terça-feira, 15 de janeiro de 2013

SOBRE EXIGÊNCIAS, PREGUIÇAS E O QUE NÃO SEI FAZER.


Li uma crônica da Martha Medeiros sobre o livro do Francisco Bosco, Banalogias. Entre outros comentários, um me chamou atenção. No livro, o filho do João Bosco fala de como uma dança pode perder toda a leveza e o prazer por causa das exigências: o cavalheiro tem de conduzir a dama, ambos tem de pensar no próximo passo e estar atentos ao ritmo. Caramba! É muita coisa pra pensar enquanto se quer só se divertir.
Eu, que sou a falta de ritmo em pessoa, sempre me recusei a fazer aulas de dança. Adoro dançar, embora não saiba fazê-lo. Eu mexo o corpo, sinto o ritmo da música, e pra mim isto é dançar. Se não com o corpo, pelo menos com a alma, que é onde a música me toca. Danem-se minhas saídas do ritmo ou a falta de um passo bonito. Dançar me faz sentir livre e vamos combinar que não dá pra ser livre pensando se a coreografia está certa, se acertei o passo, se quem me olha tá achando bonito.
Já perdemos tanto de nossa espontaneidade no dia a dia, será que não dá pra esquecer regras na hora de dançar? Bem, eu esqueço (de propósito) regras a toda hora. E isso me dá um prazer danado. Claro que não sou nenhuma irresponsável que avança o sinal vermelho ou que fura fila. Isso não é deixar as regras de lado, é ser educado, gentil. Depois da liberdade, uma das coisas que mais gosto é de gentilezas. Mas como tava falando, adoro esquecer regras, principalmente aquelas que me fazem parecer ser outra pessoa. Não gosto quando uma pessoa se contrai tanto que eu acabo pensando que ela é de um jeito tão diferente do que é.
Eu sou o avesso de um monte de coisa e juro que não é de propósito. Talvez seja até por preguiça. Tenho preguiça de ser a melhor em tudo, tenho preguiça de ser organizadinha, tenho preguiça de ser intelectual. Tenho horror de pessoas boas em tudo, daquelas que se sentavam na 1ª carteira da classe, que tiravam 10 em todas as matérias e nunca esqueciam o material em casa. Pra dar uma noção de como não fui uma aluna aplicada, tinha uma época que eu não tinha nem mochila: guardava meu material na mochila do meu primo. Lápis eu nunca tive mesmo, aliás, nem lápis, nem borracha e quase nunca caneta. Pedia emprestado e juro que todos os dias ouvia um sermão de um ou outro colega "A Aline nunca tem nada". E olha que meu pai tinha papelaria, hein? Eu tinha tudo, mas deixava em casa. Por quê? Porque eu escrevia pra caramba antes de dormir. Escrevia que nem escrevo aqui, só que na época era no caderno. Aí, na manhã seguinte, esquecia de juntar o material.
Eu ria quando via aquelas meninas com estojos cheios de lapiseiras, canetas coloridas, borrachas perfumadas, réguas, liquid paper. Gente, quando escrevia algo errado eu riscava a palavra. Liquid paper era o fim da picada, atestado de organização máxima, daquela que lá pelos 40 anos vira TOC.
Sou preguiçosa e desorganizada para aprender a dançar, para aprender a cozinhar pratos especiais e muito mais para seguir modismos e fazer o que dizem que é fashion. Das imposições de fora, a única que me contaminou foi a mania de querer ser magra. As outras não tem a menor chance comigo. Sabe por quê? Porque eu gosto de desperdiçar tempo livre, gosto de não ler o livro que é Best seller , gosto até de não saber dançar como dizem que é o certo. Porque nem sempre o certo faz bem, muitas vezes é o errado que dá mais prazer.

2 comentários:

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  2. Nossa fiquei encantada com tudo que escreveu, me identifique!! Parabéns , é bem isso msm!

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