É... a cara não é das melhores. Mesmo pra escrever textos com pitadas de ironia, é preciso suar, pensar muito.
E isso justifica meu fascínio pelo poema Catar Feijão, do magistral João Cabral de Mello Netto. Lembro-me até hoje quando, na faculdade, li a 1a estrofe. Naquele momento entendi o significado da palavara catarse.
Catar feijão se limita com escrever:
Jogam-se os grãos na água do alguidar
E as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Jogam-se os grãos na água do alguidar
E as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um, risco
o de que entre os grão pesados entre
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco
o de que entre os grão pesados entre
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco
(do livro "A educação pela pedra'')
Aline.
ResponderExcluirVoce está muito bem escrevendo.
Uma vez fiz uma brincadeira com meus aluninhos.
Coloquei palavras numas pedras e nos feijãozinhos outras.
Eles tinham que abri-las e ler. E contar uma história com a palavra. O outro tinha que continuar dando sequência.
Mas ríamos até porque coerência é que não tinham.
Com amizade Monica