Meu presente de Natal
Eu acho o Natal meio chato. Na verdade, acho um saco. Só é um pouquinho legal quando a gente faz amigo-oculto lá em casa. Aí, sim eu gosto.
Só que ninguém gosta de tirar meu nome. Mas, pelo que dizem, não é nada pessoal, não: é que, segundo a lenda, eu tenho tudo e é muito difícil escolher um presente pra mim.
Quando me perguntam o que quero ganhar, respondo "me dá qualquer coisa". Mas a verdade é que sou mesmo chata e nem sempre gosto de ganhar ''qualquer coisa". Bem, sou chata mas não sou insensível,né? O "qualquer coisa" que eu quero dizer é um presente escolhido com carinho.Pra mim, qualquer presente dado com carinho é o melhor do mundo. Mas a verdade é que todo ano a espinha da galera se arrepia só de pensar que pode tirar meu nome no amigo-oculto.
Fazia tanto tempo que eu não ganhava um presente, digo um presente especial. Um presente cuja vontade de me presentear fosse muito maior do que o valor dele em si.
Este ano eu ganhei. E foi o presente mais bonito do mundo. Do jeito que eu adoro: dado com carinho e cheio de ritual.
Ritual de amigo-oculto é aquele pra lá de batido: a pessoa começa a falar sobre a pessoa sorteada... "O meu amigo-oculto é isso, é aquilo...".
Foi assim que ganhei meu presente. O melhor do mundo.
"Meu amigo oculto é a pessoa mais importante da minha vida. Meu amigo oculto é o amor da minha vida: a minha filha Aline". Com essas palavras, meu pai me entregou uma caixa com um sabonete líquido e um creme hidratante. Só que eu nem olhei direito para a caixa. Eu só consegui sentir a eternidade daquele momento. Logo eu, que quero que o tempo passe logo porque acho que tudo é um saco, e o minuto seguinte será melhor e menos tedioso. Naqueles minutos eternos, achei o Natal a data mais bonita do mundo. Naqueles minutinhos o mundo ficou mais leve, mais colorido.
Se ficou mesmo, não sei. Deve ter ficado, mas pra falar a verdade, não prestei muita atenção. Eu só consegui pensar que aquele era o melhor presente do mundo. O mais precioso que eu ganhei na vida inteira.
A tal lenda não é lenda: eu realmente tenho tudo.
(Este texto foi publicado originalmente em dezembro de 2008. Ontem foi o Natal de 2015 e foi o 1o Natal sem ele, meu pai, meu grande amor. Se eu já não gostava de Natais, agora então...
Mas este ano fiz questão de estar junto de pessoas queridas. Falei "Feliz Natal" como havia muito não falava, falei com a alma, sabe? Fui para a ceia da "Grande Família", ou melhor, para a casa do Osmar, sogro da minha irmã.
É uma família especial, daquelas que a gente tem certeza de que não colocou no nosso caminho a toa. E eu realmente não sei o que teria sido de mim, da minha mãe e da minha irmã sem eles durante nosso "Tsunami emocional". Finalmente consegui abraçar cada um deles e falar o "obrigada" que eu tanto queria, pelo tanto que eles fizeram pela Gi, pelas meninas, pelo Érick, pela minha mãe e também por mim. Osmar, tia Léia e seu exército, seus gladiadores (filhos, noras, genro, netos e agregados), que tanto lutaram pela vida da Gi e do Érick; que amenizaram minha dor; que nos acolheram.
Perder meu pai me transformou de tal forma que jamais serei inteira novamente. Mas essa transformação se deu tanto de uma maneira negativa (meu sorriso não será nunca mais completo) quanto de um jeito positivo: nunca, mas nunca mais mesmo verei as coisas sob apenas um ângulo. Sofrer essa dor e estar junto àquela família me fez enxergar que eu não sou nada, que minha vida não vale absolutamente nada, se eu não puder, da maneira que for, ajudar alguém.
Afinal, de Simões, Mattos e louco, felizmente, os bons sempre têm um pouco.).
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