quarta-feira, 29 de maio de 2013

O QUE TE FAZ FELIZ?


Eu não preciso de muitas coisas pra ser feliz. Não que eu seja daquelas criaturas iluminadas que se contentem com "uma casinha, um cachorro, um jardim e um amor pra dormir juntinho". Eu preciso de bem mais do que isso, claro. Mas minhas necessidades são pequenas, poucas, furtivas.

Um final de tarde na Lagoa me faz feliz pra sempre. Um dia sem compromissos, ouvindo "Onde brilhem os olhos seus" é um dia feliz pra mim. Horas conversando com minhas amigas, bebendo um chopinho ou uma coca light me embriaga de tanta felicidade.

Já fui mais exigente. Já desejei conhecer o mundo inteiro, sair todos os sábados à noite, dançar até as pernas doerem. Já quis viver um grande amor, já quis viver para sempre ao lado do meu grande amor. Ai... como eu já quis coisas que me pareciam ser o auge da felicidade.

Hoje gosto de tranquilidade, de um bom livro e, claro, uns beijinhos dados por alguém que saiba me beijar. Sim, porque apesar de mais modesta, não fiquei menos exigente: beijo de quem não sabe beijar do jeito que eu gosto não entra na lista daquilo que me faz feliz.

Quando eu queria tudo, geralmente conseguia. Mas continuava com aquela sensação de que faltava alguma coisa: faltava o sol mais quente no final de semana na praia. Faltava uma lareira no chalé na serra. Faltava o vinho pra combinar com aquele prato.

Todas essas faltas me faziam sentir um vazio, um vazio tão grande que não me deixava curtir todo o resto.

Tive um namorado que me amava tanto e fazia coisinhas tão fofas pra me agradar: bilhetinhos escondidos na minha bolsa. Chocolate ao leite na mesa do escritório. Eram tantos os agrados, os mimos que eu até me sentia feliz. Mas eu tinha sempre a impressão de que faltava alguma coisa. Então, aquele amor todo que ele tinha por mim acabava me deixando meio triste.

Várias vezes quando saía de férias, eu me pegava pensando: mas é só isso? Era uma parada incompreensível, porque eu passava meses escolhendo o roteiro da viagem, os programas que não podia perder de jeito nenhum, levava as roupas mais transadas do meu já transado guarda-roupa. Mas a pergunta insatisfeita sempre me pegava de surpresa: mas é só isso?

Quando recebi o diploma da Cultura Inglesa, um dos grandes objetivos que almejei conseguir antes dos 25 anos (eu tenho essa mania de traçar metas "antes de tal coisa". Me formei na Cultura aos 22), pensei "o que tem demais nisso?". Minhas conquistas pareciam aquela música do Raul Seixas : mas foi tão fácil conseguir e eu me pergunto e agora e daí?

Olha, não pense que eu era aquela eterna insatisfeita que não vê graça em nada. Eu só queria mais. Mais do que aquilo, mais do que a vitória do momento.

Sei lá como, acho que foi aos poucos, entendi que vitórias não são necessariamente passaporte para a felicidade. E, contraditoriamente, passei a achar o máximo realizar sonhos. Embora seja muito fácil realizar um sonho, me peguei valorizando pra caramba cada uma de minhas conquistas.

Ainda tenho sonhos pra caramba pra realizar, mas saí daquela paranoia de que só seria feliz quando todos eles estivessem ali, concretinhos, palpáveis. Passei a admirar o processo que envolve a realização de um grande desejo.

Embora não seja uma pessoa de alma zen, hoje sou muito mais calma. Nossa! Isso foi uma grande mentira: calma, eu? Não engano ninguém,né? Mas estou menos ansiosa em busca dos meus objetivos. Até porque não faço a menor ideia do que eu quero, não sei qual caminho quero seguir.

E, ironia das ironias, essa minha minha falta de rota me faz ver o mundo de um jeito mais gostoso. Mais simples.

Se antes eu achava que faltava algo em tudo o que fazia, hoje vejo muito mais graça e alegria no dia a dia: terminar uma aula de corrida me faz feliz. Fazer toda minha série de musculação me faz feliz. E é uma felicidade interna, daquelas que quase me completam o vazio que nasceu comigo.

Tenho umas felicidades engraçadas, quase esquisitas. Sou a pessoa mais feliz do mundo quando a Liv vem se aconchegando no meu colo e fala "coinho da Dida é bom...". Ou então quando a Lara me acorda cedo, deita ao meu lado e fala "acorda Dinda, acorda. Faz meu Toddy". Bem, com não virei santa, invariavelmente quando ela me acorda eu to mal humorada e falo "sai daqui". Mas aí ela me olha nos olhos e ... Lá vou eu fazer a mamadeira da afilhada sentindo que nunca vai haver coisa que me faça mais feliz. E enquanto esquento o leite, penso que o vazio que existiu sempre em mim era o espaço certinho para caber a Liv e a Lara.

E assim começo um dia feliz, com o coração preenchido, e com a certeza de não preciso muito mais do que meus livros, meus cds, minhas amigas de verdade e minhas sobrinhas para ser tão verdadeiramente feliz.


PS: Colo de mãe e de pai não entra na lista, afinal, é hour concurs no quesito É DISSO QUE PRECISO PRA SER COMPLETA.