quarta-feira, 3 de julho de 2013

SOBRE FINGIMENTOS E MACHISMOS

Amiga,

tenho imenso respeito por você, mas fiquei meio chocada com aquele seu papo de ontem. Quanto machismo, menina moderna e carioca! Jura que você acredita que toda mulher tem de se fazer de frágil e dependente para manter um homem ao lado? Você acha fácil deixar de ter opinião própria e jogar as responsabilidades na mão dele?
Dessa vez eu não vou seguir seu conselho. Imagine você, logo eu que vivo te perguntando as coisas! Mas desta vez não vai dar. Pra mim, cada pessoa tem um dom diferente: umas gostam de matemática, outras adoram trabalhar com vendas, outras preferem trabalhar sozinhas. Umas optam por viver sob as asas dos pais, outras querem ganhar o mundo. Vovô Gouvêa dizia sempre: existe muita qualidade de gente por aí.
Ouvindo você defender com tanto afinco sua vida de esposa-mãe-dona de casa, percebi que seus conselhos são muito bons, mas para quem pretende ter filhos e viver da mesada do marido. Não é meu caso, já que tenho carteira assinada e diploma.
Ser esposa exemplar ou ter uma profissão não é mérito e nem demérito, é apenas questão de escolhas. E há de se respeitá-las, pois toda escolha demanda em consequências e cobra um preço. Você sabe disso. Eu também pago um preço por não ter sido uma esposa mais dedicada. É que aquilo não era pra mim e não consegui fingir mais do que 3 dias. Por mais que eu quisesse tentar, não dava pra esconder minhas frustrações. Eu sempre fui assim, minhas infelicidades sempre foram sardas em minha pele branca.
Ontem, mesmo que eu não falasse nada, você perceberia minha fisionomia de horror enquanto você provava, quase cientificamente, que o homem gosta de mulher submissa e fútil. Mulher que pensa, segundo sua teoria, dá trabalho demais e assusta os homens.
Amiga, tive uma vontade louca de te matar. Ou de me matar, porque naquela hora tive certeza de que vou morrer sem nunca mais ouvir um homem dizer que me ama.
Em relação àquele comentário sobre mim, tenho uma correção a fazer: não preciso fazer de conta, deixar o homem achar que sou frágil. Sabe por quê? Porque sou mesmo a pessoa mais frágil do mundo. E se você fosse um dos homens com quem me relacionei, veria que isso assusta muito mais do a tendência a ser indepedente que já nasceu comigo. Você ficaria espantada em saber como minhas fragilidades e carências são infinitas. Curiosamente elas não me fazem acreditar que minha felicidade está na mão do outro.
Não dá pra julgar nossas escolhas ou objetivos, por isso me sinto obrigada a repetir TENHO IMENSO RESPEITO POR VOCÊ. Mesmo estando ainda meio atordoada por ver tanto machismo no seu estilo de vida, que eu considerava o melhor way of life do mundo.
Nunca, nem naquele momento extremamente delicado que passei uns 5 anos atrás, me envolvi com um cara só para falar "o meu namorado". Não sei se isso é graças ao meu medo de homens machistas ou à terapia. Só sei que sempre evitei homens que preferiam meus peitos às minhas conversas. Claro que adoro que meu homem me ache gostosa, mas ele também tem que me admirar. Não viveria bem com um cara que pensasse que sou tão fragilzinha a ponto de não saber tomar decisões. Odeio quem me subestima.
Fico curiosa: você vive numa boa assim? Não lhe parece meio constrangedor saber que seu marido não confia no seu intelecto? E, mais importante, não rola uma dose de culpa por ser mais um dos ítens com que ele precisa se preocupar?
Eu tenho um grande medo de ser um motivo a mais de preocupação para meu companheiro. Talvez fale sobre isso na terapia hoje à noite.
Outra correção a meu respeito: não estou por aí beijando várias bocas procurando o cara certo. Estou, sim, disponível para viver uma paixão. Acredite: eu procuro um grande amor. Marido já tive.

1 beijo imenso da sua amiga,

3 comentários:

  1. Aline, seu texto de hoje me lembrou a peça: Não sou feliz, mas tenho marido. Que retrata exatamente isso, a mulher que acha que a satisfação está no casamento, idependente se talvez ela fosse mais feliz solteira.

    Bjs, Ju.

    ResponderExcluir
  2. Aline, que foda isso. Quem escreveu? Vc?
    Faça uma interpretação e filme. Vai ficar lindo.
    Produza um vídeo com um copo na mão e um cigarro na outra.
    Amei.
    Eu encontrei o meu amor. Nunca precisei de marido.
    Beijos linda e parabéns viu?! Ficou lindo.

    ResponderExcluir
  3. Sim, o texto é meu. É uma espécie de "carta a minha grande amiga".
    Sua sugestão me remeteu à imagem de Clarice Lispector, numa de suas entrevistas que está disponível no You Tube. Estou anos luz da mestra Clarice, tenho até um pouco de medo dela, aquela grande mulher que me desestrutura até mesmo com uma frase.
    Obrigada pelo elogio e que bom que seu amor não tem um "título", um "cargo". O meu grande amor acabou quando demos nome a ele: noivo e noiva; marido e mulher. Éramos felizes pra cacete na época em que éramos Aline e Cláudio. Cada um na sua e com o elo que só os amores verdadeiros criam.
    Bjs inspirados de quem está começando a curtir o início de um amor, uma paixão ou sei lá o que. A única certeza é que renderá textos por aqui.

    ResponderExcluir

Gostou? Comenta aí!