou no fundo da alma.
    E elas diziam o pedaço e diziam porque. As vezes não tinha nada com a história. Mas vou fazer o mesmo.
    Não reler a poesia e dizer que esta parte me emociona, porque amo colocar o pé no chão.
    Se voce olhasse meu pé agora ficaria horrorizada. A sola do meu pé está encardida, de tanto que ando pela casa descalça, só para ter o gostinho de pisar no chão. O melhor mesmo é pisar na terra.
    Mas estou aqui em casa...
    Com amizade Monica

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