Dei uma passada no analista, que também é psiquiatra e me dá a receitinha branca do antideprê e a azul, do rivotril.
Papo vai, papo vem, tomei coragem e falei: Dr., fiquei mal estes dias. E danei a falar da onda que me sufocou só porque eu desisti de brincar de ser feliz ao lado do cara que escolhi pra ser meu príncipe.
Geralmente, não falo exatamente o que me deixou triste, o que tá me afligindo, tento ser superficial, como quase tudo (e todos) por aí. É que falar da dor faz a maldita aumentar. Eu falo e fico pensando nas palavras e elas saem cortando o resto do coração que ainda tá intacto. Ou quase.
Mas já que comecei, continuei e falei tudo: fiquei mal pra cacete, até chorei. Era feriado e o mundo estava comemorando os dias de folga, só eu que fiquei em casa, nem telefone atendi. Tudo por causa dele e dessa mania de me apaixonar. E quanto mais eu pensava em como estava triste, deprimida e pedindo comida por telefone, pra não ter que encarar a realidade lá fora, mais eu ficava puta comigo mesma. No início tentei aquele blablablá: olhar tudo o que eu tenho, pensar em quem não tem nada, olhar as vítimas da enchente e dar graças a Deus por morar no 8o. andar... De vez em quando, isso melhora o astral. Mas desta não rolou. Além de deprimida eu me senti mega culpada por ter o armário cheinho de roupa bonita, ver o Cristo da janela e, mesmo assim, estar ali, letárgica, sem vontade nem de ver novela.
Falei tudo pro Doutor.
Falei que senti vontade de ter morrido no acidente, de não ter voltado da Europa e que tudo perdeu o sentido.
Ele só me olhava, balançava a cabeça de vez em quando e eu também, de vez em quando, perguntava: tá prestando atenção? Então para de fazer cara de quem não tá nem aí. Sofri pra cacete e você é meu médico, tem a obrigação de me ouvir e aumentar a dose do remédio pra eu dormir mais e acordar feliz.
Como é que é? Não vai aumentar? Você não sabe o que é perder um amor, sacar que ele não tá nem aí pra você. Aposto que nunca tomou um fora. Tomou nada. E homem liga pra isso? Homem dá o fora primeiro, só pra ter o gosto de ver a gente sofrer.
Anda, me dá logo essa receita que eu vou embora. Tô perdendo meu tempo. Ainda bem que o plano de saúde reembolsa o valor integral da consulta. Era só o que faltava: eu ter que pagar pra ver você nem ligando pros meus problemas. Não tô fazendo drama. Tô é sofrendo. E para de falar assim, tá parecendo um ex-namorado que dizia que eu sofro mais a dor do que o problema. Eu sofro porque dói. Eu chorei porque doeu. Não consigo ser forte o tempo todo, e por isso você tá aí: pra me ajudar. Mas não tá ajudando e ainda tá fazendo pouco caso.
Se ele não gostava de mim, por que não falou? Eu sei que ele nunca disse que gostava, mas pensei que era coisa de homem, essa babaquice de não querer demonstrar o sentimento e tal. Eu? Eu também não falei que gostava. Só uma vez. E ele fingiu que não escutou.
Tá louco? Claro que ele não sabe que eu tô aqui, ainda mais falando dele. Se ele já percebia que eu era meio maluca, saber que tenho um psiquiatra ia ser a comprovação.
Não! Nunca falei que vinha aqui. Dizia que era dermatologista, ginecologista. Deus me livre deixar ele saber que eu tomo antidepressivo. Ele era meu príncipe, eu tinha que ser a princesa dele. E onde já se viu princesa doida?
Por que eu não escrevi o que tava sentindo? Porque não rola esse tipo de assunto, sei lá, é muito pesado. O pessoal que me lê entra lá no blog pra rir das coisas engraçadas que eu escrevo e não pra ver coisa sofrida. Você tem cada uma... Quem é que vai ser fã de doida, que se tranca em casa por dor de cotovelo, que toma rivotril e vai pro psiquiatra?
Não! Eu escrevo coisa legal de ler, pra descontrair. Sobre o que eu escrevo? Sobre as bobeiras que me acontecem. Nada especial. Falo de como é difícil convencer os outros que eu tô bem sem namorado, falo de como é uma merda morar sozinha e não saber trocar uma torneira, essas coisas de mulher moderna, que vive se fodendo pra dar conta de tudo. Só isso.
Não, eu não falo da minha vida. Só um pouco. Claro que já dei bandeira e falei mais do que devia, mas nem a pau vou dar na pinta assim. Eles pensam que sou engraçada e não louca.
Quer saber? Vou embora porque você tá mudando o assunto, não quer aumentar a dose do remédio e vou acabar perdendo a novela. E também porque você é homem e nunca vai entender o que é isso que eu tô sentindo. Tô sentindo, não: senti. Senti! Já passou.
É, faz mais de um mês que aconteceu isso. Ai, só de lembrar que perdi um final de semana prolongado por causa disso... ai, que ódio.
Claro que eu botei a fila pra andar, não sou freira, né? A vida é assim, a gente perde aqui, ganha ali. Odeio quando você diz "o tempo cura tudo". Não cura. Tem noção do tempo que perdi sofrendo por ele? Ele, o ... o... Você sabe quem.
Doutor, só uma coisa, aqui entre nós: eu sou normal? Responde, cacete! Para de rir assim. Tô perguntando porque, de vez em quando, eu acho que sou tudo, menos normal. Uma criatura normal não faz um carnaval desses que eu fiz só por causa de um pé na bunda, né? Mas eu, eu, cara, eu transformo tudo numa novela mexicana. É por isso que te perguntei: sou normal?
Eu? Eu sei lá o que é ser normal. Certamente é algo beeeem diferente do que eu sou.
Como é que é? Ser normal é ser assim que nem eu?
Caramba, como tem gente doida por aí...
"De médico e louco todo mundo tem um pouco"... Em alguns casos não só um pouco!
ResponderExcluirEu acho o papel de princesa chato, você não acha? Às vezes é melhor ser a ovelha negra, pois ela toma o que quiser, onde quiser e quando quiser e ninguém tem nada a ver com isso!
Beijos, Ju.
Aline, desculpa, mas teu post me deixou morrendo de rir.
ResponderExcluirTem um texto da Mercedes, do livro Divã da Martha Medeiros que traduz bem isso:
"Não chego a temer a loucura. No fundo a gente sabe que ninguém é 100% normal. Eu tenho medo é da lucidez, desta busca desenfreada pela verdade, pelas respostas. As vezes me esgoto. Quando estou quase me acostumando com uma versão de mim, surge outra.. cheia de enigmas e vou atrás dela para conhecê-la. Tem gente que elege uma única versão de si mesmo e nunca mais olha para dentro. Acho que esses sim são meio lunáticos. Eu não tenho medo de perder o bom senso. Tenho medo dessa eterna vigilância interior, do medo de falhar, de não saber me enfrentar. Mas eu me conheço um pouco e sei que posso me surpreender a qualquer momento e é isso que me mantém viva"
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Loucura ainda é uma palavra que nos assusta, mas as vezes ela pode ser benéfica se resolvermos tirar uma hora só para nós e jogar tudo pro alto e foda-se o resto!Segundo Albert Aisten, "Ïnsanidade é fazer sempre as mesmas coisas , esperando resultados diferentes . Somos todos loucos, a loucura só depende do quanto você é bom em ser normal!
Um grande abraço meu
Eu sou fã sim e a cada dia mais, principalmente depois isso... pq descubro que não estou sozinha nesse mundo, existem outras iguais a mim... e vc é uma delas!
ResponderExcluirEu odeio qdo fico sofrendo por esses idiotas e perdendo meu tempo (como dizem meus amigos), mas quem é que convence meu coração disso? Aff, ninguém merece!
Adorei o post, ainda bem que já passou, né!?
Beijão
Bela
Aline ,morri de rir ..
ResponderExcluirEu detesto analistas ,porque vc fica lá flando ,falando e eles não falam nada ,,da um ódio ..rs por isso não faço mais;
Beijão pra vc ..to sempre por aqui .só que as vezes não deixo comentarios
Eu fiz terapia um tantada de vezes. Uma vez era para não dormir no mesmo quarto da mamae. Até hoje tenho uma cama perto da mamae e minhas roupas no oposto da casa. Mas não saí do quarto. Cheguei aqui e Andrea disse. Cada uma vai dormir num quarto. Pronto! Estou separada da mamae. Sem terapeuta.
ResponderExcluirE aprender a cozinhar? Também fiz. O terapeuta me ditou a receita que guardo com muito carinho, como uma reliquia.
Aprendi a fazer comida? Não.
Como pão com presunto e mussarela se estiver sozinha e não vou ficar com fome.
Com carinho Monica
Será que o terapeuta vai lhe dizer para fazer? E deu o remedio todinho?
Menina, de onde vc tirou a idéia de que não é normal? Tudo o que vc disse nesse post, todas nós mulheres já passamos, estamos passando ou vamos passar um dia. VOCÊ É MULHER. Nós valorizamos demais o sentimento sim. Levar um pé na bunda DÓI PRA CARAMBA! Se eu já sofri muito tempo por alguém? Claro que já. E se vc pensa que mais de um mês é muito, deixa eu te contar quanto tempo levei pra superar o meu primeio pé na bunda: 3 ANOS.
ResponderExcluirÉ. 3 anos me sentindo culpada, me punindo por ter me apaixonado pelo cara errado, e não me perdoando por não ter sido boa o suficiente pra ele. O tempo passou. Levei mais uns dois pés na bunda que duraram 2 anos e 3 meses e outro 9 meses. Das outras vezes não levei pé na bunda, abandonei o barco e toquei minha vida.
E é assim até hoje. Se eu não sofro? Sofro pra caramba. Mas aí começo a projetar mentalmente como teria sido se de repente eu descobrisse os malditos defeitos tarde demais. Pensa: casada, ou até com filhos, pagando as contas juntos ou comprar carro e imóvel e depois: PÁ! Como se livrar de um estorvo tendo tudo isso em jogo?
Eu sei, eu sei que analiso demais um cara antes de começar um relacionamento. Até mesmo quando estou apaixonada, seguro a onda, finjo indiferença e sondo o terreno pra ver se vale a pena pelo menos começar. Fazer análise é bom mais pra gente desabafar mesmo. Pq solução de verdade só a gente vai ter. Ninguém mais. Mas olha, vc já entrou na melhor fase do rompimento: a raiva de ter perdido tempo. Quando a gente começa a ter raiva do tempo que perdeu, ou que ainda está perdendo, as forças vão voltando.
Continua...
Continuação...
ResponderExcluirMesmo que seja de pouquinho em pouquinho. Mas volta. E quer saber mais? Se um dia vc encontrar com esse cara na rua, vc troca o nome dele ou pede desculpas por não ter o reconhecido, sabe? O importante é vc se sentir bem. Cada vez que vc tiver perto de uma recaída (tomara que nunca tenha, mas se for o caso), lembre de tudo aquilo que vc estaria perdendo se ele ainda estivesse com vc. Pense em cada uma das vezes que vc quis algo, mas não fez/comprou por causa da opinião dele. Se vc ficou se perguntando o pq de ter reprimido suas emoções ou pq deixou de dizer algumas coisas pra ele, é pq vc não se sentia segura o suficiente pra confiar nele. Essa já é uma das maiores provas de que não havia confiança.
Agora, como eu disse lá no Mulherão, quem está no cavalo é vc. E se algum homem estiver disposto a seguir a jornada da vida ao seu lado, ele não vai hesitar em subir no seu cavalo. Não vai hesitar em te defender quando necessário. Não vai assistir futebol quando notar algo errado com vc. Quem gosta, aprende sobre cada detalhe do outro. E se ele não estiver entendo os seus sinais é pq está faltando algo. Se ele não gostar, fica na próxima parada. E se não for ele, é pq o que vai seguir ainda está por aí, esperando aquela que vai fazê-lo feliz passar. Bj e bola pra frente.
Ai ai, se tu soubesse as que eu andei aprontando tu ia te achar a pessoa mais normal da face da terra... Princesa doida é pouco pra mim, tá mais pra Branca de Neve neurótica e lunática... beijão
ResponderExcluirVou te falar que ser princesa é um porre.
ResponderExcluirEsse lance de torre, tom pastel, vestido rodado, passinho de baile, só bitola...
O lance é ser a vilã. Pelo menos são mais divertidas.
Se elas tomam rivotril tbm eu não sei...mas se vc reparar elas sempre têm um mucamo ao lado.
Adoro as malvadas.
Aline
ResponderExcluirEu tinha um terapeuta. Eu o adorava. Mas ele não dizia nada. Só me escutava e muitas vezes dormiu.
Eu peguei um barbante coloquei na mão dele e puchei. De brincadeira, mas ele ficou tão bravo que pensei que ia me dar alta.
Mas não deu.
Só disse que eu não me incomodasse que ele ia fechar os olhos algumas vezes.
Eu fiquei com tanto odio!
com carinho Monica
Aline, estou começando a frequentar o blog hoje!
ResponderExcluirO texto é maravilhoso e traz a realidade da maioria de nós.
Minha dúvida é: ainda existe gente normal no mundo? Juro que prefiro não conhecer nenhuma, pois acredito que essa categoria deva estar próxima da categoria "gente mooooooorna", e não me agrada muito!!! kkk...
Cheiro!
Aline,
ResponderExcluirOlha, eu amei o texto!
Me identifiquei tanto!
Justamente hoje, euzinha aqui que estou no mesmo momento. Hj, Terça, dia 04/04/10 eu fui primeiro ao "PS"icólogo, depois, tomei um café numa cafeteria charmosérrima, li um pouco do meu livro, o manual para trocar o "Pedrosa" pelo "Poderosa"! Depois, fui na "PS"quiatra e saí de lá com minha receitinha blue!
Cara, eu tb já falei que ia ao gionecologista, ao dermatoligista...
Sempre um "ista" nunca um "PSC"!
Doido é quem tenta (como eu já fiz) enfrentar a seco as fases complicadas da vida!
Daqui a pouco é tô é no chapanhe de novo!
Quem sabe depois, que eu achar meu eixo,
a gente não não sai pra ver um sapos e disseca-los! Pq de principe eu tô correndo!!
kkkkkkkkkk
P A R A B E N S !
BJS
Gi
Querida "doidinha" Aline,
ResponderExcluirO livro é machista sim, e o que me dói, e algumas vezes me envergonha, me faz rir e chorar ora simultaneamente ora alternadamente...
KKKKKKKKKKK
Tá vendo?! Preciso de remédio mesmo!
da forma errônea que conduzi minha história,das rédeas que perdi da minha vida!
PQP!!!!!!!!!!
O livro é extamente a constatação dos fatos...
De eu ter me tornado tão "boazinha", no sentido da 'submissão' machista, da 'autoridade' machista, do 'dominio' machista...
Sacou?
Meu fascinio pelo livro não é absoluta concordância com tudo, e sim absoluta constatação dos meus erros!
Phoda!!!
Mas nunca é tarde né?!
Eu nem tenho celulite!
kkkkkkkkk
Ainda!!!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
BJS no coração
Gi "doidinha" Gisele