Meus amigos também são ecléticos: tenho o melhor amigo para falar besteira, outro pra pedir conselho, uma amiga certinha pra ir à exposições, outra meio porralôca pra ir pra Lapa.
Assim, vou dando nuances diferentes pra minha vida não ser assim tão linear. Só tem uma coisa que não muda: um instinto eterno (e secular) de acabar com as coisas antes que se tornem “sérias”, pra valer. Estou falando de relacionamentos, claro. Toda vez que a coisa parece estar no caminho certo, um bichinho autodestrutivo ou superprotetor (depende do ponto de vista ou da linha de terapia de quem quiser analisar) dá um jeito de estragar tudo.
Adquiri um talento incrível para isso: estragar as coisas virou minha especialidade. Se por um lado parece coisa de gente doida, ao mesmo tempo, vejo como o melhor jeito de não sofrer. Faço isso pra enxergar logo qual é o tamanho do cérebro do cara e quão parecido ele é com todos os outros que já estiveram no meu caderninho de telefone.
Vou confessar uma coisa: chega a ser engraçado como tem uns caras infantis. Falo isso sem mágoa ou amargura. É quase científico: experimenta falar uma das minhas frases kamikazes que você vai me dar razão. Sim, eu falo sempre as mesmas frases, mostrando, assim, que aprendi alguma coisa com o sexo oposto.
Falo as mesmas frases para os mais diferentes caras. E a reação é sempre muito parecida: o sujeito vira praticamente um maratonista. Corre trocentos quilômetros e depois desaparece do mapa. Nem no Google eu o encontro mais.
As tais frases não expressam, necessariamente, o que sinto ou o que, de verdade, eu gostaria de dizer. É uma espécie de teste meio sádico de minha parte. Eles somem e eu dou risada. E me livro de um bobão emocionalmente imaturo. Que frases são essas que produzem efeito tão devastador? Alguns exemplos são “A gente combina pra caramba”, “Minha mãe vai adorar te conhecer” ou “Lá é lindo. No feriado da semana que vem a gente podia ir”. Muitas vezes tenho certeza de que o cara (que é até gente boa e tem um papo legal) e eu somos totalmente diferentes e também jamais teria coragem de apresentar um “Zé-Ninguém-em-potencial-na-minha-vida-amorosa” para minha família.
Mas eles sempre acreditam nisso e metem o pé. Quando vejo que a figura não me liga há três dias, constato, numa felicidade amarga, porém esnobe, que eu estava certíssima. O cara não era nada daquilo que falava. Sinto um misto de alívio e preguiça, pois sei que vou ter de começar do zero com outro. E eu morro de preguiça de conhecer alguém, e contar as mesmas coisas sobre mim, e esconder as mesmas coisas sobre mim, e explicar que aquela não é minha prima de verdade, que a gente é amiga há muitos anos e por isso se considera prima e... nossa! Quanta trabalheira para, depois da 1ª ou 2ª frase “Ou dá ou desce” o cara odiar o dia que me conheceu.
Gostaria muito de conseguir mudar esse meu comportamento, mas é mais forte do que eu - é um vício, eu diria. A sensação de constatar que eu estava certa, que ele não merecia ouvir coisas tão íntimas como “passei a tarde toda pensando em você” parece uma medalha. Acertei de novo: o alvo era a maior furada! Mas aprendi a rir disso também. Tem uns que fingem não ter ouvido aquilo e insistem em continuar na história. Aí eu vejo que ele é mais vivido, deve pensar “vou empurrar com a barriga”. Já cheguei a pensar que esses, que não desistiam da 1ª bateria de testes, eram mais maduros ou, quem sabe, estão mesmo a fim. Deve ser meu lado pisciano insistindo em dar as caras e me fazendo ter uns surtos românticos. A 2ª bateria de testes consiste em dizer “você prefere menino ou menina? Eu sempre quis ser mãe de menina”, “na minha família tem muitas pessoas de olhos azuis. Quem sabe nosso filhinho também não terá?” ou “deixa a chave da sua casa comigo?”. Mesmo sendo eu a protagonista e, portanto, a que acaba ouvindo "qualquer hora a gente se vê", dou risada.
O que me deixa pau da vida é homem que já encarou um monte de mulher carente e pegou medo de compromisso. Esses são terríveis, porque eu falo "tô com saudade" e o cara entende "eu quero casar com você”. Falo pra ele passar lá em casa e ele entende que é pra pedir a minha mão em casamento aos meus pais, que nem moram aqui. Muitas vezes, quem está a fim de meter o pé sou eu mesma, e uso essas granadas faladas só pra ter a certeza de que ele nunca mais vai me ligar ou me atender. E que vai me bloquear no Whatsapp. É o jeito que encontrei de me proteger de homem medroso ou machista. Porque eu acho que um sujeito que perde o interesse só porque sabe que ali a partida já está ganha é um machista com cérebro de ervilha. E também acho que o cara que treme de pavor por saber que eu estou ficando a fim dele é um medroso. “Ficar a fim” é ficar a fim de sair, de dormir junto, de sair pra jantar. Não é ficar a fim de escolher os padrinhos ou a igreja. Medroso ou machista, não importa, no fundo ele é um pretensioso. É muita pretensão achar que quero ter um filho dele só porque ele me despertou um sentimentozinho à toa. É um descaramento achar que tudo bem dormir na minha cama, fumar no meu quarto, mas andar de mãos dadas na orla requer mais intimidade. Vai se catar. Como funciona a mente de uma criatura assim?
Como ele pode me enxergar tão assustadora só porque falei que lembrei dele ontem à tarde? Caramba! É tão difícil sacar que eu também tenho vários medos, e o de me envolver demais é o maior deles? Será que ele não é inteligente o bastante pra sacar que mulher também tem medo de assumir compromisso? Acho uma sacanagem me incluir na lista daquelas que querem casar a todo custo: eu já casei uma vez, agora eu quero é amar e ser amada. E ser feliz, claro.
Acho uma injustiça me ver como uma louca de “mais de 30”, cujo relógio biológico implora por um filho: eu não quero filho, cacete! Não percebeu? E também não adianta você me perguntar o que eu quero. Não sei, droga!
Quem sabe um dia eu aprendo a conviver bem com a rotina? Quem sabe um dia eu não pare de estragar tudo? Ou, quem sabe, existe mesmo um carinha gostoso, gente boa e que também sinta saudade de mim sem pensar em casamento, só em ser feliz?
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